Na série de homenagens que está sendo organizada para lembrar os 40 anos da morte do estudante Alexandre Vannuchi Leme, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça vai realizar um ato público em São Paulo, na sexta-feira, para reconhecer a sua condição de anistiado político.
No Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) será feito um julgamento simbólico do caso do estudante morto pela ditadura e, ao final, o Estado brasileiro admitirá que errou ao persegui-lo e pedirá desculpas oficiais.
“Ao reconhecer seus erros o Estado reconhece o direito de resistência de quem lutou contra a opressão”, diz o presidente da comissão e secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão.
O pedido de desculpas foi solicitado pela família. “A declaração dele como anistiado político acaba com o estigma de terrorista e subversivo que o regime lhe impôs”, diz Aldo Vannuchi, ouvidor da Universidade de Sorocaba e tio de Alexandre.
Estudante de geologia e militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Alexandre foi morto no dia 17 de março de 1973, aos 22 anos. Em 1976 os estudantes da USP decidiram dar seu nome ao Diretório Central.
O ato público será no Instituto de Geociências da universidade, às 12 horas. Parentes do estudante, que morava em Sorocaba, a 92 km da capital, estarão presentes. Paulo Vannuchi, ministro de Direitos Humanos no governo Luiz Inácio Lula da Silva e primo de Alexandre, é um dos organizadores da homenagem.
Atestado. O atual coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, também participará do ato. Na ocasião, ele também entregará à família de Vladimir Herzog o novo atestado de óbito do jornalista.
De acordo com a versão oficial das autoridades, divulgada em 1975, Herzog teria cometido suicídio. Mais tarde ficou comprovado que morreu sob tortura, mas o atestado de óbito permaneceu o mesmo. Agora, por decisão judicial, onde aparecia como causa da morte a expressão “asfixia mecânica por enforcamento”, passará a constar: “Morte por decorrência de lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2.º Exército (DOI-Codi)”.
A família de Alexandre pretende seguir o mesmo caminho, solicitando novo atestado de óbito.
O estudante foi morto no mesmo DOI-Codi, importante centro de informação e repressão política durante a ditadura militar. Segundos depoimentos de outros presos, ele foi torturado até a morte. Mas, na versão oficial divulgada pelas autoridades, teria sido atropelado por um carro ao tentar fugir.
Sem nenhum aviso à família, o corpo foi enterrado em uma cova rasa no Cemitério de Perus, forrada com cal, para acelerar a decomposição.
“Precisamos tomar essas providências aos 40 anos de sua morte”, afirma uma de suas irmãs, Maria Cristina. “O Estado deve isso à memória de Alexandre, à nossa família e à sociedade”, diz Aldo.
Missa histórica. Ainda na sexta-feira, após a cerimônia na USP, será celebrada uma missa na Catedral da Sé. Prevista para as 18 horas, vai relembrar um dos primeiros atos públicos de desafio à ditadura no governo do presidente Garrastazu Médici: a missa organizada pelo então arcebispo da cidade, cardeal Paulo Evaristo Arns para tornar pública a morte e homenagear Alexandre.
No dia 30 de março, diante de quase 3 mil pessoas que lotavam a catedral, após terem enfrentado um pesado aparato militar destinado a impedir o afluxo de pessoas ao centro da cidade, o cardeal disse na homilia que a vida pertence a Deus e só Ele poderia dar fim a ela. A mãe de Alexandre estava na primeira fileira.
O celebrante agora será o bispo emérito Angélico Sândalo Bernardino. Em 1973 ele era bispo auxiliar da arquidiocese e estava ao lado de d. Paulo na missa.
Os pais de Alexandre, José de Oliveira Leme, de 91 anos, e Egle Maria Vannuchi Leme, de 86, não vão participar dos eventos. Os dois não dão entrevistas e são poupados das notícias sobre o filho morto. “Eles se emocionam e ficam tristes cada vez que se toca no assunto”, relata outra irmã, a professora Maria Regina.
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