Fragmentos da ditadura: “A lógica da aliança civil-militar no golpe de 1964”

Manifestação em favor da liberdade dos líderes sindicais

Manifestação em favor da liberdade dos líderes sindicais

 

“O golpe de 1964, a despeito de mascarar seu propósito ditatorial, mediante uma intensa agitação e propaganda em torno da manutenção do regime democrático, com o que obteve significativo apoio civil, foi um golpe das elites, das classes mais abastadas, das oligarquias rurais, senhoriais, das elites militares, da classe empresarial. Não se tratou de uma quartelada com apoio civil, mas de uma ação organicamente articulada por civis e militares, que resultou em enorme fortalecimento do poder econômico, social e político do empresariado, dentro e fora das fábricas e na transformação da questão operária em questão “de segurança nacional”.

A evidência de um projeto comum das elites civis e militares não tem, entretanto, prevalecido na análise sobre as causas e significados do golpe de 1964. Desde a segunda metade da década de 1980, há uma elaborada tentativa de ocultar ou reduzir o peso determinante dos interesses das elites civis no movimento de preparação, organização e apoio ao golpe de 1964, bem como na ditadura subsequente.

Assim, subtrai-se de nosso olhar problemas e conflitos que desencadearam o golpe, absolvendo-se de responsabilidade aquelas elites, posteriormente convertidas à democracia. Confere-se, também, desse modo, legitimidade política à nossa transição, encaminhada entre 1978-88, e a um pacto democrático em que os problemas e conflitos, presentes em 1964, foram excluídos da agenda nacional.”

Trecho extraído do II Volume do Relatório Final da CNV, página 61.

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A imprensa na Justiça de Transição: o problema da “cumplicidade civil” nos casos do Brasil e da Argentina – por Rodrigo Lentz

Bacharel em Direito e Advogado, atualmente é mestrando em Ciência Política do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGPOL-UFRGS) e bolsista CAPES. Dedica-se ao estudo das relações entre a justiça transicional e a cultura política, especificamente das intersecções entre o exercício de memória, a mídia de massas e a formação da cultura democrática. Também é membro dos grupos de pesquisa CNPQ Direito à Verdade e à Memória e Justiça de Transição e de Internacionalização do Direito e Justiça de Transição (IDEJUST), sediado no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP).

Bacharel em Direito e Advogado, mestre em Ciência Política do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGPOL-UFRGS), dedica-se ao estudo das relações entre a justiça transicional e a cultura política, especificamente das intersecções entre o exercício de memória, a mídia de massas e a formação da cultura democrática. Também é membro dos grupos de pesquisa CNPQ Direito à Verdade e à Memória e Justiça de Transição e de Internacionalização do Direito e Justiça de Transição (IDEJUST), sediado no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP).

 

“… direcionar efetivamente os esforços justransicionais para os setores civis,em especial a imprensa, representaria uma verdadeira investida na principal base da ditadura: a cultura autoritária das instituições e dos indivíduos.” Rodrigo Lentz.
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Fragmentos da ditadura: “a liquidação da Excelsior ocorreria no mesmo contexto em que outro grupo assumia a liderança no ramo das telecomunicações: a Rede Globo de Televisão”

TV Excelcior

“Fechamento da TV Excelsior, pioneira no país na implantação da televisão a cores e que contava com técnicos e elenco de primeira grandeza no mercado nacional. Seu fechamento foi decorrente de pressões políticas por parte do governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, um dos patrocinadores do golpe civil-militar, que buscava, sem êxito, o apoio da rede à sua futura candidatura.”

 

“Predominou, entretanto, no período ditatorial, a formação de grandes grupos econômicos no Brasil. A própria liquidação do patrimônio de alguns favoreceu, direta ou indiretamente, grupos que tiveram crescimento significativo no período … a liquidação da Excelsior ocorreria no mesmo contexto em que outro grupo assumia a liderança no ramo das telecomunicações: a Rede Globo de Televisão, do empresário Roberto Marinho, ativo apoiador do regime ditatorial. 

 

Entrando no ar pela primeira vez em 26 de abril de 1965, a TV Globo era resultado de um acordo entre Roberto Marinho e a companhia estrangeira Time-Life, firmado em 1962. Entre 1965 e 1966, o grupo Time-Life investiu cerca de 6 milhões de dólares na empresa e, segundo o contrato firmado originariamente, tinha direito a 30% dos lucros da TV Globo, aumentando essa participação para 45% em acordo firmado em 1965.
A Constituição de 1946, vigente em 1962, proibia a participação do capital estrangeiro nos meios de comunicação, o que tornou a operação ilegal, gerando uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em 1966, além de uma investigação do Conselho Nacional de Telecomunicações e a constituição de uma Comissão de Investigações do Ministério da Justiça. Em agosto de 1966, a CPI aprovou o parecer do relator Djalma Marinho (Arena-RN), que concluiu que o acordo Globo/
Time-Life era inconstitucional. Entretanto, em 1967, em razão das boas relações mantidas entre Roberto Marinho e o então ministro do Planejamento, Roberto Campos, com o patrocínio do advogado Luiz Gonzaga do Nascimento Silva, responsável pelos contratos entre o grupo brasileiro e a Time-Life, o procurador-geral da República concluiu que este acordo era legal. Posteriormente, em 1969, Marinho comprou a parte da empresa que pertencia ao grupo estadunidense, originando-se, assim, com o apoio do governo militar, o maior conglomerado do ramo das telecomunicações do Brasil. Não é estranho, portanto, que o noticiário jornalístico da Rede Globo tenha sido sempre favorável ao regime ditatorial.”

 

Trecho extraído do II Volume do Relatório Final da CNV, página 316 e 317.

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O direito e os legados do autoritarismo no Cone Sul: respostas nacionais à Norma Global de Responsabilidade Individual

Marcelo Torelly, 2014

Marcelo Torelly Mestre e doutorando em direito, Universidade de Brasília. Bolsista da Capes. Foi acadêmico visitante na Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador visitante no Institute for Global Law and Policy, Harvard Law School (Estados Unidos), e coordenador de cooperação internacional e de memória histórica da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Autor de “Justiça de Transição e Estado Constitucional de Direito” (Fórum, 2012).

 

 

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O desaparecido mais jovem do Brasil – 45 anos depois, família ainda quer encontrar os restos mortais do estudante

PDF da Capa-r2

Jornalista e sociólogo Renato Dias lança livro “O menino que a ditadura matou” em noite de autógrafos nesta terça-feira, às 18 horas, na Assembleia Legislativa de Goiás; obra conta a história de Marcos Antônio Dias Batista, militante da VAR-Palmares (mesma organização de esquerda da presidente Dilma Rousseff) que desapareceu em maio de 1970, e de sua mãe, Dona Santa, morta em 2006 em um acidente automobilístico quando regressava de audiência com o então vice-presidente e ministro da Defesa José Alencar para tentar saber do paradeiro do filho levado pelos militares; 45 anos depois do desaparecimento, família ainda tenta encontrar os restos mortais do estudante

 

Fonte: Brasil 247

23 DE JUNHO DE 2015

247 – Durante 36 anos, a assistente social aposentada Maria de Campos Baptista (Dona Santa) vasculhou cadeias espalhadas pelo Brasil, recepcionou exilados políticos, dialogou com generais e agentes dos órgãos de informação da ditadura civil e militar de 31 de março de 1964 e, em um ato de desespero, consultou o médium Chico Xavier. Tudo para encontrar o seu filho Marcos Antônio Dias Batista, um estudante do Colégio Lyceu de Goiânia que queria fazer Medicina, que desaparecera, sem deixar vestígios, em maio de 1970, na Capital do Estado. Ele tinha 15 anos de idade. A Justiça Federal lhe deu uma réstia de esperança: determinou que o ministro da Defesa, o então vice-presidente da República, José Alencar, a recebesse em audiência, em Brasília, dia 15 de fevereiro de 2006, e abrisse os arquivos das Forças Armadas com informações sobre o menino. Animada, ao sair do encontro, ela morreu, aos 78 anos de idade, em acidente trágico.

 

Maria de Campos Baptista e Marcos Antonio Dias

Essa é a história que o jornalista e sociólogo Renato Dias conta no livro-reportagem ‘O menino que a ditadura matou – Luta armada, VAR-Palmares e o desespero de uma mãe’ [Junho de 2015], 400 páginas, que será lançado no nesta terça-feira, de 18h às 22h, no Hall de entrada da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. A obra consumiu 10 anos de pesquisas a acervos da repressão política e militar, como os arquivos do Dops de São Paulo e Goiás, do extinto SNI [Serviço Nacional de Informações], criado por Golbery de Couto e Silva, do Centro Edgar Leuenroth, da Unicamp [Campinas, SP]. Mais: dezenas de entrevistas foram realizadas com ex-militantes revolucionários das décadas de 1960 e 1970, companheiros de jornadas democráticas e socialistas de Marcos Chinês, como era chamado no movimento estudantil, em função da identidade com as táticas e estratégias de Mao-Tsé-tung.

O garoto, relata o autor, começou a participar das atividades políticas após a morte do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, no Restaurante Calabouço, Rio de Janeiro, em 28 de março de 1968. Ele estudava à época no Colégio Atheneu Dom Bosco, onde apareceu um diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas [UBES], ligado à organização de esquerda Ação Popular, Euler Ivo Vieira, conclamando para uma manifestação de protestou. Não deu outra. Entusiasmado, acompanhou os estudantes. No ato de protesto morrera, em Goiânia, no centro, um lavador de carros, Ornalino Cândido da Silva. No dia seguinte, a Polícia Militar do Estado de Goiás invadiu a Catedral Metropolitana e atirou em dois estudantes, lá escondidos: Telmo de Faria e Lúcia Jaime. Os incidentes que envolviam os estudantes e a repressão política e militar tiveram ampla cobertura do jornal ‘Cinco de Março’.

Com a decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, redigido por Gama e Silva e anunciado pelo general Arthur da Costa e Silva, da linha dura, com a anuência de Delfim Netto e Jarbas Passarinho, o tempo fica nublado para a oposição em Goiás e no Brasil, informa o autor Renato Dias. Depois de integrar a AP, Marcos Chinês cria a Frente Revolucionária Estudantil [FRE] e ingressa na VAR-Palmares [Vanguarda Armada Revolucionária Palmares], que nasceu em 1969 e protagonizou a mais espetacular ação da luta armada até então no Brasil: o roubo do cofre do ex-governador do Estado de São Paulo Adhemar de Barros, aquele do bordão ‘rouba mas faz’, que encontrava-se, no Rio de Janeiro, sob a guarda de sua amante, Ana Capriglione, codinome “Dr. Rui”. Nada mais, nada menos do que uma bagatela de 2,5 milhões de dólares. Não faltariam mais recursos para a revolução, acreditavam os enragés.

– Dólares do roubo do cofre chegaram a Goiás.

Marcos Chinês também protagonizou ações ousadas, como a explosão do jeep do coronel Pitanga Maia, secretário de Estado de Segurança Pública à época. O ato ocorreu em 1969. O estudante entrou para a clandestinidade em outubro daquele ano. A repressão fechava o cerco e ele deixou a casa da mãe, uma funcionária que possuía apenas o ginásio, e do pai, um caminhoneiro. A família era muito pobre, diz Renato Dias. O militante da VAR-Palmares, mesma organização de Dilma Rousseff, que seria presa em janeiro de 1970, em São Paulo, com Mariano Joaquim, codinome Loyola, circulou pelo norte de Goiás, atual Estado do Tocantins, para arregimentar camponeses para a guerra popular prolongada contra a ditadura civil e militar e pela construção do socialismo diferente do modelo soviético. Preso em maio de 1970, ele nunca mais foi visto. Loyola também integra a relação oficial dos desaparecidos da Comissão Nacional da Verdade

– Durante dez anos, de 1970 a 1980, a minha mãe, Maria de Campos Baptista, deixou a porta de nossa casa aberta esperando, em vão, o seu retorno ao lar.

 

O que foi a ditadura civil e militar no Brasil

Em 31 de março de 1964 fardados e civis derrubam o presidente da República, João Belchior Goulart, e implantam uma ditadura que durou 21 anos. À sombra da guerra fria, a estratégia era desagregar o bloco-histórico populista e levar os interesses multinacionais e associados à direção do Estado.

As tropas de Olímpio Mourão Filho, de Minas Gerais, desceram a serra sem um só tiro ou protesto. Jango teria voado com o general Assis Brasil à Fazenda Rancho Grande, em São Borja. Depois, com Maria Thereza e filhos, tomou um C-47 e aterrissou no exílio: Uruguai.

O primeiro general-presidente a entrar em cena foi Humberto Castello Branco, parente distante do jornalista Castelinho. Ele queria um ato institucional que durasse apenas três meses. “Assinou três”. Queria que as cassações se limitassem a uma ou duas dezenas: cassou quinhentas pessoas e demitiu 2 mil.

O seu governo durou nada mais, nada menos do que 32 meses, 23 dos quais sob a vigência de 37 atos complementares. O general Castello Branco foi o cérebro do golpe de 1964. Ele era o líder da Sorbonne militar, composta, por exemplo, de Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.

Para o brasilianista Thomas Skidmore, especialista em História do Brasil República, o movimento civil e militar de 1964 ocorreu com dez anos de atraso e nunca atingiu o seu objetivo: desmantelar a estrutura estatal e sindical corporativista montada por Getúlio Vargas, morto em 1954.

“O golpe ia ser dado em 1954, mas falhou por causa do suicídio de Vargas”, diz Thomas Skidmore. Não foi uma quartelada, mas uma ação de classe traçada tática e estrategicamente pelas elites orgânicas do capital transnacional, analisa o cientista uruguaio René Armand Dreiffus

– Ipes, Ibad e ESG consideravam o Estado como instrumento de um novo arranjo político e de um “novo modelo de acumulação”.

História: as articulações contra João Goulart começaram antes de sua posse, em agosto e setembro do turbulento ano de 1961. Mais: se intensificaram a partir do plebiscito que decretou a volta do presidencialismo, ocorrido em janeiro de 1963, e tomaram as ruas após o anúncio das reformas de base.

Sucessor de Humberto Castello Branco, Arthur da Costa e Silva decreta o Ato Institucional nº5 em 13 de dezembro de 1968. Vice, Pedro Aleixo foi impedido de assumir o Palácio do Planalto. Depois de um breve exercício da Junta Militar, Emílio Garrastazu Médici chegou ao poder central, em Brasília [DF].

Em 1977, Ernesto Geisel, que havia executado a partir de 1974 a distensão lenta, gradual e segura, baixa o Pacote de Abril. Ex-chefe do SNI [Serviço Nacional de Informações], João Baptista Figueiredo é abençoado pela caserna no ano de 1978 e o Congresso Nacional aprova a Lei da Anistia, em 1979.

Os exilados retornaram ao Brasil e os presos políticos deixam os cárceres. A ditadura acabou em 15 de março de 1985. Já o pós-doutor em História da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis diz que a ditadura acaba, de fato, em 1979. Para ele, de 1979 a 1988 há, no Brasil, um período de transição.

A democracia no Brasil, depois dos 21 longos anos de ditadura civil e militar, só se consolida e se institucionaliza, com a remoção do legado constitucional autoritário e a promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988, por Ulysses Guimarães, o senhor diretas já, sob a Nova República.

 

O autor

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Renato Dias, 47, é jornalista (Alfa), sociólogo (UFG), mestre em Direito e Relações Internacionais (PUC-GO) e autor de “Luta Armada/ALN-Molipo – As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz” (2012), e de “História – Para além do jornal – Um repórter exuma esqueletos da ditadura civil e militar” (2013).

Especialista ainda em ditadura civil e militar, esquerdas e socialismos, o autor de ‘O menino que a ditadura matou – VAR-Palmares, desaparecimento e o desespero de uma mãe’ já lançou, em 2015, ‘Pequenas histórias – Cuba, hoje – Uma revolução envelhecida ou a reinvenção do socialismo?’

O escritor quer lançar, dia 10 de dezembro, “Transição sem Justiça – Uma análise da passagem da ditadura civil e militar no Brasil para a democracia em comparação com os países do Cone-Sul, Europa e África do Sul”. Renato Dias escreve ainda livro sobre o que pensam os trotskistas, hoje, no Brasil.

Serviço

Livro: “O menino que a ditadura matou – Luta armada, VAR-Palmares e o desespero de uma mãe” [Junho de 2015]
Número de páginas: 400 páginas
Data: Hoje, dia 23 de junho, terça-feira
Horário: De 18h às 22h
Local: Hall de entrada da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás

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TV Senado lança documentário sobre comissões da Verdade no próximo dia 25 de junho.

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Nesta quinta-feira (25) lançamento do documentário sobre a Comissão Nacional da Verdade, na Comissão de Direitos Humanos do Senado. No sábado 27 ocorre a veiculação do mesmo pela TV Senado.

 

 

Na semana do “Dia Internacional de Luta Contra a Tortura” (26/06), a TV Senado estreia o documentário Em busca da verdade, uma produção sobre os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, com a participação dos senadores que integraram a Subcomissão de Memória Verdade e Justiça, ligada à Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal.

 

Em busca da verdade será lançado em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, na quinta-feira (25/06), às 9h30. O primeiro episódio do documentário será exibido na TV no sábado (27/06), às 21h30. Ele apresenta as principais revelações feitas pela Comissão Nacional e pelas Comissões Estaduais da Verdade. Essas investigações mostraram como funcionou a estrutura de repressão no país, como a tortura foi institucionalizada dentro dessa política de Estado comandada pelos presidentes militares e como empresas públicas e privadas financiaram o regime militar brasileiro.

 

Ao longo do programa diversos casos de violação de direitos humanos são relatados pelas vítimas e também por agentes da repressão. As violações dos direitos de indígenas e camponeses, as prisões arbitrárias, os exemplos de tortura, de violência sexual, mortes e ocultação de cadáveres dão a dimensão dos abusos cometidos pelo Estado nesse período.  O caso do camponês Epaminondas de Oliveira, assassinado em 1971 e os casos do deputado Rubens Paiva e do militante Stuart Angel, desaparecidos também em 71, são os destaques do documentário.

 

Além de reunir um extenso material produzido pelas Comissões, Em Busca da Verdade traz entrevistas de ex-presos políticos, senadores, especialistas, consultores e membros das Comissões que fazem uma reflexão do nosso passado recente e da herança que a ditadura militar deixou para a sociedade brasileira.

A TV Senado exibirá ainda a segunda parte do documentário em sua grade de programação e no Canal da TV Senado no Youtube (youtube.com/tvsenado) em agosto. O segundo episódio mostra a relação entre o regime brasileiro e outras ditaduras, como a da China e dos países latino-americanos.

 

Entrevista com Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel, morta durante a ditadura

Entrevista com Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel, morta durante a ditadura – Foto: Rogério Alves

 

Entrevista Maria Rita Kehl - Foto. Rogério Alves

Entrevista com Maria Rita Kehl, integrante da Comissão Nacional da Verdade – Foto: Rogério Alves

 

 

Serviço

Evento de Lançamento: Audiência pública na CDH do Senado

25/6/15, às 9h30

Estreia do doc na TV: 27/06, às 21h30

Reprise: 28/06, 23h

Direção: Deraldo Goulart e Lorena Maria

Duração: 58 min

Classificação indicativa: 14 anos

 

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Operación Cóndor: hallan restos en Chile de tres detenidos desaparecidos secuestrados en Argentina

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En mayo fueron identificados los restos de tres víctimas chilenas de la Operación Cóndor: Ricardo Ramírez, Jacobo Stoulman y su esposa Matilde Pessa, secuestrados en Buenos Aires en mayo de 1977 para luego desaparecer sin dejar rastro. 38 años después, exámenes de laboratorio concluyeron que sus restos estaban entre los fragmentos de huesos hallados en 2001 en la Cuesta Barriga, en Chile. El hallazgo abre una nueva arista en la investigación del ministro Mario Carroza: corrobora el traslado e intercambio de detenidos usado por la DINA y el SIDE argentino en los ‘70 y ’80 para eliminar a disidentes.

 

 

Fonte: Centro de Investigación Periodística

Ricardo Ignacio Ramírez Herrera, Jacobo Stoulman Bortnick y la esposa de este último, Matilde Pessa Mois: los tres estaban en la lista de 25 personas por las que el juez Juan Guzmán le preguntó al general (r) Augusto Pinochet el sábado 25 de septiembre de 2004. Hacía sólo dos meses que la Corte de Apelaciones de Santiago había desaforado al ex dictador por su responsabilidad en la Operación Cóndor, un plan internacional de cooperación y acción conjunta que implementaron en las décadas del ‘70 y ‘80 los regímenes dictatoriales del Cono Sur para identificar, vigilar, capturar, secuestrar, torturar, eliminar y hacer desaparecer a opositores políticos, los llamados “subversivos”. Era en el contexto de esa investigación judicial que Guzmán interrogaba a Pinochet. El acta de esa declaración que duró apenas 25 minutos y que tres días después publicó El Mercurio, da cuenta de que Pinochet aseguraba no recordar nada de ese plan, que era una cosa de inteligencia, y por lo tanto, de mandos medios, y que “ni Cóndor ni nada de eso era problema mío”.

Sobre los muertos y desaparecidos que dejó ese plan de exterminio, afirmó:

-Yo era Presidente, no me iban a informar de cosas chicas.

Manuel Contreras y Augusto Pinochet

Guzmán le volvió a preguntar: “¿Dio órdenes relacionadas con la detención, interrogación, tortura, traslado o desaparición forzada de las siguientes personas?”, y leyó uno a uno los 25 nombres de una lista de víctimas chilenas de la Operación Cóndor. Allí estaban Ricardo Ramírez y el matrimonio Stoulman-Pessa. El primero era comunista y estaba encargado de la organización y las finanzas del partido en la clandestinidad. Los otros dos no tenían militancia política, pero supuestamente habrían sido parte de un plan para ingresar al país fondos para la disidencia a la dictadura. Los tres fueron detenidos en Buenos Aires, Argentina, en distintas fechas de mayo de 1977. Ramírez cayó primero, secuestrado el día 16 junto a otros dos chilenos y cinco argentinos. Trece días después, el 29, Jacobo Stoulman y Matilde Pessa llegaron a esa ciudad y apenas bajaron del avión fueron detenidos. Simplemente se esfumaron: a los tres los hicieron desaparecer. Sobre ellos, Pinochet dijo:

-Yo estaba arriba. No daba órdenes relacionadas con las personas mencionadas. No conozco a ninguna de esas personas por las cuales se me pregunta.

Pasó el tiempo. Pinochet murió en diciembre de 2006, en su casa y sin condena. De los desaparecidos, hubo versiones sobre su destino, pero no noticias. Aunque eso cambió hace sólo unas semanas.

El 18 de mayo de 2015, a 38 años de que Ramírez desapareciera en Argentina, Valentina, su hija, recibió un llamado desde la oficina del ministro de la Corte de Apelaciones, Mario Carroza. Su padre había sido identificado. O al menos, lo que quedó de él. Se trataba de pequeños fragmentos de huesos que fueron encontrados en 2001 en la Cuesta Barriga, en Talagante. En la misma fosa había también parte de los restos de Jacobo Stoulman y Matilde Pessa. Sus hijas igualmente recibieron la llamada de Carroza.

-No nos dijeron nada por teléfono, pero nos citaron a la oficina del ministro. Estábamos con mis dos hermanas cuando nos dio la noticia: “Van a poder enterrar a sus papás”, nos dijo el juez Carroza. Nos miramos y no sabíamos qué decir. Nos quedamos mudas –cuenta Alejandra Stoulman, quien tenía 15 años cuando sus padres desaparecieron.

La identificación de Ramírez y los Stoulman-Pessa es clave para comprobar la verosimilitud del macabro relato que en 2007 hicieron a la justicia tres agentes de la DINA que operaron en el cuartel Simón Bolívar, en La Reina. Antes de que estos últimos hablaran, al menos respecto a Ramírez y las otras dos personas que fueron secuestradas con él el lunes 16 de mayo de 1977, la versión que entregaba el jefe del órgano represivo de la dictadura, el general (r) Manuel Contreras, era que habían sido arrestados por la inteligencia argentina y que los habían hecho desaparecer arrojando sus cuerpos al Río de La Plata (ver reportaje en La Nación).

Los agentes desmintieron a su antiguo mandamás y, revelaron una historia completamente distinta, pero que igual terminaba en muerte: una vez secuestrados en Buenos Aires, Ramírez y sus dos compañeros fueron traídos a Chile de forma encubierta para luego ir a parar al centro de torturas que operaba la Brigada Lautaro, uno de los grupos más sanguinarios de la DINA. Que allí los torturaron y los eliminaron con gas sarín. Que los enterraron en una fosa en Peldehue y que dos años después, en 1978, exhumaron sus cuerpos con una retroexcavadora y los llevaron a la Cuesta Barriga, en medio de la llamada Operación Retiro de Televisores.

De los Stoulman-Pessa era poco lo que se sabía: sólo que habían desaparecido en Buenos Aires. Pero la reciente y sorpresiva identificación de sus restos arma un relato diferente: el de una ruta que los trajo de vuelta a Chile y que terminó con un entierro ilegal en el mismo punto que Ramírez y sus compañeros. A la vez que se empieza a cerrar un capítulo para las familias, se abre uno completamente nuevo para la investigación que lleva el ministro Carroza; uno que confirma que hubo traslado e intercambio de detenidos entre los órganos represivos de las dictaduras que integraron la Operación Cóndor, para luego hacerlos desaparecer.

EL SECUESTRO DE LOS FINANCISTAS

La historia de los últimos días de Ricardo Ramírez Herrera y el matrimonio de Jacobo Stoulman y Matilde Pessa, parte en el aeropuerto de Ezeiza, con Alexei Vladimir Jaccard Siegler y su fallido viaje a Chile. Él era estudiante, tenía 20 años y desde el ’73 estaba exiliado en Suiza. Aunque era chileno, también tenía la nacionalidad de ese país. Allí se había casado hacía un año, en 1976, conPaulina Veloso Valenzuela, quien mucho después, ya en democracia y durante el primer gobierno de Michelle Bachelet, se convertiría en ministra secretaria general de la Presidencia y luego en integrante del Consejo de Defensa del Estado (CDE). Jaccard militaba en el Partido Comunista (PC) y tenía por esos días una importante y peligrosa misión: volar de Suiza a Santiago con US$ 20.000 en efectivo en un maletín que debía entregar a los dirigentes del partido. Como no había vuelos directos, debía sí o sí pasar por Buenos Aires y allí coordinar el resto del viaje. Aterrizó el domingo 15 de mayo de 1977. Fue con su llegada que el operativo conjunto de la DINA con la Policía Federal Argentina se activó.

19 personas caerían durante esos días en las garras de la Operación Cóndor a ambos lados de la Cordillera de Los Andes. Siete chilenos, doce argentinos. Sólo hubo tres sobrevivientes.

Alexei Vladimir Jaccard Siegler

Los agentes no se dejaron caer de inmediato, sino que dejaron actuar a Jaccard. Sus contactos en Argentina eran otros dos chilenos: Ricardo Ramírez, que había llegado hacía poco desde Hungría para hacerse cargo de la organización y las finanzas del PC en Buenos Aires, y el también comunista Héctor Velásquez Mardones. Contaban también con el apoyo de un grupo de argentinos miembros del Comité de Solidaridad con Chile en Argentina. Todos sus pasos eran monitoreados.

Un día después, el lunes 16 de mayo, todo el plan para financiar al PC se vino abajo. Los tres chilenos fueron emboscados por la Policía Federal en plena Avenida 9 de julio, afuera del céntrico Hotel Bristol de Buenos Aires. Esa misma jornada, fueron secuestrados cinco de sus colaboradores argentinos. Los ocho desaparecieron. El dinero también.

Como Jaccard además era suizo, la embajada de ese país en Argentina solicitó la apertura de una investigación para dar con el paradero de su ciudadano desaparecido. Vino entonces otra etapa del operativo Cóndor: el montaje. Un reportaje publicado en Infojus señala que la policía argentina informó a la justicia que el viaje de Jaccard a Chile sí se concretó y que el 26 de mayo de 1977, doce días después de su secuestro, cruzó la cordillera en el vuelo N°630 de la empresa Varig, con pasaporte argentino. Por su parte, la Policía Internacional de Chile entregó reportes sobre supuestos viajes que Ricardo Ramírez habría realizado entre 1977 y 1983. Pero todo era mentira. Un engañó que ya la DINA y la dictadura de Pinochet ya habían hecho anteriormente con las víctimas de la llamada Operación Colombo, al hacer aparecer a 119 chilenos ejecutados y hechos desaparecer en Chile, como “asesinados por sus propios compañeros en el exterior”.

Los antecedentes que recopiló la Comisión Nacional de Verdad y Reconciliación para elaborar en 1992 el Informe Rettig, permitieron armar una primera hoja de ruta de lo que realmente pasó con Jaccard, Ramírez, Velásquez y sus socios argentinos. Tras su detención en las afueras del hotel, habrían sido llevados a un recinto de la Policía Federal y luego a la Escuela de Mecánica de la Armada, la ESMA, que por entonces, era uno de los centros clandestinos de detención, tortura y exterminio más grandes y activos de Argentina y de toda Sudamérica. Al menos 5.000 personas fueron llevadas hasta ese recinto bonaerense para luego hacerlas desaparecer.

Dice el informe: “A la luz de estos y otros antecedentes se logró establecer que posteriormente a la triple detención en Buenos Aires de los militantes comunistas chilenos, los organismos de seguridad chilenos y argentinos desplegaron un arsenal de falsos documentos e informaciones para encubrirse mutuamente frente a la presión del Gobierno helvético que insistía en conocer lo sucedido a un nacional en tránsito”.

Ricardo Ramírez Herrera

Los represores aún no anulaban a toda la red de financiamiento del PC. Ruiter Correa Arce era un comunista de 61 años que tenía esposa, tres hijos y un kiosco de diarios en Santiago que servía de buzón para el intercambio entre la dirigencia externa e interna del partido. Así también consta en el Informe Rettig. Él habría participado en la coordinación del plan para ingresar el dinero al país. El 27 de mayo del‘77, a doce días del secuestro de Jaccard, Ramírez y Velásquez en Argentina, Ruiter Correa se esfumó mientras iba a almorzar. Su cadáver apareció al día siguiente en el lecho del río Mapocho.

En la lista de la DINA quedaban sólo dos personas por eliminar: Hernán Soto Gálvez, el “enlace financiero” del PC entre Argentina y Chile, y el empresario de origen judío Jacobo Stoulman Bortnick. Soto era un blanco fácil, y así quedó de manifiesto cuando a comienzos de junio de ese año lo secuestraron en San Miguel y lo hicieron desaparecer. De él no se supo más hasta que fue identificado en 2012 entre los restos encontrados en la Cuesta Barriga. Con Stoulman era distinto: a través de su empresa Cambios Andes, se había convertido en un prominente hombre de negocios en Santiago, especialmente en el circuito de inversionistas judíos. Hacerlo desaparecer en Chile era arriesgado. Hacerlo en Argentina, cuando viajara con su esposa, fue la opción.

LA MISTERIOSA DESAPARICIÓN DEL CAMBISTA

La última vez que a Jacobo Stoulman y Matilde Pessa los vieron con vida fue el domingo 29 de mayo de 1977, en el aeropuerto de Ezeiza, en Buenos Aires. El avión de la aerolínea Braniff que abordaron en Santiago era aguardado por un grupo de agentes de seguridad chilenos y argentinos. Apenas tocó tierra, la aeronave fue desviada a una pista lateral. Los pasajeros tuvieron que bajar la escalera con su documentación en mano para su revisión. Cuando le toco a la pareja, los llevaron a un costado y luego los subieron a un vehículo que de inmediato se puso en marcha. Él tenía 43 años; ella 42. Dejaban tres hijas adolescentes: Jenny, Sara y Alejandra. Ninguno de los dos tenía militancia política.

El historial empresarial de Stoulman partió a fines de 1963, cuando creó la sociedad Agrícola y Avícola Las Rosas, con Eº20.000, de los cuáles él puso la mitad. Tres años después constituyó junto a dos socios una segunda empresa dedicada al sector agro-avícola y en 1970 se aventuró con una distribuidora de libros. Sus inversiones cada vez eran mayores y diversificadas, y las realizaba al mismo tiempo que trabajaba como ejecutivo del Banco Israelita. Al año siguiente emigró con su familia a Israel, pero sólo estuvo un tiempo. Volvió a Chile poco antes del Golpe de Estado y ya en dictadura, a mediados del ‘74, se asoció con el arquitecto Mario Paredes y el coreógrafo Samuel Winer para crear Paredes, Stoulman y Winer Ltda., o “La Escalera”, una empresa dedicada a la venta de ropa y artículos del hogar. Cada socio aportó Eº500.000 al capital inicial. Pero su despegue vino después, cuando en 1975 ingresó al rubro del turismo y, un año después, al mercado de divisas.

Jacobo Stoulman (Fuente: radiosefarad.com)

A fines del ’75 constituyó la Agencia de Viajes Toptour, junto a Mónica Fuenzalida. Meses después, en julio del ’76, el Banco Central lo autorizó a operar una casa de cambio junto a cuatro socios: Alfredo Barra, Enrique Chamorro, Juan Garnham y León Dobry. Un mes después nació Cambios Andes. Serían los movimientos a través de esa empresa los que habrían convertido a Stoulman en un objetivo de caza para la DINA.

Un reportaje publicado en Página/12 señala que la casa de cambios de Stoulman había captado importantes inversionistas en los meses que siguieron a su constitución. Entre ellos, el empresario minero de origen húngaro José Klein, tío del empresario Leonardo Farkas, quien supuestamente habría estado enviando fondos a través de Cambios Andes a la Democracia Cristiana y al ex Mandatario Eduardo Frei Montalva. Según el artículo, esa misma vía era la que tenía ideada el PC para ingresar a Chile los US$ 20.000 que traía Jaccard. Cierto o no, los movimientos de Stoulman eran seguidos de cerca. Su hija Alejandra declararía años después que antes de viajar a Buenos Aires, el empresario ya se había percatado de que lo estaban grabando y siguiendo.

Tras el secuestro de la pareja, su familia recurrió al abogado Ambrosio Rodríguez, a quien se le pagó para viajar a Argentina y averiguar su paradero. Rodríguez era un hombre cercano al régimen. Al poco tiempo se convirtió en asesor jurídico del Ministerio del Interior, y más adelante, en los ’80, fue nombrado Procurador General de la República. Después, cuando Pinochet fue desaforado y debió enfrentar a la justicia precisamente por las violaciones a los derechos humanos de los Stoulman-Pessa y otros miles de desaparecidos, Rodríguez fue parte de su staff de abogados. Hoy es presidente del Tribunal Supremo de Renovación Nacional.

En Santiago, Rodríguez se reunió directamente con el entonces coronel Manuel Contreras, el jefe de la DINA, quien le habría dicho que no sacaría nada cruzando la cordillera. En Argentina se juntó con el jefe de la red de la DINA en Buenos Aires, Enrique Arancibia Clavel, también vinculado al grupo que dio muerte al general René Schneider (1970) y condenado por el asesinato del ex comandante en jefe del Ejército, general Carlos Prats (1974). Un documento descubierto en 1986 por la directora de CIPER mientras investigaba el asesinato del general Carlos Prats y las huellas de Arancibia Clavel en el crimen (ver reportaje de CIPER), da cuenta de esa última reunión.

LA CARTA DE ARANCIBIA

El documento es un reporte fechado el 8 de julio de 1977, copia del que Arancibia Clavel envió a sus superiores de la DINA en Chile. Allí dice que Ambrosio Rodríguez se había contactado con altos mandos del Ejército argentino, quienes le habían indicado que el matrimonio Stoulman-Pessa “ya no existía”. También dice que la información oficial entregada por el Primer Cuerpo del Ejército Argentino, la unidad que controlaba la capital trasandina, “es que fueron entregados a funcionarios de la DINA”.

Esa última frase lo cambiaba todo, pero Ambrosio Rodríguez no trajo de vuelta a Chile esa información. No dijo nada a la familia Stoulman de la participación en el crimen del aparato represivo de la dictadura de Pinochet. En la reunión con Arancibia Clavel, el abogado habría dicho que el matrimonio había sido “vendido por Klein chileno vinculado con el caso Graiber” (sic). Esa era la versión que corría: que Stoulman habría estado vinculado a un supuesto plan de financiamiento de la insurrección guerrillera a través de secuestros en Argentina y Uruguay, liderado por el entonces fallecido empresario judío-argentino David Graiver. Rodríguez, al volver al país, siguió con esa tesis y paralizó cualquier intento de la familia de los desaparecidos por averiguar más.

Enrique Arancibia Clavel

Había entonces dos versiones sobre lo que habría pasado con los Stoulman-Pessa. La oficial que provino de Argentina y que entregó el régimen del general Jorge Rafael Videla, que decía que tras llegar a Buenos Aires, ambos fueron detenidos por sospecha, pero que el mismo día fueron liberados, que se hospedaron una noche en el Hotel Winston Palace y que luego dejaron el país para irse en avión a Montevideo, en Uruguay. La otra versión es más simple, sin tanto detalle: que después de aterrizar, fueron secuestrados y desaparecidos en Argentina.

Más adelante se sabría que ese hotel, el Winston Palace, estaba bajo el control del Batallón 601 del Ejército argentino, la contraparte operativa de la DINA en la Operación Cóndor al otro lado de la cordillera, y que servía como centro de detención provisorio para posteriores traslados, lo que calzaba con la versión entregada a Rodríguez.

Los socios del empresario chileno-judío en la casa de cambio declararon a la justicia que, tras el secuestro, se realizaron giros por hasta US$ 10 mil que habrían sido obtenidos por los captores con documentos firmados por el mismo Stoulman. Uno de ellos señaló que Ambrosio Rodríguez le dijo a la familia que esos fondos eran considerados como un “botín de guerra por los argentinos” (ver fallo de desafuero de Pinochet por Operación Cóndor).

En 1982, cuando Cambios Andes aumentó su capital de $4,9 millones a $6,9 millones, Stoulman figuró representado por su hermana Myriam, que suscribió un 35% del fondo social. Un año después se retiró de la sociedad, vendiendo la parte de su hermano desaparecido en $3,9 millones. En el ’84, en una escritura publicada en el Diario Oficial aparece el nombre de Jacobo Stoulman como si vendiera él directamente su participación en la agencia de viajes. La compró un tercero, que días después le revendió a la hermana de Stoulman, Myriam. Ella se hizo cargo desde entonces de las inversiones de Jacobo. Meses después, en octubre de 1985, a más de ocho años de su desaparición forzada, el 5ª Juzgado Civil de Santiago decretó por fin la muerte presunta de la pareja, solicitada por sus hijas.

Durante los años que siguieron, la información oficial fue que la DINA nada tuvo que ver en la muerte de los Stoulman-Pessa. Por eso en el Informe Rettig quedó escrito bajo sus nombres: “No existen antecedentes suficientes que permitan adquirir la convicción de que en su muerte hubo participación de agentes del Estado de Chile”. Pero la vieja carta del jefe de la DINA en Buenos Aires que murió en 2011 asesinado a puñaladas por un taxi boy, y la reciente identificación de los restos de la pareja en la Cuesta Barriga son elementos que permiten reescribir esa historia: sí hubo participación.

VUELVEN LOS DESAPARECIDOS

Cuando Alejandra, Sara y Jenny Stoulman llegaron a la oficina del ministro Mario Carroza, además del magistrado estaban también la asistente social Isabel Maturana y el abogado Rodrigo Lledó, ambos del Programa de Derechos Humanos del Ministerio del Interior. Poco antes las dos primeras habían recibido la llamada citándolas a una reunión. Alejandra contó a CIPER que no sabían de qué se trataba, pero que Jenny, la mayor, la única que no había entregado muestras de ADN para su comparación en el Servicio Médico Legal (SML) y la única que no recibió la llamada, lo entendió casi de inmediato: sus padres habían aparecido.

Matilde Pessa (Fuente: www.memoriaviva.com)

Después de que Carroza les dijera que por fin, después de 38 años, podrían darles sepultura a sus padres, les informó que la identificación de sus restos -entre los que fueron hallados en la Cuesta Barriga en 2001- había sido algo completamente inesperado. Ningún antecedente de la investigación apuntaba a que Jacobo Stoulman y Matilde Pessa hubieran vuelto a Chile tras su secuestro. El dato era que habían desaparecido en Buenos Aires, y nada más. Por eso, Carroza fue claro al señalar la importancia del hallazgo. Alejandra recuerda que les dijo: “Esto ratifica la existencia de la Operación Cóndor”.

La aparición del matrimonio Stoulman-Pessa, además de Ricardo Ramírez, corrobora la existencia de un mecanismo de traslado e intercambio internacional de detenidos entre los organismos represivos de las dictaduras del Cono Sur durante los ’70 y ’80. Se abre así una puerta que antes no existía para determinar qué sucedió realmente con ellos tras su detención y posiblemente con decenas de personas que desaparecieron víctimas de la Operación Cóndor y de las que hasta hoy no se sabe nada. Por eso Alejandra Stoulman asegura que, si bien el reencuentro con los restos de sus padres es el cierre de un capítulo que ha marcado la historia de su familia durante las últimas cuatro décadas, es también la apertura de otro en la búsqueda de la verdad.

-Ha sido muy fuerte y doloroso, pero nos tranquiliza ver que la investigación sigue abierta y avanzando –dice.

El viernes 29 de mayo de 2015, cuando se cumplían exactos 38 años desde que los Stoulman-Pessa fueron secuestrados y desaparecidos en Buenos Aires, en el SML sus hijas recibieron dos urnas, y en cada una, pequeños restos óseos. No los vieron. Alejandra explica que es tradición de la religión judía no ver a los muertos y recordarlos cómo eran en vida. Estaba toda la familia. Había también amigos y personas que han estado vinculadas al caso. Paulina Veloso, entre ellos, que del paradero de su marido, Alexei Jaccard, aún no tiene noticias. Al salir, todos se encaminaron al Cementerio Israelita. Ese día les dieron el entierro que tanto anhelaban.

 

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Os posseiros do Araguaia e a intransigente luta contra o entreguismo e a militarização da Amazônia.

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Por Paulo Fonteles Filho.

 

Quando a Ditadura Militar tornou público que havia elegido os posseiros do Araguaia como inimigos da Lei de Segurança Nacional (LSN) em 1980, no curso da disputa pela direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, presidido então pelo tristemente famoso “pelego” e grileiro Bertoldo Siqueira, apaniguado do regime militar, é que uma noite terrível – dos assassinatos políticos –  vai conspirar severamente por mais de dez anos para consolidar, na Amazônia, o conluio criminoso entre a repressão política, o latifúndio e a impunidade.

 

Como marco deste processo cruento está o assassinato de Raimundo Ferreira Lima, o “Gringo”, principal liderança da luta camponesa em toda a região do Araguaia, ligado à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e candidato a presidente da Chapa 2, da oposição sindical, a 29 de Maio de 1980. Daquela luta oposicionista participavam, ainda, João Canuto de Oliveira, Padre Josimo, Belchior, Paulo Fonteles, Expedito Ribeiro de Souza; todos mortos por pistoleiros nos anos que se seguiram, entre 1980/1990.

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Naqueles dias, no alvorecer da década de 1980, diante da eminente vitória da representação legitima dos camponeses o governo terrorista dos generais empastelou as eleições, através do Ministério do Trabalho e de seu titular, o coronel Jarbas Passarinho. O medo dos dirigentes da repressão política se explicava pelo caráter amplo da Chapa 2 que reunia figuras de proa da oposição ao regime, como o Deputado Federal Aurélio Peres, ligado ao MDB e militante do então clandestino Partido Comunista do Brasil (PC do B), Dom Pedro Casaldáliga e Dom Tomáz Balduíno.

 

Acontece que, depois da morte de “Gringo” a ditadura deixa de exercer o controle férreo sobre as almas da região e a luta dos posseiros passa a ter pessoa e postura. Em Xinguara, como exemplo, cerca de 5 mil trabalhadores saíram às ruas enfrentando o medo, o silêncio e os caudatários do Major Curió.

 

Naquele processo político-sindical os arautos do regime – Curió e Passarinho – pregoavam uma paranoica campanha anticomunista, com amplo apoio da Polícia Federal e até da Rádio Nacional de Brasília promoveu uma  intensa campanha para a Chapa 1, completando toda uma operação militar-ideológica no processo eleitoral. Tal empreendimento reacionário assegurou a direção do STR de Conceição do Araguaia até 1985, quando foram definitivamente banidos junto com os militares encastelados no poder desde 1964.

 

Em 1980, segundo a CPT, foram registrados 56 conflitos pela posse da terra apenas na região do Araguaia e adjacências onde ocorreu a guerrilha. Tais conflitos produziram 30 mortos entre camponeses, pistoleiros e grandes latifundiários com amplo apoio da ditadura militar. Vale ressaltar que a grande maioria dos mortos eram pistoleiros que atuavam a soldo dos grandes empreendimentos agropecuários que ensejavam retirar os lavradores de suas posses, o que representava uma ofensiva do movimento social camponês naquela imensa região.

 

Na base dessa disputa estavam inseridas visões diferenciadas sobre a Amazônia. Sabe-se que desde o fim da década de 1960 a Amazônia vem sendo objeto de uma insana espoliação e de uma intensa devastação de seus recursos naturais. Suas terras têm sido griladas ao longo de mais de 40 anos ou cedidas a poderosos consórcios como também a grupos estrangeiros.

 

A ditadura militar promoveu a expansão da empresa capitalista no campo, momento em que a terra passa a ser mercadoria e ocorre a transição do predomínio econômico e político do latifúndio ao predomínio econômico e político da empresa agropecuária.

 

E com a derrota militar das Forças Guerrilha do Araguaia, as terras, antes largas e prenhes de fartura, são inseridas nas relações capitalistas de produção controladas pela grande empresa privada e o poder dos generais vai favorecer e acelerar o malsinado modelo. E essa mudança radical vai alimentar uma profunda revolta na imensa massa camponesa pelos sertões do Araguaia.

 

A geração de “Gringo” foi de lavradores que conheceram os insurgentes do Araguaia e por conta da luta pela posse da terra promoveram a “Guerra dos Perdidos”, em 1976. Tal geração de camponeses resistiu à instalação de diversos grupos financeiros que ocupavam vastas áreas, tais como Sul América, Atlântica, Boa Vista, Peixoto de Castro, Bradesco e Bamerindus; os alemães Atlas e Volkswagen; os norte-americanos King’s Ranch, United Steel Corp. e John Davis.

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No caso de John Davis, coronel aposentado do Exército dos Estados Unidos, dezenas de posseiros realizaram ação coletiva armada, na PA-70, próxima à região do Araguaia, depois das provocações do militar ianque que, pela força, tentava desalojar os lavradores de suas posses. Do choque resultou a morte do norte-americano bem como de seus dois filhos.

 

O fato é que os projetos instalados pós-64 preconizavam a internacionalização da Amazônia, através das enormes facilidades dadas pelo governo central, através da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Banco da Amazônia S/A (Basa), para a instalação de transnacionais e a medida de força para varrer quaisquer surto de rebeldia se confirmava pela teoria da Lei de Segurança Nacional (LSN).

 

A partir do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que teve vigência de 1974 até 1984, portanto 10 anos, a LSN foi redirecionada a fim de facilitar que empresas nacionais e estrangeiras pudessem obter imensos benefícios legais e tributários, promovendo a concentração da terra e a expropriação dos camponeses numa verdadeira aliança, cuja concepção leva-nos a conclusão de que os pobres do campo eram uma grande ameaça à segurança nacional para os generais encastelados no poder.

 

A criação de órgãos executivos voltados para a questão de terras, como o Getat, ensejava a militarização da política fundiária e este instrumento da repressão era dirigido diretamente pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN). O famigerado Getat interferiu direta e militarmente sobre as terras conflagradas de todo o sul do Pará. Um dos resultados foi a célebre garimpo de Serra Pelada, maior garimpo a céu aberto que se têm notícia no mundo, dirigida pelo Major Curió. Como se sabe com rigor documental, a Serra Pelada fora pródiga para pouquíssimos e calvário para milhares de brasileiros.

 

É nesse ambiente, explosivo e brutal, que os posseiros do Araguaia, heróis da luta libertária dos brasileiros, descortinam, muitas vezes com armas nas mãos, os horizontes da luta pela posse da terra e das liberdades públicas.
Arquivo de Alex Costa Lima.
Digitalização: Jean Brito

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Comissão da Verdade do Pará faz diligência no antigo Museu da Guerrilha do Araguaia, em São Geraldo do Araguaia (PA)

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A diligência da Comissão da Verdade do Pará ao antigo Museu da Guerrilha do Araguaia, em São Geraldo do Araguaia (PA), em 19/06, recolheu importante acervo produzido pela Comissão Pastoral da Terra e pela Prelazia de Conceição do Araguaia (PA), entre os anos de 1970/1980.

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Documentos originais foram recuperados, dentre eles os jornais da oposição sindical ao pelego Bertoldo, preposto do major Curió e do então Ministro do Trabalho, o coronel Jarbas Passarinho.

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A Chapa 2, ícone da resistência dos posseiros no Araguaia à invasão militar e capitalista na Amazônia , tinha como candidato à presidência Raimundo Ferreira Lima, o “Gringo”, assassinado em 29 de maio de 1980.  Daquela frente popular contra o barbarismo da repressão e do latifúndio estavam, ainda, Belchior, João Canuto de Oliveira, Padre Josimo, Paulo Fonteles e Expedito Ribeiro de Souza, todos assassinados no curso de uma década, fruto do conluio entre a ação marginal do estado conjugado ao terrorismo patronal, cuja liderança de Ronaldo Caiado, atual senador da República, ensejou a famigerada União Democrática Ruralista (UDR), responsável por diversos assassinatos de lideranças camponesas, religiosos, advogados e parlamentares progressistas.

 

Em 1° de julho do corrrente, em São Geraldo do Araguaia, a Comissão da Verdade do Pará, através do comissionado Paulo Fonteles Filho e do sociólogo Alex Costa Lima e a Universidade Ferderal do Sul e Sudeste do Pará na figura de Idelma Santiago da Silva, Pró-Reitora de Extensão da Unifesspa, vão apresentar um relatório pormenorizado do material recolhido, além de apresentar proposta para o tombamento do antigo museu com vistas em transformá-lo num centro cultural e de memória das lutas pelas liberdades e resistência dos posseiros e da igreja progressista.
Para o encontro, na Câmara Municipal, serão convidados a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, o Governo do Maranhão, os Direitos Humanos Maranhão, a Secretaria-Geral da Presidência da República, oMinistério da Justiça, a Comissão Pastoral da Terra, o Museu Emilio Goeldi, o Sintepp Estadual, a SDDH, a Prefeitura de São Geraldo Araguaia, a Secretaria de Justiça do Pará, a Assembleia Legislativa do Pará, o TJE, além do MPE e MPF.
Em 1° de agosto de 2015, a Comissão da Verdade do Pará e a Unifesspa tornarão público o acervo recolhido para visitação d pesquisadores e interessados no tema.

Egidio Sales Filho e Paulo Fonteles Filho.
Comissão da Verdade do Pará.

Fotos: Jean Brito

Fonte: Comissão da Verdade do Pará

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O relato de histórias latino-americanas em um país sem memória

a memoria de todos nos

Eric Nepomuceno fala sobre experiências de quem viveu ditaduras na Argentina, Chile e Uruguai. Para ele, Brasil teve ‘memória anestesiada, com a cumplicidade dos meios de comunicação’

por Vitor Nuzzi, da RBA publicado 21/06/2015 

São Paulo – A observação inicial do escritor, tradutor e jornalista Eric Nepomuceno no Memorial da Resistência, em São Paulo, traz um humor semiamargo. “É a primeira vez que entro neste prédio, com a certeza de que vou sair tranquilamente daqui.” E observa que foi diferente com muitas pessoas, inclusive amigos dele, que estiveram lá quando a imponente edificação, inaugurada em 1914, era sede do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops) – por mais de 40 anos, até 1983. Virou memorial em 2009. Eric esteve lá neste sábado (20) para falar do livro A Memória de Todos Nós, que acaba de lançar, trazendo relatos de quem passou por ditaduras na Argentina, no Chile e no Uruguai. Países que se confrontaram com o passado, ressalta.

O autor lembra que em meados dos anos 1970 a região só tinha dois países com governos constitucionais, a Venezuela e a Colômbia. Os demais viviam períodos de exceção, situação que começou a mudar nos primeiros anos de década seguinte, interrompendo um longo período de autoritarismo, desencadeado ainda em 1954, com um golpe na Guatemala e, pouco depois, no Paraguai. Antes de entrar no relato do livro em si, Eric faz um primeira reflexão sobre as dificuldades de se avançar no resgate da memória. “Por que o Brasil ficou na rabeira, por que levou 20 e tantos anos para instalar uma Comissão da Verdade? Por que a memória nos incomoda tanto, nos faz mal?”

O livro trata de passagens dolorosas vividas em países vizinhos por Adolfo Pérez Esquivel, Marcia Scantlebury, Macarena Gelman García, Juan Canbandié, Estela de Carlotto. Histórias de quem escapou do “voo da morte”, operações em que presos políticos argentinos eram jogados no Rio da Prata ou no Oceano Atlântico. Um relato de quem ajudou a própria torturadora, grávida, a tricotar uma peça. Ou sobre o sistemático roubo de bebês, também de presos políticos, crianças que foram criadas por outras famílias sem saber quem eram seus verdadeiros pais. Eric lembra que era precisa apagar as histórias e os rastros familiares porque as ideias dos pais poderiam ser hereditárias.

 

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Política de Estado

Estela de Carlotto – que Eric, afetuosamente, chama de “o amor da minha vida” –, líder das Avós da Plaza de Mayo, em Buenos Aires, havia ajudado a recuperar 113 netos, mas não conseguira encontrar o próprio, filho de sua filha Laura, assassinada na prisão após dar à luz e enterrada ainda como “identidade desconhecida” em 27 de agosto de 1978 – apenas um dia depois, a Justiça, respondendo a um pedido de habeas corpus apresentado meses antes, informaria que Laura nunca esteve presa. “Isto (sequestro de bebês) era um plano sistemático. Era política de Estado”, lembra Eric Nepomuceno.

Em agosto do ano passado, Estela encerrou sua busca. Neste caso, como lembra o escritor, “foi o neto que achou a avó”. Desconfiado de suas origens, o músico Ignacio Hurban procurou as Avós da Praça de Maio em junho do ano passado. Foi encaminhado para o Conselho Nacional pelo Direito de Identidade – dirigido, lembra Eric, por Claudia Carlotto, filha de Estela e irmã de Laura. Fez exames de DNA, e no dia 5 de julho ficou sabendo que era, na verdade, Guido Carlotto Montoya, filho de Laura Carlotto e Walmir Oscar Montoya. A avó Estela, com 83 anos, anunciou à imprensa que havia identificado o neto número 114. O seu neto, de 36 anos, que conheceu e abraçou no dia seguinte.

Presa e torturada, a chilena Marcia Scantlebury, já na democracia, foi encarregada pela presidenta Michelle Bachelet de implementar o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, inaugurado em 2010. “Foram dois anos de trabalho num país até hoje coalhado de nostálgicos da ditadura, de órfãos e viúvas e viúvos de Augusto Pinochet. E nenhum deles parece disposto a assumir sua responsabilidade histórica”, escreve Eric. “Tudo no Museu da Memória resgata, revela e refaz o que os responsáveis e os cúmplices do terrorismo de Estado ao longo desses dezessete anos (referência ao período 1973-1990) tentaram ocultar.”

Militante política, Marcia foi presa e levada para Villa Grimaldi, conhecido centro de torturas chileno. Foi de certa forma bem tratada por uma carcereira, que depois, nas sessões de tortura, era a que “com mais sanha se lançava contra ela”. Essa mesma mulher, certo dia, tirou-a da cela e pediu ajuda para tricotar uma peça. Sua algoz estava grávida.

Outra história é a de Pérez Esquivel, que ainda não era Nobel da Paz quando, prisioneiro, foi embarcado em um avião para seu último voo, o previsto encontro com a morte. Até que chega uma ordem ao piloto, que muda a rota e leva o prisioneiro para um cárcere de segurança máxima em La Plata.

Eric cita Esquivel: Os povos sem memória desaparecem. O jornalista Milton Bellintani, do Núcleo de Preservação da Memória Política, coordenador de encontro de sábado, observa que a sociedade brasileira nunca conseguiu enfrentar essa questão como deveria. Por isso, observa, “temos uma sociedade profundamente sequelada”.

Alguém questiona Eric sobre a ausência de relatos do Paraguai. “O brasileiro é formado e educado para ter um certo desprezo por todos os países latino-americanos”, responde o escritor. “O Brasil é um dos responsáveis pelo assassinato de um país chamado Paraguai. O Brasil está acostumado a tratar o Paraguai como uma espécie de Mato Grosso do oeste.”

‘O silêncio é cômodo’

Em seguida, fala de heranças do regime autoritário no país. “A liberdade com que se tortura hoje é um legado, uma herança direta da ditadura. Este é um país com amnésia, cuja memória foi anestesiada, com a cumplicidade dos meios de comunicação. O silêncio é cômodo.” O escritor diz considerar a Lei da Anistia “uma vergonha, a mim e a toda uma geração”.

No livro, ele questiona a lei aprovada ainda sob a ditadura e aponta seus efeitos. “Seja qual for o destino que a Lei da Anistia de 1979 for receber no futuro, uma coisa é certa: a Comissão da Verdade não teve poder de punir. Sua contribuição, certamente importante, se restringe a fazer todos os esforços possíveis para recuperar a verdade e resgatar a memória. Não para fazer justiça”, escreve.

Sobre o momento atual do Brasil, ele diz que não anda “nada contente” com o país. “Se você tirar todo o preconceito da direita, ainda assim há um problema sério de conduta”, observa. E mostra receio com o avanço do conservadorismo. “Temo que a gente entre outra vez numa onda que está varrendo levemente a América.”

Um professor comenta que boa parte de seus alunos não gosta de discutir o tema reforma política e alguns até defendem a ditadura. “Eu me nego a aceitar este momento (atual) como ponto final ou síntese de alguma coisa”, afirma Eric.

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