33 anos da Lei da Anistia

João Batista Figueiredo, o quinto general-presidente do regime militar, assumiu em 1979 em meio a uma enorme crise. A ditadura não conseguia mais conter o movimento de massas e protestos de todo tipo. A luta pela democracia se dava em todos os níveis: os estudantes ocupavam as ruas e reconstruíam suas entidades, tendo a UNE sido recriada naquele mesmo ano; os intelectuais e os meios de comunicação brigavam contra a censura; entidades de direitos humanos e familiares de vítimas lutavam contra as torturas, mortes e desaparecimentos, buscando acima de tudo a verdade. Por fim, e mais importante, a classe operária reerguia-se, com as poderosas greves de 1978 e 1979 no ABC paulista, e seu líder máximo, um barbudo chamado Luís Inácio e por apelido Lula, falava em construir um partido de trabalhadores.

Nessas condições, Figueiredo assumiu prometendo a abertura política. Chegou mesmo a afirmar, com seu estilo ribombante: “Prendo e arrebento quem for contra a abertura”. E no dia 28 de março, há exatos 33 anos, promulgava a lei nº 6.683, que ficou conhecida como a Lei da Anistia.

A lei permitiu, naquele momento, o retorno de milhares de exilados que, com a sua experiência, vieram alimentar as lutas políticas que se avolumavam no Brasil. Nesse sentido, a Lei da Anistia faz parte das conquistas que, com idas e vindas, avanços e recuos, foram aos poucos sepultando o regime militar e consolidando a democracia no país.

A coisa, porém, não para por aí. É necessário entender o significado da lei e as circunstâncias em que ela passou a vigorar. É necessário entender porque esta lei é questionada e porque sua vigência torna-se hoje, uma excrescência e uma afronta à democracia.

A Lei da Anistia parte do princípio de que as pessoas que seriam anistiadas tinham, de fato, cometido crimes, os quais seriam “perdoados”. Com isso, evitava-se (ou tentava se evitar) o debate sobre o que de fato havia ocorrido no período precedente, e aqui não se trata exclusivamente da luta armada que muitos militantes empreenderam: milhares de brasileiros foram punidos, exilados, demitidos, torturados, mortos ou simplesmente desapareceram sem que tivessem pegado em armas.

Para completar o acobertamento, a lei introduziu a figura de “crimes conexos”, ou seja, eram anistiados também aqueles que haviam combatido, por assim dizer, os adversários do regime. Em outras palavras, os torturadores e assassinos a soldo do Estado também receberam o perdão.

A sobrevivência da Lei da Anistia, em particular no que tange aos torturadores e mandantes, vem sendo questionada no Brasil e por organismos internacionais. Hoje, com a Comissão Nacional da Verdade e um amplo movimento nacional em busca da memória, verdade e justiça, é preciso aprofundar esse questionamento.

É impossível comparar a ação dos militantes que combateram a ditadura militar com os agentes do Estado que cometeram crimes contra os direitos humanos. Todos os militantes, sem exceção, pagaram por sua ação e a eles não foi dado sequer o direito de defesa em um processo regular. Além disso, para os crimes pelos quais foram acusados, a legislação (inclusive a da ditadura) previa penas.

Tudo muda de figura quando se trata de punir um torturador. O que se faz com alguém que age nos porões, protegido pelas autoridades, oculto pela censura à imprensa e, principalmente, pelo medo?

Crimes como tortura, assassinatos e desaparecimentos são imprescritíveis. São esses os crimes que ainda não foram julgados no Brasil, e são crimes cometidos sob a tutela do Estado. O recente reconhecimento de que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um torturador é apenas um passo neste sentido.

Fonte- Fórum Verdade

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Nasce o Observatório de Direitos Humanos do PR

O Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça promove, nesta terça-feira, 33º aniversário da Lei da Anistia, o lançamento do Observatório de Direitos Humanos, que será composto por diversas entidades, entre as quais a Universidade Federal do Paraná, Unibrasil, Ministério Público do Paraná, CUT e APP-Sindicato.

O Observatório de Direitos Humanos terá o papel de estudar em profundidade as violações dos direitos humanos no Paraná. Num primeiro momento, o Observatório contribuirá com a Comissão Nacional da Verdade e, quando for criada, com a Comissão Estadual da Verdade. O Observatório, porém, deverá se constituir enquanto instituição permanente.

O lançamento será na Sala de Memória do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR, no prédio histórico da Praça Santos Andrade.

Fonte- Fórum

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Convite lançamento do Observatório de Direitos Humanos dia 28/08/2012 – 17 horas

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Delator que entregou 192 companheiros quer indenização de R$ 100 mil

O período mais duro da ditadura militar, no início dos anos 70, os órgãos de repressão contaram com a colaboração de agentes duplos, infiltrados nas organizações de esquerda. Ex-militantes que trocaram de lado depois da tortura, esses agentes eram chamados de “cachorros”. O delegado do Dops, Sérgio Paranhos Fleury, se orgulhava da eficiência de seu “canil”, onde pontificava a figura de José Anselmo dos Santos, o lendário Cabo Anselmo. O comandante do DOI paulista, coronel Carlos Aberto Brilhante Ustra, teve pelo menos uma dezena de “cachorros”. O capitão Ênio Pimentel Silveira, torturador conhecido como “Dr. Ney” nos porões do DOI, manteve um “canil” com 12 agentes. Pois é justamente de um desses antigos grupos de “cachorros” que parece ter saído Gilberto Telmo Sidney Marques, ex-militante de esquerda que, desde 2008, reivindica uma indenização de R$ 100 mil por meio da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

Documentos confidenciais do Centro de Inteligência do Exército consultados por ISTOÉ mostram Gilberto Telmo como um colaborador eficiente. Ele fazia parte da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização criada por Carlos Marighella, quando foi preso em janeiro de 1972 com um revólver 38 na cintura e identidade falsa. Um mês depois, prestava depoimento no DOI-Codi delatando nada menos de 192 pessoas. “Ele é o Cabo Anselmo da ALN”, acusa a auditora fiscal aposentada Maria do Carmo Serra Azul, uma das dezenas de militantes presas graças ao dedo indicador de Gilberto Telmo. “Ele não foi um militante que fraquejou sob tortura”, diz Maria do Carmo. “Foi um colaborador que passou para o outro lado.” Ela tinha 20 anos e era conhecida como Cacau quando foi presa em Fortaleza e entregue ao grupo de tortura comandado pelo delegado Fleury. Maria do Carmo conta que nas instalações da 10ª Região Militar, numa das sessões de afogamento, Fleury mandou que lhe tirassem o capuz. Foi chamado, então, Gilberto Telmo, que tentou convencê-la a colaborar com os militares. Dias depois, outro torturador, Otávio Gonçalves Jr., chefe do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), teria confirmado para Maria do Carmo que Gilberto Telmo era o “delator convidado deles”.

O atual secretário de Desenvolvimento Agrário de Tabuleiro do Norte (CE), Jerônimo de Oliveira, também ex-militante da ALN, confirma as acusações de Maria do Carmo. “Este sujeito contava tudo, não exatamente sob tortura”, diz ele. Gilberto Telmo hoje é um professor aposentado e contesta os velhos companheiros. “Passei mais de um mês no DOI-Codi submetido à tortura física e psicológica”, alega. Ele diz que pretende doar o dinheiro que cobra da União ao Movimento Tortura Nunca Mais.

Fonte – Revista Istoé

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Espetáculo Filha da Anistia chega a Curitiba

A peça retrata o drama das vítimas da ditadura pós-golpe de 64 e a influência do regime na sociedade atual. Estará em Curitiba, no teatro José Maria dos Santos, de 30 de agosto a 2 de setembro. E contará com debate das professoras doutoras Vera Karam de Chueiri e Katya Kozicki, do setor de ciências jurídicas da UFPR, no último dia de apresentação do espetáculo.

Filha da Anistia é uma realização da Caros Amigos Cia de Teatro, em parceria com a Associação de Pesquisadores sem Fronteira e o Projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério  da Justiça. Filha da Anistia toca nas chagas dos “anos de chumbo”de forma consciente e delicada, buscando provocar um olhar mais crítico sobre a história recente do país, sobretudo nas gerações posteriores à Lei de Anistia. A entrada é gratuita

De acordo com os autores Alexandre Piccini e Carolina Rodrigues,o intuito é mostrar que o que aconteceu não diz respeito apenas aos diretamente envolvidos. “Buscamos trazer à tona uma reflexão sobre as consequências das atrocidades cometidas durante o período, tanto sob o ponto de vista individual, dos que sofreram com as graves violações aos Direitos Humanos, quanto do ponto de vista coletivo, de uma nação desfigurada por mais de vinte anos de privação das liberdades democráticas. É impossível construir um futuro sem compreender o presente. É impossível compreender o presente sem conhecer o passado”.

Durante o espetáculo, percebe-se que direito à Memória, à Verdade e à Justiça, é uma das principais tônicas da abordagem provocativa do texto. “Filha da Anistia é uma peça teatral que expressa o questionamento legítimo de uma geração que não vivenciou a ditadura militar e para quem foi omitida a informação sobre o acontecido; por isso mesmo clama pela verdade dos fatos, perseguições, prisões, torturas e desaparecimentos forçados de opositores políticos”, destaca a Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes.

Para o diretor da peça, João Otávio, a intensidade dramática dos diálogos e o jogo cênico de Filha da Anistia tiram os “anos de chumbo” dos anais da História e os colocam no cotidiano, na vida atual das pessoas. “É uma aproximação que causa perplexidade e esclarecimento ao mesmo tempo”, destaca.

A trama

Em Filha da Anistia, a personagem Clara é uma jovem que, após a morte de sua avó, parte em busca do pai que jamais conheceu e nessa procura, um passado de mentiras e omissões, forjado durante a ditadura militar, acaba sendo desvendado. Todo o seu mundo e suas verdades caem por terra diante das descobertas sobre o passado de sua família, que resvalam num período da história do país que poucos de sua geração conhecem.

A peça provoca no espectador uma reflexão sobre a época usando como metáfora os desencontros de uma família despedaçada pela truculência do período. Mas também evoca a necessidade de reconhecimento da própria identidade das pessoas enquanto participantes ativos das mudanças e transformações da sociedade.”Para quem ainda insiste que a anistia é sinônimo de esquecimento da barbárie do passado, Filha da Anistia é um libelo contra a ignorância e a insensibilidade”, ressalta Paulo Abrão,Secretário Nacional de Justiça e Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

 

SERVIÇO:

 

Peça: “Filha da Anistia” Local: Teatro José Maria dos Santos

(Rua 13 de Maio, 655 80510-030 – Curitiba – PR) Data: 30 de

agosto a 2 de setembro Horário: 30/8 às 20h; 31/8 às 16h e

20h; 1/9 às 20h; e 2/9 às 20h.

Telefone: (41) 3322-7150 / 3324-8208.

 www.filhadaanistia.blogspot.com

 

Fonte-Com informações da assessoria de imprensa Filha da Anistia Ex-Libris

 

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Caravana da Anistia passa pelo Rio de Janeiro

Criadas em 2008, as caravanas da Anistia já passaram por diferentes cidades neste ano: Camaçari (BA), São Paulo, Teresina, Porto Alegre (RS), Bauru (SP), Florianópolis e Fortaleza. A próxima caravana será em Curitiba.

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Puc-Rio abre 61ºCaravana da Anistia

Família de Zuzu Angel, que morreu de forma misteriosa em 1976, recebeu pedido de desculpas durante sessão itinerante.Foto- Divulgação

O auditório abarrotado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) não comportou todos os participantes da 61ª Caravana da Anistia na sexta-feira,17 de agosto. Criada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a sessão itinerante fez mais um pedido simbólico de desculpas, por parte do Estado, a perseguidos politicamente pela ditadura militar no Brasil (1964-1985).

Por falta de espaço, a maioria assistiu de pé aos relatos dos que sobreviveram para contar as violações aos direitos humanos cometidos por agentes do Estado. Muitos viram a sessão do lado de fora, por um telão.

Dentre os anistiados homenageados por ocasião da visita da comissão, três foram assassinados durante o golpe militar. Os irmãos Yuri e Alex Xavier Pereira, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e da Ação Libertadora Nacional (ALN), foram mortos em 1972; Lincoln Bicalho Roque, militante do PCB, foi assassinado com 15 tiros pela polícia em 1973. Outro homenageado, o estudante de direito Fernando Augusto de Santa Cruz, membro da Ação Popular Marxista-Leninista, continua desaparecido desde 1974.

Muito emocionada, Iara Xavier Pereira, irmã de Yuri e Alex, chamou ao palco amigos e ex-militantes que conheceram seus irmãos, pessoas que sobreviveram às torturas. “Nossa família de sangue é muito pequena, mas, hoje, [a família afetiva] é muito maior, que são os companheiros que tivemos na luta”, declarou com voz embargada. “Estou abrindo o espaço que tenho aqui para falar em nome de minha família, para que essa família de amigos deponham sobre eles [meus irmãos]”.

Vitória Grabois, filha do militante de esquerda Maurício Grabois, desaparecido na Guerrilha do Araguaia, foi uma das homenageadas no evento e exigiu a abertura dos arquivos da ditadura militar e que os torturadores sejam responsabilizados e punidos pelo que fizeram. “Sem a abertura dos arquivos, os militares nunca vão falar”, declarou. “Precisamos dessa abertura para que a tortura nunca mais aconteça neste país”.

Outro homenageado, o ex-militante político Cid de Queiroz Benjamin, foi preso e torturado, assim como o irmão, César Benjamin. “Se não remexer o passado fosse melhor para a sociedade, eu defenderia essa ideia”, declarou o jornalista. “Mas, para evitar que os males do passado voltem no futuro, precisamos continuar lembrando as injustiças do passado. Não tenho nenhum prazer em ficar falando das torturas a que eu e meus companheiros fomos submetidos. Mas é preciso remoer o passado para que se criem anticorpos na sociedade contra a tortura”.

Para Cecília Thumin Boal, viúva do teatrólogo Augusto Boal, fundador do Teatro do Oprimido e também homenageado pela caravana, qualquer tipo de iniciativa para trazer a verdade à tona e reparar injustiças é válida. “Qualquer coisa que se faça vale à pena. O Brasil está avançando como pode e depende de nós, sociedade, fazer as coisas avançarem mais”.

Também foram homenageados Luis Carlos Prestes, líder do Partido Comunista Brasileiro (PCB) por mais de 50 anos, e a estilista Zuzu Angel, mãe do militante do MR-8 Stuart Angel, torturado e morto pela repressão. Zuzu também foi morta em um misterioso acidente.

O presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, fundador da Caravana da Anistia, afirmou que esse gesto de reparação serve para reconhecer o direito de resistência dos cidadãos brasileiros contra a opressão. “O Estado faz uma autocrítica em relação ao seu papel e aponta ao seu futuro seu perfil principal de protetor da cidadania e não de repressor. Por outro lado, as caravanas dão a oportunidade para a juventude conhecer essas graves violações e desenvolver uma consciência de repúdio aos crimes de lesa-humanidade”.

Fonte-Agência Brasil

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Fórum visita Presídio do Ahú, futura sede do Memorial da Resistência

Comissão visita dependências do presídio do Ahú. Foto-Divulgação UFPR

Representantes do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça visitaram nesta quarta-feira o Presídio do Ahú, em cujas dependências funcionará o Memorial da Resistência, lembrando a luta contra a ditadura militar e pela redemocratização do país. O Presídio do Ahú, hoje desativado, pertence ao Tribunal de Justiça do Paraná.

O TJ cedeu algumas dependências do Presídio para o Memorial da Resistência, o que foi confirmado na semana passada, em reunião com integrantes do Fórum.

Os visitantes foram recebidos pelo diretor da Comissão de Obras do TJ, desembargador José Augusto Aniceto, e pelo desembargador Guilherme Luiz Gomes. Participaram da visita o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, a professora Vera Karan, do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR, o professor José Antonio Peres Gediel, da Secretaria da Justiça, o coordenador do grupo Tortura Nunca Mais, Narciso Pires, representantes do Ministério Público e outros integrantes do Fórum.

O TJ abriu para o Fórum de escolher entre duas alas do Presídio, cuja fachada será totalmente restaurada e preservada. Para o Fórum, é essencial que o Memorial seja de fácil acesso à população, e isso certamente definirá a escolha do local.

As celas, tanto as que foram ocupadas por presos políticos quanto aqueles reservadas aos presos comuns (inclusive o “porão”, um dos possíveis locais do Memorial) ainda estão intactas. São uma testemunha muda dos horrores sofridos pelos presos políticos brasileiros e que ainda hoje atingem os presos comuns.

 Fonte- Fórum Verdade

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Ex-ministro: decisão sobre Ustra abre caminho para novas ações

O ex-ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos Paulo Vannuchi disse que a confirmação nessa terça-feira da condenação do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que declarou como “torturador” o coronel da reserva Carlos Brilhante Ustra, “vai provocar consciência nova” e “abrir caminho para decisões”, no âmbito cível, contrária a agentes do Estado acusados de sequestro, tortura, estupro, morte e desaparecimento de presos políticos e oponentes ao regime militar durante a ditadura (1964-1985).

 

Os desembargadores do tribunal, por 3 votos a favor e nenhum contra, resolveram manter uma decisão tomada em 2008. Brilhante Ustra foi responsabilizado pelas torturas cometidas no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). O centro foi comandado por Ustra entre setembro de 1970 e janeiro de 1974.

“Foi uma demonstração de amadurecimento do Poder Judiciário e da opinião pública. O Estado precisa se reencontrar com a plenitude da democracia e o Brasil com a sua história”, declarou o presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Barbosa.

Segundo ele, a decisão do TJSP é “histórica” e “mais uma vez a Justiça manifesta a sua preocupação com relação a crimes cometidos contra a humanidade”.

Para a ativista Cláudia Grabois, da Rede Inclusiva – Direitos Humanos no Brasil, ainda é preciso que, no Brasil, crimes como o de tortura sejam “sejam apontados” e os responsáveis “exemplarmente punidos” e “presos”. Ela avalia que a impunidade de torturadores contribui para o desrespeito aos direitos humanos no Brasil (como no caso dos presídios). A ativista acredita que a decisão vai repercutir na América Latina.

Cláudia disse ainda que o Brasil está “atrasado” e precisa cumprir a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que condenou o Estado brasileiro pela impunidade dos responsáveis pelo desaparecimento de 70 pessoas na Guerrilha do Araguaia, na década de 1970.

“A imagem do Brasil no exterior por causa da impunidade de crimes contra os diretos humanos não é nada agradável”, ressalta Victoria Grabois, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais (Seção Rio de Janeiro). Ela lembra que há na Justiça outras ações contra agentes acusados de atuar como torturadores durante a ditadura militar como o coronel Lício Maciel e o major Sebastião Curió, denunciados pelo Ministério Público Federal.

Victoria é de opinião que setores contrários à punição de torturadores venham se manifestar, como aconteceu no mês passado na sede do Tortura Nunca Mais (no Rio), que foi invadido após ameaças por telefone.

Apesar de manifestações contrárias e de algumas resistências que sofreu quando encampou o funcionamento da Comissão da Verdade na terceira edição do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), o ex-ministro Paulo Vannuchi é otimista e acredita que a opinião pública é favorável a decisões como a do TJSP. “É preciso mais ações declaratórias como a de hoje. A impunidade foi quebrada”, destacou.

 

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SP: Justiça mantém decisão que declarou Ustra como torturador

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve na terça-feira a decisão de 2008 que declarou como torturador o coronel da reserva Carlos Brilhante Ustra. Por três votos a favor e nenhum contra, os desembargadores negaram recurso contra a sentença de primeira instância da 23ª Vara Cível de São Paulo que responsabiliza o militar pelas torturas cometidas no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
Conheça desaparecidos da ditadura

O centro, que funcionava próximo ao Parque Ibirapuera, na zona sul paulistana, foi comandado por Ustra entre 29 de setembro de 1970 e 23 de janeiro de 1974. Os autores da ação, Maria Amélia Teles, o marido César Augusto Teles e a irmã Crimeia de Almeida foram presos em 1972 e torturados no DOI-Codi. “Eu acredito que a decisão fortalece a iniciativa da Comissão Nacional da Verdade, o governo no sentido de implementar a sentença de localização dos desaparecidos do Araguaia e nomear os agentes do Estado responsáveis pelos crimes imprescritíveis de lesa humanidade”, disse Maria Amélia.

Para um dos advogados da família Teles, Aníbal Castro de Sousa, a decisão demonstra que existem sanções possíveis aos agentes do Estado que cometeram crimes durante a ditadura militar (1964-1985). “Parecia que esses torturadores estavam imunes ao Judiciário, e não é verdade”, destacou.

Também responsável pela defesa da família, Fabio Konder Comparato, ressaltou que, de acordo com jurisprudência internacional, a Lei de Anistia de 1979 não impossibilita a punição de crimes como o de tortura. “Todos os tribunais de direitos humanos no plano internacional são unânimes em afirmar que crimes como esses, cometidos durante o regime militar, são insuscetíveis de anistia, são crimes contra a humanidade”, disse. Para ele, a decisão de hoje abre espaço para que outras ações semelhantes sejam bem-sucedidas.
O advogado do coronel Ustra, Paulo Esteves, declarou que entrará com um embargo de declaração no TJSP. Ele sustenta que o tribunal deve se posicionar claramente sobre quem tem a competência para declarar que agentes do Estado foram torturadores. Segundo Esteves, essa é uma atribuição exclusiva da Comissão Nacional da Verdade.

Fonte- Terra

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