O documentário Brasil – Um Relato de Tortura (Brazil – A Report on Torture) foi exibido nesta semana no Canal Brasil e tem sido exibido em sessões restritas no âmbito das caravanas da anistia. Em 1971, os cineastas americanos Haskell Wexler e Saul Landau estavam em Santiago do Chile aguardando a oportunidade de uma entrevista com o presidente Salvador Allende. Foi quando souberam da chegada do chamado Grupo dos 70, os presos políticos brasileiros trocados pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, no que seria o último sequestro político do regime militar. Haskell e Saul foram até eles e os convenceram a contar para a TV americana o que haviam sofrido nas prisões brasileiras. Haskel Wexler é um dos maiores diretores de fotografia do cinema americano, responsável pelas imagens de filmes como Crown, o Magnífico (o primeiro), Um Estranho no Ninho e Amargo Regresso. Dirigiu também diversos docs sobre questões políticas e sociais, entre eles o clássico Medium Cool (1969). Saul Landau é um documentarista, jornalista e escritor igualmente engajado na causa dos direitos humanos. Naquela ocasião, eles queriam divulgar internacionalmente o que se passava nos porões da ditadura brasilera.
Em 60 densos minutos, o filme registra o relato das torturas pelas próprias vítimas e a encenação de procedimentos como o pau-de-arara, as sessões de choques elétricos, os afogamentos e outros tipos de suplício físico e psicológico. Há mesmo quem mencione explicitamente os nomes de quem os torturava.
Maria Auxiliadora
Entre os personagens, alguns não suportariam os anos subsequentes. Frei Tito, por exemplo, suicidou-se na França três anos depois. Maria Auxiliadora Lara Barcelos, que tem extensa participação no filme e foi amiga muito próxima da presidente Dilma Rousseff nos anos de ativismo na organização VAR Palmares, atirou-se debaixo de um trem do metrô em Berlim, em 1976.
O rapaz que aparece diversas vezes no papel do torturado era Jorge Muller, um assistente chileno da equipe de filmagem. Ele não sabia que estava vivendo uma trágica antecipação de seu próprio destino. Dois anos depois, com o golpe de Pinochet no Chile, ele passou à clandestinidade, acabou preso, torturado e entrou para o rol dos desaparecidos.
Numa entrevista recente, Saul Landau afirmou que, enquanto montava o filme, percebeu que aquilo não era uma história de tortura, mas uma história de coragem.
O diplomata Jom Tob Azulay ajudou a difundir o filme nos Estados Unidos e no Brasil. Ele era cônsul adjunto do Brasil em Los Angeles em 1971, quando soube da existência do filme, obteve uma cópia com os próprios realizadores e costumava fazer sessões clandestinas, especialmente para brasileiros ilustres que passavam por L.A. Mais tarde, sentindo-se pressionado, Azulay afastou-se do Itamaraty. No ano passado, usou o filme no seu processo de readmissão, afinal vitorioso. Atualmente, junto com Cavi Borges, ele produz Setenta, um novo documentário de Emilia Silveira e Sandra Moreira sobre os destinos daqueles mesmos ativistas brasileiros.
Fonte- http://carmattos.com/
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