Após diligência no Rio de Janeiro para acompanhar as investigações sobre a morte do coronel Paulo Malhães, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) chegou à conclusão de que não há elementos suficientes para afastar a hipótese de assassinato relacionado ao passado de torturador do militar. Os senadores também solicitam proteção para a mulher da vítima, Cristina Malhães, e para o caseiro Rogério Pires, preso pela polícia civil fluminense, acusado de envolvimento no crime.
Malhães, de 77 anos, morreu em 24 de abril durante um assalto no sítio onde morava, em Nova Iguaçu. Um mês antes, ele admitiu à Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, ter participado de torturas e ações para desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar — entre eles, o ex-deputado Rubens Paiva.
Ontem os senadores apresentaram na CDH um relatório de 18 páginas com as informações obtidas durante a viagem ao Rio no dia 6. Ana Rita (PT-ES), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e João Capiberibe (PSB-AP) encontraram-se com o caseiro, que negou envolvimento. Na versão da polícia civil, o caseiro confessou roubo seguido de morte.
Segundo o relatório da CDH, a investigação não levou em consideração a vida pregressa da vítima. Os senadores constataram que Pires está assustado: pai de cinco filhos, disse temer pela própria vida e pela vida dos integrantes da família.
Na opinião dos senadores, há muitas dúvidas a serem respondidas, entre elas o motivo pelo qual os criminosos ficaram tanto tempo na casa e por que a polícia militar demorou 11 horas para chegar ao sítio depois de acionada.
O documento não foi votado ontem por falta de quórum e deverá ser analisado no dia 21. Antes, Randolfe quer acrescentar ao texto a responsabilidade do Estado brasileiro sobre a vida de Malhães.
— Esse senhor era a principal testemunha dos crimes ocorridos na ditadura brasileira. Depois do depoimento dele à Comissão Nacional da Verdade, o Estado nada fez para assegurar-lhe a integridade. O coronel não está vivo porque houve negligência do Estado brasileiro — afirmou o senador.
Para Capiberibe, devido à morte do coronel, será difícil a Comissão da Verdade obter outro depoimento relevante:
— Dificilmente uma outra testemunha falará com a mesma desenvoltura do coronel Malhães. Isso praticamente encerra as possibilidades de a comissão avançar, pois ninguém mais vai ousar prestar declarações como o coronel — lamentou.
No último fim de semana, a polícia do Rio de Janeiro recuperou parte das armas roubadas na casa de Malhães, que era colecionador. Duas pessoas foram presas em flagrante. Ontem o laudo da polícia civil apontou infarto como causa da morte, o que, na opinião de Ana Rita, não altera a conclusão do relatório:
— O laudo atesta o infarto, mas o que motivou a ação dos bandidos? Eles ficaram na casa por quase dez horas, a polícia disse que sumiram armas, algumas pastas e computadores — lembrou a presidente da CDH.
Fonte- Jornal do Senado
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