“As Comunidades Eclesiais de Base foram criadas no início dos anos 1960, momento em que a Igreja dava sinais de mudança, graças ao Concílio Ecumênico Vaticano II, que tinha como ideal “fazer com que a Igreja retornasse às suas origens na fidelidade ao projeto de Jesus, assumindo sua missão de evangelizar o mundo, no compromisso de construir o Reino de Deus com os pobres e excluídos”. As CEBs foram ganhando força nas áreas rurais e urbanas: pessoas simples do povo, reunidas, para pensar a sua realidade à luz da Palavra de Deus e encontrar caminhos de superação da fome e da exclusão, por melhores condições de vida e dignidade para todos. Portanto, as CEBs exerceram um importante papel, pois serviram de celeiro para o surgimento de vocações libertárias, políticas e sindicalistas, de movimentos populares e de pastorais sociais (como a CPT, o CIMI, a Pastoral Operária, a Pastoral da Mulher Marginalizada, da Criança, do Negro, do Índio, do Povo de Rua, entre outras).”
“A aproximação entre a Igreja católica e os movimentos dos trabalhadores do campo no Brasil foi marcada, também, pela força que teve a Teologia da Libertação … por ela propor um repensar da atuação da Igreja Católica nos países pobres … o pobre deve ser visto não como objeto de caridade, mas como sujeito de sua própria libertação. Com essa visão, os teólogos dessa linha defendem uma pastoral que estimule os excluídos a se organizar, articulando fé e vida, para serem sujeitos de transformação da realidade em que vivem.”
“Em novembro de 1970, Dom Paulo Evaristo Arns assume o cargo de Arcebispo Metropolitano do Estado de São Paulo. Sua atuação humanitária fez da cúria paulista um verdadeiro centro de resistência. Em 1972, é criada a Comissão Justiça e Paz (CJP), com o objetivo principal de anotar pormenorizadamente todas as informações relativas a prisões dos opositores do regime … As igrejas e pastorais se tornam espaços privilegiados de reuniões populares de reivindicação social. Eram espaços utilizados, sobretudo, pelos moradores de periferia. As discussões eram voltadas para questões cotidianas que afetavam parcelas da população não agraciadas pelo “milagre econômico”. A vida era difícil. Transporte, educação, saúde, creches, saneamento básico e alimentação de qualidade eram suas principais pautas políticas.”
“A CPT foi fundada em 1975, exercendo uma força contrária à tentativa de desmobilização dos movimentos sociais empreendida pelo governo brasileiro. A Pastoral buscava apoiar politicamente os camponeses em suas lutas. Atuava estimulando as organizações de trabalhadores rurais, para que eles pudessem ser os sujeitos da conquista de seus direitos e alcançassem aquilo que seria a condição básica desses direitos – a terra – por meio da reforma agrária. O trabalho da CPT se estendeu por diferentes regiões brasileiras e em cada uma adquiriu forma diferente, de acordo com aquilo que os trabalhadores indicavam como necessário transformar na realidade em que viviam. Assim, a CPT assessorou trabalhadores na fundação de sindicatos, organizou os posseiros em sua luta pela terra, defendeu-os na justiça quando esse era o caso e até mesmo auxiliou no processo de alfabetização dos trabalhadores rurais, quando assim esses trabalhadores desejaram.”
Trechos extraídos do Volume II do Relatório Final da CNV, página 382, 385 e 386
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