Fragmentos da Ditadura: “Não troco um só trabalhador brasileiro por cem desses grã-finos arrumadinhos.” João Goulart

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Às vésperas do golpe civil-militar de 1964, no mês de fevereiro daquele fatídico ano, o governo João Goulart divulga o “Boletim Quinzenal da Secretaria de Imprensa da Presidência da República”, um dos últimos documentos publicados naquela gestão e  cujo valor histórico transcende aquele momento e permite ao leitor trazer para os tempos atuais temas, visões, pautas nacionais e reflexões que persistem no debate contemporâneo, numa demonstração de que o golpe e a ditadura não só não conseguiram resolver grandes problemas nacionais que afligiam milhões de brasileiros e brasileiras como também legou ao longo processo de redemocratização ainda inconcluso heranças econômicas e sociais cuja superação permanecem como um grande desafio para as gerações presentes.

 

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Dois parágrafos da página 5 da referida publicação refletem a visão do Governo João Goulart e em certa medida, as razões do golpe de 1964:

Não se pode compreender, na verdade, que uma indústria progrida, num mercado de 75 milhões de pessoas, onde mais de 42 milhões não podem absorver os produtos fabricados pela indústria nacional. Não se pode compreender também que num país onde mais de 40 milhões de pessoas tem mais de 18 anos de idade, apenas 15 milhões sejam chamados a participar das grandes decisões nacionais.

Democracia verdadeira é aquela que fala pela voz de todos os cidadãos. A verdadeira democracia assegura a todos os cidadãos, maiores de 18 anos, direitos de decidir sobre os destinos da nação. Se eles podem ir para as fábricas, se eles podem viver com um salário-mínimo abaixo de suas necessidades, se podem adoecer sem hospitais, se suas famílias podem sofrer sem ter remédios, se podem trabalhar de sol a sol, podem também participar da vida econômica, política e social do país.” (grifo nosso).

 

O documento fala ainda sobre as “Campanhas de terrorismo ideológico contra o Governo“, “Minoria privilegiada conspira contra a emancipação do Povo“, “Reforma tributária“, “Governo reconhece Confederação dos Trabalhadores do Campo“, “Petrobrás“, dentre outros temas. Veja abaixo o documento na íntegra e que faz parte do acervo DOPS-PR.

 

[gview file=”https://forumverdade.ufpr.br/wp-content/uploads/Publicação-Governo-João-Goulart-fev-1964.pdf”]

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A rodovia entre Penha e Piçarras, em Santa Catarina, passa a se chamar PAULO STUART WRIGHT

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Fonte> Coletivo Verdade Memória Justiça de Santa Catarina

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Por coletivomemoriaverdadejusticasc

 

Por iniciativa do Coletivo Memória, Verdade, Justiça deScatarina, através de Projeto de Lei de autoria da então deputada estadual Ângela Albino, aprovado pela ALESC – Assembléia Legislativa de Santa Catarina, a rodovia entre as cidades de Penha e Piçarras passa se chamar a partir de agora Rodovia PAULO STUART WRIGHT.

O Coletivo manifestou agradecimento ao Presidente do DEINFRA pelo pronto atendimento a solicitação de colocação de placas com o nome da rodovia.

PAULO STUART WRIGHT, ex deputado estadual, preso político assassinado pela repressão, cujo corpo ainda não foi devolvido a família e amigos para as homenagens que lhe são devidas, tem agora seu nome gravado nessa rodovia, mostrando que seus conterrâneos não o esquecerão!

 

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Fragmentos da ditadura: “todo o bom patrióta deve Denunciar e Repudiar o Comunismo, porque no Comunismo não existe amor à Patria, Família, e á Religião.”

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Os documentos desta página foram encontrados nos arquivos militares.

 

 

A disseminação do ódio aos movimentos populares e políticos que antagonizavam com o projeto das elites brasileiras, desde a década de 1930 e sobretudo ao longo dos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial foi canalizada numa campanha violenta contra o Partido Comunista (PCB), cujo desfecho trágico foi a política de extermínio total a partir do Golpe de 1964. Trabalhadores urbanos e rurais, sindicalistas, professores, mulheres, índios, religiosos, estudantes, políticos, militares, artistas  e todos que de alguma maneira se manifestassem em favor da soberania nacional, das massas excluídas e empobrecidas, em favor de projetos de inclusão social e distribuição da riqueza nacional e contra a ordem econômica imposta pelos Estados Unidos e a espoliação das riquezas nacionais pelas empresas estrangeiras era taxado de comunista, fichado pela policia e perseguido.

 

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Os materiais divulgados nas ruas, nos jornais, nas rádios em todo o Brasil, como o mostrado aqui dão o tom preconceituoso, discriminatório e violento das campanhas que prepararam o ânimo da burguesia brasileira para a tentativa de golpe em 1961 e sua efetivação em  1964. Sem meias palavras, sem pudor e com apoio de boa parte da imprensa da época, os conspiradores civis e militares foram metódica e paulatinamente manipulando a opinião pública para o apoio ao regime mais violento da história da república e que ceifou milhares de vidas humanas, ampliou de maneira gigantesca a dívida externa brasileira, transformou o Brasil numa das maiores concentrações de renda e exclusão social do mundo e devolveu o país a um governo civil, no final da década de 1980,  arrasado, falido e com mais de um quarto de sua população abaixo da linha da pobreza.

 

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Projeto Cantos da Resistência – pela preservação da memória, contra o esquecimento

Annete Scotti Rabelo

Annete Scotti Rabelo

 

Fonte: Projeto Cantos da Resistência 

Cantos da Resistência – Pela preservação da memória, contra o esquecimento.

Convidamos você e seus amigos para viabilizar este projeto que pretende incluir na memória das lutas sociais dos anos 1960-1970 uma experiência até agora pouco considerada: a produção musical feita para impulsionar o trabalho educativo e político. Trata-se de canções elaboradas por participantes do MEB* (Movimento de Educação de Base), em Goiás e por militantes da AP* (Ação Popular), nos trabalhos políticos realizados em Goiás, Maranhão e Bahia.

 

Nossa intenção é ajudar a construir uma memória das lutas sociais do período, valorizando práticas políticas que se pautavam pelo paciente trabalho de conquista dos “corações e mentes” das pessoas, utilizando, dentre outros, os recursos da cultura popular.

 

Numa sociedade cada vez mais violenta, cada vez menos propensa à discussão de alternativas políticas a longo prazo, vale a pena resgatar experiências que apostavam na luta coletiva, no debate de ideias, na transformação dos sujeitos e das estruturas. Nossa nossa maior preocupação é que essas canções, bem como o trabalho político-pedagógico a elas referenciado, não caiam no esquecimento.

 

O tempo histórico dessa produção musical é marcado pela intensa discussão política sobre o futuro de nosso país, sobre caminhos para conseguir as tão desejadas mudanças, especialmente nos primeiros anos da década de 1960. Parte da produção cultural em várias áreas – cinema, teatro, música, literatura, dentre outros – trazia um forte conteúdo crítico sobre a sociedade brasileira e denúncias de suas principais mazelas: a fome, a miséria, a exploração desenfreada do trabalho e da vida das pessoas.

 

Mas esse tempo é marcado, também, pelo golpe de março de 1964 e seus desdobramentos, uma ditadura civil-militar que tratou de impedir a discussão dos projetos políticos e a escolha democrática do que fosse mais adequado para a maioria dos brasileiros. O regime militar impôs mudanças nos rumos da política, nos projetos em discussão, na vida das pessoas, enfim. A repressão obrigou os grupos políticos a atuarem na clandestinidade e qualquer ação de resistência passou a constituir um risco enorme, sujeitando seus autores à prisão, tortura e morte.

 

 

O projeto “CANTOS DA RESISTÊNCIA” contém:

  • 1 CD com 20 músicas inéditas, criadas por militantes do MEB e da AP , nos trabalhos políticos realizados em Goiás, Maranhão e Bahia, nas décadas de 1960-1970.
  • 1 livreto com textos sobre o MEB, a Ação Popular, os autores e contextos das músicas; lista de mortos e desaparecidos da AP; bibliografia e vídeos.
  • Registro das partituras na FUNARTE/Biblioteca Nacional. O registro das canções será feito em bloco, sob o título “Cantos da Resistência”.

 

 

POR QUE RESOLVEMOS FAZER ESSE PROJETO?

– Antes de tudo, para que essas canções não sejam esquecidas, com toda a carga de vivências e experiências políticas que evocam. Esperamos que funcionem como uma janela que, aberta, proporcione um olhar mais humano e solidário para uma geração que discutiu e lutou intensamente por um Brasil mais justo e mais igual.

– Também achamos importante compartilhar textos e vídeos sobre o MEB e a AP, de modo a proporcionar acesso a diferentes registros históricos, como teses acadêmicas, narrativas de memória, ensaios e outros.

– Para reafirmar que vários militantes da Ação Popular foram mortos sob tortura ou em decorrência delas; outros foram simplesmente assassinados no ato da prisão e outros ainda nunca tiveram sua prisão assumida pela repressão, continuando sob a condição de desaparecidos, como ocorre com o ex-presidente da UNE e dirigente da AP, Honestino Monteiro Guimarães.

– Por fim, para incentivar pesquisas similares em outras regiões, bem como estimular os militantes a registrarem suas experiências, para que a sua participação no processo histórico não seja esquecida!

 

 

Atenção:

Os colaboradores de São Paulo receberão o CD + livreto no dia 17 de outubro de 2015, no Memorial da Resistência, das 10.00 às 16.00 horas. Na oportunidade, haverá apresentação musical e autógrafos dos artistas presentes. O evento constará da programação Sábados Resistentes.

Endereço: Largo General Osório, 66 São Paulo (SP).

Os doadores de outros estados receberão o material pelo Correio. As despesas de remessa estão incluídas no orçamento.

Pessoal, desde já agradecemos a colaboração de todas e todos. Faça parte desta história!

Realize a sua doação e envie este projeto para a sua lista de amigos.

Assista a Annete cantando uma das músicas do projeto, em vídeo colaborativo realizado pelo pessoal do Coletivo Digital.

 

OS AUTORES DAS CANÇÕES

Das 20 músicas a serem gravadas, nove são de Elisabeth Hermano, a Betinha (in memorian, 08/12/2009). São canções marcadas por acentuado lirismo, esperança e luta por um mundo melhor. Foram compostas como expressão artística e política dos trabalhos realizados entre 1960-1963, principalmente na JUC (Juventude Universitária Católica), CPC (Centro Popular de Cultura) e MEB. Uma dessas canções, destinada a motivar os camponeses a se alfabetizarem, foi escolhida para prefixo do programa radiofônico do MEB de Goiás. Está incluída no CD do Projeto.

Sete músicas, inclusive o Xote do arroz, mostrado no vídeo, são autoria de Odilon Pinto Mesquita. Algumas trazem forte denúncia da miséria e das difíceis condições de vida nas regiões onde Odilon desenvolveu trabalho político, Maranhão e Bahia. Há, também, canções que se dirigem aos próprios militantes, instruindo-os sobre valores e práticas revolucionárias. O Xote do arroz foi criado nos anos 70, quando Odilon participou das lutas dos camponeses do Vale do Pindaré (MA), juntamente com Manuel da Conceição, Osvaldo Rocha e outros militantes da Ação Popular.

Os irmãos Moreira Coelho – José e Parcival – são autores de três músicas, uma delas em parceria com Maria Alice Brandão. Eram camponeses, participaram do MEB como monitores e militaram na Ação Popular, nos anos 1960. Suas composições trazem a marca da música sertaneja goiana. Alice Brandão era coordenadora do MEB de Goiás.

Apenas uma das músicas não foi composta por militantes do bloco MEB/AP. A Canção do Cárcere era um hino entoado pelos presos políticos da penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. Cantavam sempre que chegava um companheiro, de qualquer organização, muitas vezes após sessões de tortura. Ou quando alguém partia – para a liberdade ou para outra prisão. Seu autor, Dirceu Régis, é poeta e também esteve preso na Lemos de Brito. Quem passou por essa prisão nos tempos da ditadura certamente a conhece, o que justifica sua inserção no CD, para que não seja esquecida.

 

OS INTÉRPRETES

Por várias décadas as canções da Betinha, do Odilon e dos irmãos Coelho mantiveram-se vivas nos encontros informais dos participantes da equipe do MEB de Goiás e dos militantes da Ação Popular, com a partilha dos registros, voz e violão, em um processo de memória coletiva. E seguiram compartilhando em festas de família e encontros com amigos, ampliando, assim, a divulgação da maioria delas. Na bela voz da Annete Scotti Rabelo essas canções adquirem um encanto especial e foi ouvindo-a cantar que surgiu a ideia de perpetuar essa memória.

As músicas do MEB serão interpretadas por alguns participantes desse movimento em Goiás: Alda B. Cunha, José e Parcival Moreira Coelho, Maria Alice Brandão, Nazira F. Elias, Wellington Cortes, dentre outros.

Como será gasto o recurso arrecadado com a sua colaboração?

Orçamento

 

 

 


 

* O Movimento de Educação de Base (MEB) surgiu em 1961, a partir de um convênio entre a CNBB (Igreja Católica) e Estado, visando a alfabetização de trabalhadores rurais, inspirado nas escolas radiofônicas da Colômbia. A conscientização, a politização, a valorização e reconhecimento do saber dos participantes – alunos, monitores e comunidades – eram suporte do MEB em seu processo educativo, construindo um significativo e original projeto político-pedagógico de participação popular, nos anos 60.

 


 

* A Ação Popular (AP) foi uma organização política que, entre os anos 1962-1975, reuniu profissionais liberais, estudantes, operários e camponeses, dentre outros, com o objetivo de discutir um projeto político democrático-popular (mais tarde socialista) para o Brasil. Com o golpe civil-militar de 1964 a organização incorporou a luta contra a ditadura como condição fundamental para continuar a desenvolver o seu projeto político, uma vez que a ditadura cerceou e proibiu toda e qualquer atividade política baseada na liberdade de expressão, organização e manifestação.

 


 

Quer saber mais sobre o MEB? http://www.pucsp.br/cedic/fundos/movimento_de_educacao.html

Quer saber mais sobre a AP? http://www.pucsp.br/cedic/colecoes/acao_popular.html

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Colóquio Sítios de Memória no Cone Sul – 23 de julho de 2015

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No próximo dia 23/07 o Comitê Carlos de Ré estará realizando evento sobre Sítios de Memória as 19h, no Memorial dos Direitos Humanos do RS. Na abertura do evento, serão apresentadas algumas canções de Lili Fernandes. O evento terá também apresentação do audiovisual “Locais de Violência em Porto Alegre”. Estão previstas as falas de Ivan Seixas, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República que contará a experiência da construção do Memorial da Resistência de São Paulo e pelo Comitê Carlos de Ré, Raul Ellwanger fará uma exposição sobre o Dopinha e a luta do Comitê para a construção do Centro Cultural Ico Lisboa.

 

Neste dia, também será lançada Carta Pública Internacional em apoio à construção do Centro Cultural Ico Lisboa, pauta de luta do Comitê há 3 anos, que já conta com mais de 70 entidades nacionais e internacionais.

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Fragmentos da ditadura: “A Operação Radar (1973-1976): a dizimação de lideranças do PCB”

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“132. Segundo o ex-agente do DOI do II Exército, a organização tinha em curso uma operação chamada Radar, que objetivava localizar e desarticular a infraestrutura do jornal Voz Operária em todo o território nacional. A operação, que estava parada, foi retomada no final de 1973 pelo DOI de São Paulo, em colaboração com outros DOIs e com o CIE, desencadeando prisões e perseguições por todo o Brasil, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Nestes últimos estados, as operações foram batizadas de Marumbi e Barriga Verde, como aconteceu também em outras regiões do país. Dessa vez, o DOI-CODI
do II Exército visava também a eliminação de alguns dirigentes do PCB. Falava-se que “muitos deles já haviam sido presos – alguns mais de uma vez – e, mesmo assim, se revelaram insensíveis às punições aplicadas”.  Documento confidencial do CISA, agência Rio de Janeiro, de 1975, mostra a colaboração entre os centros de informação e a abrangência nacional da investida da repressão contra o PCB: “Remetemos, para conhecimento, cópia xerox do relatório do inquérito policial, realizado pelo DOPS/SP, que apurou atividades do Partido Comunista Brasileiro, indiciando 105 militantes”. p.643

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“131. Dessa vez, a investida sobre o PCB foi sistemática e direcionada. Documento confidencial da 2ª Seção do II Exército, de março de 1975, com o assunto “Neutralização do PCB”, lista o nome de oito dirigentes cujas prisões seriam de grande impacto para a atuação do partido:

  • Giocondo Gerbasi Alves Dias (…).
  • Hércules Correia dos Reis (…).
  • Orlando da Silva Rosa Bonfim Junior (…).
  • Jaime Amorim de Miranda (…).
  • Aristeu Nogueira Campos (…).
  • Renato de Oliveira Mota (…).
  • Elson Costa (…).
  • Hiram de Lima Pereira (…).

 

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Carlos Marighella

 

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“Além de parte do Comitê Central, também foram alvos da repressão as gráficas do jornal do partido, Voz Operária.” p.642

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“133. … Clandestina, a solução dada pelos executores da Operação Radar foi o desaparecimento forçado dos corpos, após sessões de torturas e execuções sumárias. A operação foi comandada pelo chefe do DOI do II Exército, o tenente-coronel Audir dos Santos Maciel, em colaboração com oficiais do CIE, como os majores Paulo Malhães e José Brant Teixeira. Como se fazia no combate a grupos armados, formou-se um grupo secreto do qual participavam delegados do DOPS, como José Francisco Setta e Alcides Singillo. Foram usadas chácaras clandestinas para facilitar o desaparecimento forçado dos corpos.” p. 643

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“144… Marival Chaves afirma que, depois da invasão da gráfica do jornal Voz Operária, Montenegro recebeu do partido 60 mil dólares para recuperar uma estrutura de impressão para o jornal. Uma equipe do DOI-CODI prendeu Montenegro, matou-o com a injeção de matar cavalos e depois foi à sua casa pegar os dólares. O dinheiro foi rateado pela cúpula do DOI-CODI.” p.646

 


 

 

“155. Com a reabertura do Congresso Nacional, o líder da oposição na Câmara, deputado Alencar Furtado, do Paraná, da ala dos Autênticos do MDB, fez um contundente discurso contra a ditadura, em 27 de junho de 1977, fazendo referência direta aos desaparecidos políticos:

 

É insuportável, mais de uma década de arbítrio.

O governo, fugindo da democracia, procura perpetuar-se no poder […]

O terror tornou-se árbitro do sistema. […]

O que queremos?

A inviolabilidade dos direitos da pessoa humana,

para que não haja lares em pranto, filhos órfãos de pais vivos, quem sabe mortos, talvez;

órfãos do talvez ou do quem sabe.

Para que não haja esposas que enviúvem com maridos vivos, quem sabe mortos, talvez;

viúvas do talvez ou do quem sabe.

 

Geisel teve que acionar o Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, para cassar o mandato de Alencar Furtado e suspender por dez anos seus direitos políticos.

A cassação, naquela época, era uma medalha de honra no peito da gente!”, disse Furtado, ao se referir ao episódio.” p.648

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Trechos extraídos do Volume I do Relatório Final da CNV, página 642, 643, 646 e 648.

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Comissão de Anistia Lança II Chamada Pública do Projeto Clínicas do Testemunho

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Comissão de Anistia Lança II Chamada Pública do Projeto Clínicas do Testemunho

 

Entidades poderão enviar propostas até o dia 30 de julho

 
Brasília, 25/06/2015 – A Comissão de Anistia divulgou nesta quinta-feira (25) a II Chamada Pública do Projeto Clínicas do Testemunho, que tem como objetivo a implantação de núcleos de apoio e atenção psicológica aos afetados pela violência de Estado entre os anos de 1946 e 1988. A execução do projeto se dá por meio de parcerias com a sociedade civil, e contempla três dimensões: atenção a vítimas, capacitação de profissionais e formulação de insumos de referência.

 
Lançado em 2012, o projeto parte da constatação de que os reflexos da violência de Estado praticada no período da repressão se perpetuam no psíquico das vítimas, mesmo com o passar dos anos. Nesse sentido, o atendimento clínico às vítimas dos danos produzidos pela violência do Estado Brasileiro é necessário à busca da reparação plena.

 
Segundo a Diretora da Comissão de Anistia, Amarílis Tavares, desde o início das atividades, as cinco instituições que compõem atualmente a Rede Nacional Clínicas do Testemunho já realizaram mais de 4.000 atendimentos a afetados pela violência de Estado, capacitaram mais de 600 profissionais na temática da reparação psíquica e atingiram 2 mil pessoas em eventos e debates públicos. “As Clínicas do Testemunho inauguram, pela primeira vez na estrutura do Estado brasileiro, uma política pública de reparação psíquica a vítimas da violência estatal, cumprindo, portanto, a obrigação do Estado de reparar aqueles que foram violados por seus próprios agentes no passado”.

 
Com esta segunda chamada pública, pretende-se aprofundar o trabalho realizado a partir do projeto piloto. “A primeira fase do projeto levou ao desenvolvimento de metodologias inovadoras e à sensibilização da sociedade para o tema da reparação psíquica”, explicou o Presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão. “Agora, o desafio é expandir o alcance territorial do projeto e diversificar os públicos atingidos, aprofundando a reparação integral às vítimas da violência ditatorial. É necessário enfrentar os legados autoritários para o aprofundamento do processo democrático.”

 
Desde a criação do projeto, a relevância das ações de reparação psíquica vem sendo reafirmada por outros órgãos. Elas constam das recomendações do relatório da Comissão Nacional da Verdade e de sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que estabeleceu, no caso Julia Gomes Lund e outros vs. Brasil, que “o Estado deve oferecer o tratamento médico e psicológico ou psiquiátrico que as vítimas requeiram”, afirmando a obrigação da reparação estatal por violações de direitos humanos cometidas por seus agentes também no âmbito da reparação psíquica.

 
As entidades interessadas em participar devem submeter os projetos exclusivamente por intermédio do Portal dos Convênios – SICONV, de acordo com os termos do edital, por meio dos programas SICONV n° 3000020150006 e n° 3000020150007. Informações adicionais e a íntegra da II Chamada Pública do Projeto Clínicas do Testemunho estão disponíveis no link: http://www.justica.gov.br/Acesso/licitacoes-e-contratos/edital-de-chamamento-publico/editais-de-chamamento-publico-2015, ou por meio do e-mail parcerias.anistia@mj.gov.br.

 
Comissão – Criada em 2001 para reparar violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988, a Comissão de Anistia é vinculada ao Ministério da Justiça e composta por 25 conselheiros, a maioria agentes da sociedade civil ou professores universitários. Até janeiro de 2015, a Comissão havia recebido mais de 74 mil pedidos de anistia, declarando mais de 43 mil pessoas anistiadas políticas, com ou sem reparação econômica. Continue lendo

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Fragmentos da ditadura: “fazer com que a Igreja retornasse às suas origens na fidelidade ao projeto de Jesus, assumindo sua missão de evangelizar o mundo, no compromisso de construir o Reino de Deus com os pobres e excluídos”.

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As Comunidades Eclesiais de Base foram criadas no início dos anos 1960, momento em que a Igreja dava sinais de mudança, graças ao Concílio Ecumênico Vaticano II, que tinha como ideal “fazer com que a Igreja retornasse às suas origens na fidelidade ao projeto de Jesus, assumindo sua missão de evangelizar o mundo, no compromisso de construir o Reino de Deus com os pobres e excluídos”. As CEBs foram ganhando força nas áreas rurais e urbanas: pessoas simples do povo, reunidas, para pensar a sua realidade à luz da Palavra de Deus e encontrar caminhos de superação da fome e da exclusão, por melhores condições de vida e dignidade para todos. Portanto, as CEBs exerceram um importante papel, pois serviram de celeiro para o surgimento de vocações libertárias, políticas e sindicalistas, de movimentos populares e de pastorais sociais (como a CPT, o CIMI, a Pastoral Operária, a Pastoral da Mulher Marginalizada, da Criança, do Negro, do Índio, do Povo de Rua, entre outras).”

 

Leonardo Boff

Leonardo Boff

“A aproximação entre a Igreja católica e os movimentos dos trabalhadores do campo no Brasil foi marcada, também, pela força que teve a Teologia da Libertação … por ela propor um repensar da atuação da Igreja Católica nos países pobres … o pobre deve ser visto não como objeto de caridade, mas como sujeito de sua própria libertação. Com essa visão, os teólogos dessa linha defendem uma pastoral que estimule os excluídos a se organizar, articulando fé e vida, para serem sujeitos de transformação da realidade em que vivem.”

 

Dom Paulo Evaristo Arns  e Paulo Freire.

Dom Paulo Evaristo Arns e Paulo Freire.

“Em novembro de 1970, Dom Paulo Evaristo Arns assume o cargo de Arcebispo Metropolitano do Estado de São Paulo. Sua atuação humanitária fez da cúria paulista um verdadeiro centro de resistência. Em 1972, é criada a Comissão Justiça e Paz (CJP), com o objetivo principal de anotar pormenorizadamente todas as informações relativas a prisões dos opositores do regime As igrejas e pastorais se tornam espaços privilegiados de reuniões populares de reivindicação social. Eram espaços utilizados, sobretudo, pelos moradores de periferia. As discussões eram voltadas para questões cotidianas que afetavam parcelas da população não agraciadas pelo “milagre econômico”. A vida era difícil. Transporte, educação, saúde, creches, saneamento básico e alimentação de qualidade eram suas principais pautas políticas.”

 

 Dom João Batista da Motta e Albuquerque, apoiou a Ação Católica e a formação de grupos como a JEC (Juventude Estudantil Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica).

Dom João Batista da Motta e Albuquerque, apoiou a Ação Católica e a formação de grupos como a JEC (Juventude Estudantil Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica).

“A CPT foi fundada em 1975, exercendo uma força contrária à tentativa de desmobilização dos movimentos sociais empreendida pelo governo brasileiro. A Pastoral buscava apoiar politicamente os camponeses em suas lutas. Atuava estimulando as organizações de trabalhadores rurais, para que eles pudessem ser os sujeitos da conquista de seus direitos e alcançassem aquilo que seria a condição básica desses direitos – a terra – por meio da reforma agrária. O trabalho da CPT se estendeu por diferentes regiões brasileiras e em cada uma adquiriu forma diferente, de acordo com aquilo que os trabalhadores indicavam como necessário transformar na realidade em que viviam. Assim, a CPT assessorou trabalhadores na fundação de sindicatos, organizou os posseiros em sua luta pela terra, defendeu-os na justiça quando esse era o caso e até mesmo auxiliou no processo de alfabetização dos trabalhadores rurais, quando assim esses trabalhadores desejaram.”

 

 

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D. Tomás Balduíno foi um dos responsáveis pela fundação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

 

 Trechos extraídos do Volume II do Relatório Final da CNV, página 382, 385 e 386

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Fragmentos da ditadura: “… seus corpos, com perfurações no ouvido, na testa e na face, teriam sido expostos no DOI-CODI/SP como “troféus”.

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Sônia Maria de Moraes Angel Jones e Antônio Carlos Bicalho Lana mortos em novembro de 1973.

 

“Em depoimento à CNV de 21 de novembro de 2012, Marival reafirmou a existência do centro de tortura onde Antônio e Sônia teriam sido mortos. Trata-se de um sítio na região da Serra do Mar, propriedade de um empresário paulistano do ramo de transportes.

 

Em depoimento anterior, de 30 de outubro de 2012, também à CNV, Marival declarou que os dois militantes haviam sido assassinados por uma prática que chamou de “tiro ao alvo”. Depois, seus corpos, com perfurações no ouvido, na testa e na face, teriam sido expostos no DOI-CODI/SP como “troféus”.
Nesse depoimento, o ex-agente declara:

Eu vi o cadáver [de Sônia], parecia uma moça […]. Vi, o cadáver, foi exposto à visitação do pessoal do DOI. Eles colocaram lá. Primeiro que o Bruno era um troféu, que é o Antônio Carlos Bicalho Lana, ele era um troféu para o DOI.

[…] Dentro do DOI, o [cadáver] de Sônia e do companheiro dela, Antônio Carlos Bicalho Lana, foi exposto à visitação do pessoal do DOI. […] O que foi sintomático e muito nítido, as perfurações no ouvido, na testa, na face dos dois. […] A ideia do tiro ao alvo.”

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 Trecho extraído do Volume I do Relatório Final da CNV, página 466

 

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Fragmentos da ditadura: “Se o subversivo esboçar reação atirem e ATIREM PARA MATAR”.

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“7. Surpreendente pelos detalhes sobre os meios usados pelo Estado para a perpetração de tortura, execuções e desaparecimentos forçados é o aerograma do Consulado-Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, identificado com o número A-90, e encaminhado ao Departamento de Estado norte-americano, em 18 de abril de 1973 … parte de lote de documentos encaminhados à CNV, em junho de 2014 …”

 

Cortejo do estudante Edson Luiz.

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Estudante Edson Luiz, executado.

 

“8. Com o título “Detenções generalizadas e interrogatórios psicofísicos de suspeitos de subversão”, essa mensagem – assinada pelo cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Clarence A. Boonstra – buscava explicar o endurecimento da repressão contra a oposição ao regime imposta pelo I Exército, no Rio de Janeiro. Já na abertura, o texto informa que as prisões haviam “aumentado dramaticamente nas últimas semanas”, que os detidos eram em sua grande maioria “estudantes universitários” e que os interrogatórios eram feitos sob “intensivo sistema de maus-tratos psicofísicos, desenvolvido para extrair informação sem deixar marcas visíveis e duradouras no corpo” … “a ser submetidos a antigos métodos de violência física que algumas vezes causam morte …” p.440

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Em 17 de setembro de 1971, Carlos Lamarca e Zequinha foram mortos por homens do Exército.

 

“16. … Informação no 089/72/E2/ID-4, intitulada “Técnicas de emprego contra a subversão”, produzida pelo I Exército (RJ) e distribuída para extensa gama de órgãos mineiros ou sediados no estado de Minas Gerais … sobre a abordagem a militantes em “cobertura de pontos”:

 

Espancamentos

“Se o subversivo esboçar reação atirem e ATIREM PARA MATAR. Lembrem-se de que nesta guerra suja não existem maneiras corretas ou erradas de vencer. Existem, somente, vitórias ou mortes”.  p.442

 

 

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General Presidente Costa e Silva.

 

“21. Essas organizações foram reprimidas principalmente pelos Destacamentos de Operações de Informações – Centros de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), instalados nas capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Campo Grande, Belém, Fortaleza, Porto Alegre, Manaus e Brasília.” p.444

 

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General presidente Ernesto Geisel.

 

 

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General presidente Figueiredo.

 

 

Trecho extraído do Volume I do Relatório Final da CNV, páginas 440, 442, 444.

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