Caravana da Anistia inaugura na UFPR marcos da época da resistência

Marco no prédio histórico na UFPR, local de resistência do movimento estudantil. Foto-Laura Sica

“Na época da resistência não havia liberdade de pensamento. Foram principalmente os estudantes que lutaram para romper essa barreira na década de 60″, lembrou o advogado João Bonifácio Cabral Júnior, que já atuou numa extensa carreira pública. Relembrou alguns fatos marcantes do tempo em que foi líder estudantil, enquanto acadêmico de Direito da PUC/PR: da mobilização de 1968 contra a introdução do ensino pago nas universidades federais e do congresso da União dos Estudantes (UNE) em Ibiúna, São Paulo, quando foram detidos 750 estudantes, grupo do qual ele fazia parte. Ao todo passou mais de um ano no presídio do Ahú, em Curitiba. “A repercussão de fatos como esses na vida das pessoas depende de cada um. Particularmente, superei tudo seguindo minha vida profissional e emocional”, refletiu o advogado.

Junto com ele, cerca de 40 pessoas se reuniram no pátio da Reitoria na tarde de quinta-feira (25) para dar prosseguimento às atividades da Caravana da Anistia. Recebidos e acompanhados pelo reitor Zaki Akel Sobrinho, os participantes saíram em passeata com a finalidade de inaugurarem as placas simbólicas que marcaram o período da resistência em vários pontos do centro da cidade. Saindo da Reitoria, a caravana se direcionou ao Prédio Histórico da UFPR e depois à Boca Maldita. Integraram o grupo representantes da UFPR; da Casa Latino-Americana; da Central Única dos Trabalhadores (CUT); do Diretório Central dos Estudantes (DCE); do Movimento Tortura Nunca Mais; do Sindicato dos Trabalhadores de Educação Pública do Paraná (APP Sindicato) e de outras entidades de classe.

Histórias ─ O médico Gerson Zafalon também falou do passado. Foi presidente do Diretório Acadêmico Nilo Cairo entre os anos de 1967 e 1968. Preso em 1970, passou mais de um ano na prisão. “Nada acontece por acaso, em consequência da prisão, aconteceram muitas coisas interessantes e importantes em minha vida. Entre elas, fui testemunha e protagonista de uma história de reencontro e perdão. Dos momentos de alegria, lembro que no dia 29 de março de 1970, fiquei noivo na prisão”, contou o médico.

Mas o professor Valdo Cavallet do Setor Litoral não teve uma vivência plena daqueles dias. Era estudante em 1975, quando a repressão já tinha praticamente acabado: “ainda nos sentíamos ameaçados. No entanto, o nosso movimento foi de reconstrução do que restou daquele tempo”, recordou o professor.

Comissão ─ A Comissão da Anistia já recebeu 70 mil processos de todo o país, destes, 60 mil foram analisados e 35 mil já foram deferidos. Destes 35 mil, 15 mil processos receberam reparação econômica e 25 mil ainda não foram julgados por falta de provas, destruição de arquivos e outros fatores. A informação é do assessor do presidente da Comissão da Anistia, Marcelo D. Torelly. A caravana foi criada pela comissão em 2007, com o objetivo de devolver a dignidade das vítimas nos espaços em que esta dignidade foi violada. Em 2008, ocorreu a primeira sessão da comissão, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. Atualmente já são 63 edições do movimento que já percorreu várias capitais e cidades do interior dos estados. “Já foram 1.300 pedidos de anistia julgados pela comissão nos locais em que aconteceram as violações”, acrescentou Marcelo. Mais informações sobre a programação da caravana em Curitiba estão disponíveis no site

Fonte- Sonia Loyola/UFPR

 

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