Deputado apresenta projeto para trocar nomes da ditadura de prédios públicos do Paraná

placa ditadorO deputado estadual Professor Lemos(PT) apresentou projeto de lei nesta segunda-feira (31/03) que proíbe que prédios, bens, rodovias e equipamentos públicos do Estado do Paraná recebam nomes de pessoas que tenham praticado ou sido historicamente, consideradas como participantes de atos que lesam a humanidade, tortura ou violação de direitos humanos, notadamente durante o período da ditadura militar.

Além disso, a proposta estabelece um prazo de um ano para que o Estado promova a alteração da denominação dos prédios, bens e equipamentos públicos e também promover a retirada de placas, retratos ou bustos que enquadrem contemplem pessoas que tenham praticado ou sido historicamente, consideradas como participantes de atos que lesam a humanidade, tortura ou violação de direitos humanos.

Segundo Lemos, o projeto visa uma correção histórica. “A sociedade brasileira não pode mais conviver com tantas homenagens aos golpistas, ditadores e torturadores que, durante duas décadas, estiveram à frente do poder central do nosso País, bem como em diversos outros espaços e nos aparelhos de repressão policial. Queremos, com este projeto, dar nossa contribuição para o restabelecimento da verdade histórica. Boa parte destas pessoas, na condição de autoridades, foi responsável por todo tipo de crueldade e mesmo pelo assassinato de seus opositores”, comentou o parlamentar.

Pelo Brasil

Em várias regiões do país tem se disseminado o movimento que visa evitar que prédios e logradouros públicos recebam ou permaneçam com nomes de pessoas que tenham praticado crimes que lesa-humanidade. O objetivo é fortalecer e valorizar a democracia. Isso porque o Brasil aprovou o Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3, consubstanciado no Decreto Federal nº 7.037, de 21/12/2009, com diretriz e objetivo estratégicos bem definidos no sentido de “modernizar a legislação relacionada com promoção do direito a memória e a verdade” e de “suprimir do ordenamento jurídico brasileiro eventuais normas remanescentes de períodos de exceção que afrontem os compromissos internacionais e os preceitos constitucionais sobre os Direitos Humanos”.

Em São Paulo, por exemplo, o prefeito Fernando Haddad (PT) já promulgou uma lei que permite à troca de nomes dos logradouros que prestem homenagem a “autoridade que tenha cometido crime de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos”.

Na história mundial, alguns ditadores não são bem lembrados com orgulho em seus países, por exemplo, na Itália, não se encontra nenhuma rua, avenida ou museu chamado Benito Mussolini. Na Alemanha, por exemplo, não há, por exemplo, a Praça Adolf Hitler. Isso vale também para Argentina, Chile e Uruguai. Mas infelizmente no Brasil homenagear aqueles que mancharam a história da democracia brasileira é uma prática natural.

O Projeto apresentado segue a tendência mundial de recuperar e preservar a memória histórica dos fatos ocorridos durante os períodos de repressão militar, excluindo homenagens àqueles que, com suas ações, além das violações e agressões individuais, propiciaram atraso na construção dos Direitos Humanos. É importante lembrar que boa parte destas pessoas, na condição de governantes, foram responsáveis pelo assassinato de seus opositores, servindo de péssimo exemplo para próximas gerações.

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Programação que marca os 50 anos do golpe é lançada no Paraná

coletiva forum

O Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, a Comissão Estadual da Verdade – Teresa Urban e a Comissão Estadual da Verdade da OAB/PR, Prefeitura de Curitiba, entre outras entidades, preparam agenda conjunta de atividades relativas ao 50 anos do Golpe Civil Militar no Brasil que acontecerão a partir do dia 31 de março, em Curitiba.

A Comissão Estadual da Verdade do Governo do Paraná apresentou na tarde da sexta-feira (28) no prédio histórico da UFPR, na praça Santos Andrade, em Curitiba, a programação de atividades que marcam o 50º aniversário de golpe civil-militar no Brasil. Apesar da apresentação oficial, os eventos já acontecem desde o início de março e continuam até junho deste ano.

Representantes de todas as Comissões da Verdade, como OAB, UFPR e demais entidades que formam o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça organizaram um leque de atividades que dão destaque para exposições e mostras de cinema, além de outros eventos como ciclo de palestras, debates, seminários, audiências públicas, congressos, conferências, atos públicos e lançamentos de livros. O Fórum classifica a ação como “Descomemoração do Golpe de 1964”.

“Nossa intenção é mostrar o que representa o golpe militar, as consequências disso no presente, como a censura no país. Temos que fazer essa reflexão”, explica Norton Nohama, assessor da reitoria da UFPR e um dos responsáveis pela coordenação das atividades.

Alguns dos principais eventos acontecem entre 31 de março e 1º de abril, justamente quando se deu o golpe contra o presidente João Goulart. A partir das 19h do dia 31, na OAB-PR, será feita uma homenagem a militantes paranaenses ou vitimados no Paraná (póstumas), advogados e estudantes de direito perseguidos pela ditadura.

No dia 1º, pela manhã, acontece o lançamento do concurso para estudantes e professores da rede estadual de ensino com temática sobre os 50 anos do Golpe de 1964 no prédio histórico da UFPR. O concurso consiste na produção de um cartaz ou produto audiovisual e deve ir até setembro, quando ocorre a seleção final e premiação dos alunos.

Ainda no dia 1º, Fórum, Comissão de Anistia/Ministério da Justiça, IPPUC e Prefeitura de Curitiba realizam a inauguração do marco do Museu de Percurso ”Caminhos da Resistência” da Boca Maldita e um ato em “descomemoração” dos 50 anos do Golpe Militar de 1964, na própria Boca Maldita a partir das 18h.

Nohama dá dicas da programação como, por exemplo, o documentário “Os militares que disseram não”, de Silvio Tendler, que será lançado oficialmente no dia 3 de abril na Unibrasil. “O filme é fantástico. Faz uma leitura que as pessoas não conhecem dos militares que fizeram resistência e estavam ao lado de Jango”, afirma. O documentário ainda tem outras três exibições no estado, duas no Memorial de Curitiba e outra em Foz do Iguaçu.

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Descomemoração do Golpe de 1964: Fórum lança a programação de eventos em todo estado e convida

Acesse a programação no Paraná, participe!

Acesse a programação no Paraná, participe!

 

 

No dia 1° de abril de 1964 o Brasil sofreu um grande golpe, era o Golpe Militar que durou mais de duas décadas.

A supressão das liberdades individuais e coletivas, o fechamento do Congresso Nacional, o Ato Institucional n° 5, o controle e a censura da imprensa e de todas as formas de manifestação humana através das artes, a repressão e a violência do Estado sobre os sindicatos e movimentos estudantis eram apenas algumas das facetas mais visíveis do Regime de Exceção que se instalara à força no país.

Vieram os órgãos de informação e repressão do Regime Militar como os DOPS, DOI-CODI e SNI, os grupos de caça e extermínio aos que ofereciam resistência ao Golpe de Estado. Vieram as prisões arbitrárias, o uso da força militar sobre a população civil e indígenas, o uso generalizado das práticas de tortura para obtenção de informações e confissões, o desaparecimento forçado de pessoas e as execuções sumárias, estas aos milhares.

A nação brasileira estava dividida entre aqueles que nada enxergavam e nada sabiam e aqueles que o estado brasileiro perseguia, prendia, torturava e executava. A resistência ao Regime rapidamente se mostrou insuficiente e frágil diante da força bruta do Estado. O maniqueísmo das campanhas do tipo “ame ou deixe” e a instauração dos “grupo de caça aos comunistas” buscavam instigar a população ao ódio generalizado a todos que ousassem pensar diferente e criticar o Regime. A prisão sem provas, o julgamento sem direito à defesa e ao contraditório e a pena de morte se tornaram uma prática no Brasil.

O pais mergulhava numa profunda crise que lentamente atingia indistintamente a todos: a fome, a miséria, a falta de oportunidades e de esperança no futuro, a ausência do Estado como provedor e articulador no atendimento ás necessidades básicas da população evidenciavam a incapacidade do Regime de governar o país.

Ao poucos os familiares de mortos e desaparecidos, a campanha pela anistia, a adesão de setores progressistas da igreja e a pressão internacional foram criando as condições para o processo de reabertura democrática.

Veio a anistia, imposta pelo regime, sem de fato justiça de transição. A restauração da democracia brasileira se mostrou imperfeita e inconclusa. A herança de impunidade, corrupção, subdesenvolvimento e atraso tecnólogo deixadas pelo Regime condenaria a maioria absoluta dos brasileiros, nas décadas seguintes, à miséria absoluta e a uma crise econômica sem precedentes.

Hoje, passados 50 anos do Golpe de 1964, muito ainda há por fazer. Os milhares de mortos e desaparecidos precisam ser encontrados e sepultados. A nação brasileira precisa conhecer seu passado para se entender com o seu presente e construir um possível futuro de paz, liberto julgo das correntes que o aprisionam. É preciso aperfeiçoar e aprofundar a democracia brasileira sob a égide da verdade, da memória e da justiça, para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.

 

Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça 

 

Clique aqui para baixar o cartaz em alta resolução.

Veja toda a programação de eventos e atividades que estão sendo realizadas em todo o Paraná em descomemoração ao Golpe de 1964. Clique aqui. Participe, divulgue!

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Cascavel: Audiência da Comissão Estadual da Verdade encerra com grande participação pública

Com o auditório cheio e olhos e ouvidos atentos aos depoimentos, muitos deles emocionantes, é que se encerrou no início da tarde da sexta-feira (21), a primeira Audiência Pública da Comissão Estadual da Verdade realizada em Cascavel.

audienciacascavel3O evento, organizado pela Comissão Estadual da Verdade, Comitê Memória, Verdade e Justiça do Oeste do Paraná e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), foi realizado nestes dias 20 e 21 e contou com depoimentos de ex-militantes de movimentos contra a ditadura militar, familiares de pessoas envolvidas ou mortas por militares, camponeses e indígenas vítimas do regime militar. Depoimentos que fez com que a Comissão Estadual alcançasse seu real objetivo.

Olympio de Sá Sotto Maior Neto, membro da Comissão Estadual, explana o quanto a Audiência foi importante para entender o que houve na região Oeste e Sudeste do Estado nos anos de ditadura. Segundo ele, normalmente quando se fala nas graves violações aos direitos humanos, pensa-se naquilo que ocorreu apenas com os estudantes, com jornalistas e com políticos. “Quase que invisível estavam as graves violações ocorridas com o homem do campo e os povos indígenas. A Audiência Pública trouxe à tona os depoimentos dos camponeses presos e torturados sem nem saber o porquê. E essa mágoa ou indignação esteve presente em quase todos os depoimentos”.

Os assuntos tratados em Audiência, revelam fatos sobre a repressão à Operação Três Passos, sobre a repressão aos Grupos dos Onze, violações contra os povos indígenas da região Oeste e Sudoeste e sobre a repressão às organizações de resistência armada como o Movimento Revolucionário 8 de Outubro e Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares.

O organizador do evento, Alfredo Batista, conta que essa foi uma experiência inédita na Unioeste, por conseguir levar personagens, filhos de pessoas envolvidas e os indígenas, que foram presos, torturados e violentados que relataram o que ainda era desconhecido pela população ali presente. “Surpreendeu-nos a presença do público de diferentes idades, diferentes vinculações, professores, estudantes, trabalhadores, os quais vão levar para casa um grande aprendizado da nossa história”.

A professora Carla Silva, do curso de História, do campus de Marechal Cândido Rondon da Unioeste, e organizadora do evento, fala sobre o resultado satisfatório da participação pública. “Estamos muito felizes com o resultado do nosso evento. Tivemos o auditório lotado, o que significa que aquela ideia que existe de que as pessoas não sabem, não têm interesse e todo mundo apoiava a ditadura no Brasil é totalmente equivocada. Percebemos que quando a gente propicia a possibilidade da informação, as pessoas vêm para buscá-la, tem sede disso, a necessidade disso, pois a verdade precisa vir à tona. Então esse evento serviu para darmos passos em sentido da verdade do que de fato aconteceu na ditadura”.
Fonte: Departamento de Direitos Humanos e Cidadania do Paraná – http://www.codic.pr.gov.br/

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Centrais sindicais promovem ato sobre os 50 anos do golpe militar

A OAB Paraná sediou na quinta-feira (20) o ato unitário sindical sobre os 50 anos do golpe militar no Brasil. O evento atounitarioreuniu líderes de sindicatos e dirigentes sindicais em um debate sobre os efeitos da ditadura sobre os trabalhadores. O vice-presidente da Comissão da Verdade da OAB Paraná, Daniel Godoy, abriu o evento, ressaltando a importância da reflexão sobre o tema. “Buscamos com este tipo de resgate histórico construir uma cultura e uma continuidade de luta de resistência para que isso não mais se repita”, frisou.

Além da manifestação dos atuais representantes das entidades, ex-dirigentes apresentaram seus depoimentos sobre aquele período. O evento contou com a presença da advogada e ex-deputada estadual Dra. Clair, do advogado trabalhista e ex-dirigente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região nas décadas de 1960 e 1970, Cláudio Ribeiro, e do ex-diretor do Jornal Tribuna do Povo (órgão de imprensa do Partido Comunista do Brasil), jornalista e escritor Milton Ivan Heller.

De acordo com Márcio Kieller, da Comissão Estadual da Verdade, o evento inaugurou um calendário de “descomemoração” do golpe, por meio de um resgate da memória e da história dos trabalhadores que foram atingidos pelo regime de exceção. “Esse resgate, para nós, é fundamental. Os trabalhadores foram os mais atingidos. Muitos tiveram que abandonar seus empregos, seus lares, suas famílias. Os dirigentes sindicais sofreram muitas atrocidades, de ordem física, moral e psicológica”, afirmou Kieller. O ato foi promovido pela CUT, CSB, CTB, FORÇA SINDICAL, INTERSIDICAL, NCST – Nova Central e UGT.

No próximo dia 31 de março, a OAB Paraná realizará outro ato de resgate da memória, com o tema “50 anos do golpe civil militar – Para que não se esqueça, para que não mais aconteça”, tendo como conferencista convidado o ex-deputado Léo de Almeida Neves. Na ocasião serão feitas homenagens aos mortos e desaparecidos políticos paranaenses, e a advogados e estudantes de Direito perseguidos pela ditadura.

A Comissão da Verdade da Seccional também fará até o final de abril uma série de palestras nas universidades de Curitiba, com o objetivo de mostrar para as novas gerações as lutas do passado e o processo de conquista da democracia no país.

Fonte- OAB Paraná

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Rubens Paiva defendeu legalidade do governo Jango no dia do Golpe de 64

rubens_paiva_engenheiro_civil210Na madrugada do dia 1º de abril de 1964 (com o Golpe Militar em andamento desde o dia anterior), Rubens Paiva, deputado federal por São Paulo, fez um apelo ao vivo pela Rádio Nacional em defesa da legalidade do presidente João Goulart. O áudio está disponibilizado com exclusividade no Portal EBC.
Durante a declaração, o deputado criticou abertamente o então governador de São Paulo, Ademar de Barros, um dos apoiadores do Golpe. “Me dirijo especialmente a todos os trabalhadores, todos os estudantes, e a todo o povo de São Paulo tão infelicitado por este governo fascista e golpista que neste momento vem traindo seu mandato e se pondo ao lado das forças da reação”.

O deputado convocou estudantes e trabalhadores a acompanharem as transmissões da Rádio Nacional, que formava uma rede em defesa da legalidade junto a outras emissoras. “Estejam atentos às palavras de ordem que emanarem aqui da Rádio Nacional e de todas as outras rádios que estejam integradas nesta cadeia da legalidade. Julgamos indispensável que todo o povo se mobilize tranquila e ordeiramente em defesa da legalidade prestigiando a ação reformista do presidente João Goulart que neste momento está com o seu governo empenhado em atender todas as legítimas reivindicações de nosso povo”.

“Está lançada inteiramente para todo o país o desafio: de um lado, a maioria do povo brasileiro desejando as reformas e desejando que a riqueza se distribua, os outros são os golpistas que devem ser repelidos e desta vez, definitivamente para que o nosso país veja realmente o momento da sua libertação raiar”. Foi dessa maneira que Paiva concluía a sua intervenção pela rádio, em que convocava a resistência pacífica contra o Golpe.

Na madrugada do dia 03 de abril, Paiva ainda providenciou um avião para levar o ministro da Casa Civil, Darcy Ribeiro, e o Procurador-Geral da República, Waldir Pires – que tentavam a resistência em Brasília – para o Rio Grande do Sul, onde Jango tentava ainda articular forças para resistir ao Golpe. No meio do trajeto eles souberam pelo rádio que não haveria resistência e, assim como o presidente, rumaram para o exílio no Uruguai.

No dia 10 de abril, com os militares já no poder,  Rubens Paiva teve seu mandato cassado após a edição do primeiro Ato Institucional (AI-1) . Eleito em 1962 para o mandato parlamentar, Rubens Paiva teve papel de protagonismo na CPI que investigou o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), cuja conclusão apontava a intervenção da entidade “no processo de escolha de representantes políticos do povo brasileiro para a tomada do poder através da corrupção eleitoral”.

Em 1971, entre os dias 20 e 22 de janeiro, o deputado entrou para a lista dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira (1964-1985).

Andamento do caso

Nesta quarta-feira (19), a A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados vai realizar audiência pública para ouvir o general reformado do Exército José Antônio Nogueira Belham sobre as circunstâncias da prisão, tortura, morte e ocultação de cadáver do ex-deputado federal Rubens Paiva.

O colegiado aprovou requerimento do deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) e outros solicitando a audiência. A reunião deverá ser promovida em conjunto com as comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; e de Direitos Humanos e Minorias. A votação imediata do requerimento pela CCJ foi pedida pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, que, por sua vez, atendeu a pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Informações colhidas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) que apontam responsáveis pela morte do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido desde 1971, foram entregues ao presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), nesta terça-feira (18). Baseado em  pesquisa documental e provas testemunhais, o documento aponta que o hoje general José Antônio Nogueira Belham, então major, no comando do Destacamento de Operações e Informações (DOI) do I Exército, onde Paiva esteve detido, mesmo alertado por duas testemunhas militares de que o preso poderia morrer, nada fez para impedir as torturas ou prestar atendimento à vítima, até hoje desaparecida.

Na ocasião ficou decidido que o tema seria submetido pelo presidente ao colégio de líderes. Uma das ideias propostas é uma sessão conjunta das comissões de Constituição e Justiça e de Direitos Humanos para tratar do caso Rubens Paiva, na qual poderá ser tomado o depoimento do general Belham.

Considerado fundamental para o esclarecimento do caso, Belham será convocado a depor em audiência pública da CNV, para a qual a Câmara dos Deputados foi convidada a enviar um representante. Belham inicialmente prestou um depoimento espontâneo à CNV e já havia entregue um documento à comissão onde nega participação na morte ou ocultação do cadáver do deputado. Entretanto sua folha de alterações (documento funcional que aponta todas as atividades exercidas na carreira por um militar) contradiz a versão do general de que ele estava de férias, uma vez que ele recebeu diárias para exercer missão secreta no período em que Paiva passou pelo DOI.

Além disso, documento do DOI do I Exército, apreendido na casa do coronel Júlio Molinas, em Porto Alegre, no final de 2012, e entregue à CNV pelo governo do Rio Grande do Sul, registra, entre outras informações, que o general Belham esteve na posse de dois cadernos de Rubens Paiva, enquanto o deputado esteve preso no Doi. Molinas foi um dos sucessores de Belham no comando do Doi-Codi do I Exército, no Rio.

Fonte- Agência Brasil

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Exame pode confirmar que criança nasceu no Araguaia

Militares posam para foto durante perseguição aos guerrilheiros no início da década de 1970.

Militares posam para foto durante perseguição aos guerrilheiros no início da década de 1970.

Lia Cecília da Silva Martins, 39 anos, faz parte de mais uma história a ser desvendada sobre a Guerrilha do Araguaia: a dos filhos de guerrilheiros mortos pelo Exército. Amanhã, a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos entrega o resultado da contraprova do exame de DNA à família do guerrilheiro Antonio Theodoro de Castro, o Raul, desaparecido em 1973, que seria o pai de Lia.

O parto teria sido feito pelo pai. O bebê teria sido entregue pelo Exército a um orfanato em Belém (PA). O mateiro José Maria Alves da Silva, o Zé Catingueiro, foi quem confirmou pela primeira vez a existência da filha do guerrilheiro a uma das irmãs dele, Mercês Castro. Ainda falta saber quem é a mãe de Lia.

Há relatos sobre outros filhos de guerrilheiros que teriam sido retirados dos pais. Hoje com 77 anos, Catingueiro diz que soube de outras “duas ou três crianças” que seriam filhas de guerrilheiros. “As crianças foram tiradas para outro lugar. Os grandes sempre deram graças a Deus de não terem matado nenhum inocente”, conta, referindo-se aos comandantes das tropas. Ele acha difícil saber exatamente quantas eram e o que aconteceu com elas. “Tinha soldado de quartel de todo o Brasil”, resume.

Uma das crianças seria filha de José Carlos, o codinome de André Grabois, fora do casamento. Ele foi casado com Criméia Almeida, com quem teve um filho, João Carlos Grabois. “Tive meu filho na prisão, e eles me ameaçavam, diziam que iam ficar com ele. Mas mesmo se não acharem mais nenhuma criança, a Lia é uma prova de que elas existiram”, diz Crimeia.

Fonte- Agência Estado

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O Golpe de 1964 e as políticas de memória da Comissão de Anistia: Um reencontro com sonhos e projeto

testemunhos

Testemunhos em homenagem a ex-perseguidos políticos durante a 61ª Caravana da Anistia, agosto de 2012, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2012

A Comissão da Verdade constitui uma das maiores vitórias de nossa sociedade, rompendo com a lógica da transição controlada e do silêncio imposto que o regime de 1964 tentou fazer prosperar. Sua instalação é um passo determinante para a consolidação e o aprofundamento democrático

Presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, e Embaixador, Antonio Patriota, entregam certificados de homenagem a militantes que auxiliaram exilados e comateram a ditadura brasileira desde os EUA (Nova Iorque, out/2013)

Primeiro de abril de 2014 é uma data excepcional na vida do nosso país, e por isso merece registro. Em 1964, há meio século, acontecia um dos mais duros golpes de nossa história. Os militares derrubavam o governo democrático e legítimo do presidente João Goulart, interrompendo um ciclo de reformas populares e dando início a uma violenta ditadura, caracterizada pelo uso da repressão, tortura, mortes e desaparecimentos, exílios, restrições às liberdades políticas e de imprensa, concentração de renda e desorganização de entidades sociais. Era o Estado de terror interrompendo sonhos e projetos de milhares de brasileiros. A oportunidade dos 50 anos do Golpe nos permite refletir e contextualizar de maneira forte e incisiva sobre a necessidade de fomentar políticas de reparação, memória e verdade que “unam as pontas” entre os projetos interrompidos do passado e as lutas e utopias do presente, reconstruindo o tecido social e fortalecendo a estrutura política de nossa democracia.

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça foi estabelecida no ano de 2001 com o objetivo de promover reparação moral e econômica aos afetados por atos de exceção entre os anos de 1946 e 1988. Boa parte dos mais de 62 mil pedidos já analisados pela Comissão refere-se ao período da ditadura militar. Muitos destes casos foram apreciados nos locais onde as violações ocorreram, as chamadas Caravanas da Anistia, permitindo combinar os processos de reparação e esclarecimento histórico com uma ampla reflexão, junto aos atores locais, sobre o impacto que o autoritarismo teve em cada comunidade. As quase oitenta Caravanas realizadas desde então em dezenove estados das cinco regiões do país são uma das várias políticas de memória que a Comissão passou a empreender a partir do ano de 2007.

Medidas de grande impacto, como a construção do Memorial da Anistia Política do Brasil, um sítio nacional de memória e homenagem constituído por um museu e um centro de documentação, são complementadas por iniciativas focais. Desde 2008, a Comissão anualmente seleciona e fomenta uma série de projetos da sociedade civil, cujo alcance pode ser nacional, regional, ou local, por meio do projeto Marcas da Memória. Em parceira com associações de perseguidos, universidades, fundações e entidades sem fins lucrativos, o projeto promove registros de história oral, edição de livros, festivais de cinema, restauração e produção de audiovisuais, produção de exposições artísticas, instalação de monumentos em logradouros públicos em homenagem à resistência e à luta pela anistia, digitalização de acervos históricos, apresentações culturais de música e teatro, entre outras ações.

Testemunhos em homenagem a ex-perseguidos políticos durante a 61ª Caravana da Anistia, agosto de 2012, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2012

O conceito que orienta estas políticas públicas é muito simples: assim como o processo de reparação ao reconhecer as violações promove o direito à verdade, a afirmação das memórias sobre a repressão e resistência constitui, também, um mecanismo de reparação simbólica, dirigido não apenas ao perseguido político, mas à sociedade toda. Com iniciativas voltadas ao fomento de projetos de memória a Comissão da Anistia procura afastar-se de uma perspectiva unitária do passado, focada na ideia de que uma única verdade permitirá uma única memória. Trabalha, em sentido oposto, com a pluralidade de leituras do passado e a necessidade de sua insurgência para a vitalização do presente democrático.

Com isso não se quer dizer, como podem pensar alguns apressados, que o trabalho de busca da verdade não seja relevante. A Comissão da Verdade constitui uma das maiores vitórias de nossa sociedade, rompendo com a lógica da transição controlada e do silêncio imposto que o regime de 1964 tentou fazer prosperar. Sua instalação é um passo determinante para a consolidação e o aprofundamento democrático, tendo como objetivos tanto desmascarar versões falseadas do passado, como aquelas apresentadas pela ditadura quanto à morte de um sem números de cidadãos por ela assassinados, quanto permitir um amplo esforço concentrado de busca e revelação de informações que de outro modo jamais chegariam ao grande público.

A Comissão da Verdade não tratará apenas de promover o conhecimento da história – trabalho arduamente empreendido há anos pela historiografia brasileira –, mas também de promover a identificação dos mecanismos que tornaram possíveis as violações praticadas contra os Direitos Humanos reconhecidas pela Comissão de Anistia e pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, propondo medidas de não repetição que fortaleçam a agenda de aprofundamento democrático e luta pelos direitos humanos.

O direito à verdade enquanto direito ao acesso à informação, ao conhecimento do passado e, em última análise, à transparência do Estado quanto aos atos de seus agentes não se confunde com o direito à memória. A memória é um produto humano complexo e multifacetado, que se metamorfoseia em diversos planos: a memória individual, a memória coletiva, social, institucional, geracional… Ainda, pode variar desde a lembrança objetiva, quase numérica, até a lembrança mais afetiva, absolutamente subjetiva, conectada talvez mais ao “eu de que lembra” que ao próprio objeto da lembrança.

As políticas de memória são fundamentais para permitir o desabrochar destas sutilezas. Para compreender não apenas os macroprocessos, mas também seus microefeitos. Para verificarmos como o funcionamento do aparato repressivo impactou de distintas maneiras a vida de diferentes pessoas. Se a busca da verdade pode nos levar a conhecer os sítios onde funcionaram centros de torturas, somente a memória pode nos permitir acessar, em alguma medida, as experiências subjetivas que estes locais produziram em seus afetados diretos e indiretos.
Os direitos à memória e à verdade são distintos, mas complementares. Daí a comum referência a um direito à memória e à verdade uno, composto por essas duas dimensões que se inter-relacionam. Todo cidadão tem direito à memória – consequência de nosso direito à identidade e à verdade. Aqui tratamos não apenas da memória individual, mas também das memórias social e coletiva. É dever do Estado garantir meios para que todos os cidadãos, quer tenham ou não vivido um passado repressivo, possam acessar este passado em sua dupla dimensionalidade: enquanto verdade e enquanto memória.

Temos como premissa que os regimes repressivos violam não apenas o direito à verdade, produzindo documentos com informações errôneas, estabelecendo falsas versões ou, simplesmente, censurando informações, mas também o direito à memória. A ditadura opõe-se à pluralidade e se vale do medo para tentar impor uma cultura monolítica, que passa pela afirmação de uma longínqua origem comum e uniforme do povo – tipicamente fascista – chegando à negação do direito à divergência de opinião, base pluralista da democracia. Superar o legado autoritário significa não apenas regressar à democracia em termos institucionais, mas também permitir que as memórias reprimidas possam insurgir, sabendo-se a priori que estas memórias serão distintas no campo e na cidade, entre homens e mulheres, jovens e velhos, resistentes e opressores.

Estudantes de ensino médio e fundamental assistem encenação da peça “Fllha da Anistia” no Teatro Nacional – Brasília, set/2012

É assim que, por meio de políticas de memória, se constitui um mecanismo de efetivação do direito à memória e à verdade, mas também de fortalecimento democrático. Embora não se possa, por evidente, contemplar a totalidade dos sujeitos (pretensão que só uma visão monolítica da sociedade teria), as políticas de memória permitem jogar luz sobre um conjunto de experiências individuais e coletivas sob o autoritarismo e, partindo desta dimensão subjetiva, reconstruir parcialmente o passado que nos une. Permite, assim, efetivar o direito à memória daqueles que foram vítimas a um só tempo em que igualmente garante o direito às memórias de todos nós, vítimas diretas ou não do regime de arbítrio.

Por meio de suas políticas de memória a Comissão de Anistia tem prestado contribuição à sociedade brasileira com absoluta segurança de que a sua tarefa histórica não se limita em reparar e indenizar os danos que o Estado de exceção causou aos perseguidos políticos, mas também em fazer da memória um elemento de reparação a toda a sociedade, lesada em sua autodeterminação, em suas liberdades públicas, em seu desenvolvimento econômico, social e político.

As políticas de memória atendem não apenas ao interesse subjetivo daqueles que lembram, nem se restringem à dimensão individual daqueles que perderam seus entes queridos para a repressão. Elas atendem também ao interesse de toda a sociedade, funcionando como elemento de alargamento de nossa cultura democrática e de nossas identidades (locais, grupais, nacionais…). Promover tal direito é mais do que uma obrigação do Estado, reconhecida em inúmeros documentos e leis domésticas e internacionais, sendo, sobretudo, um imperativo ético de uma sociedade que pretende reconstruir-se em bases democráticas.

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* Paulo Abrão é professor universitário, secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça. Doutor em Direito pela PUC-Rio e autor, com Tarso Genro, da obra Os Direitos da Transição e a Democracia no Brasil (Belo Horizonte: Fórum, 2012).

** Marcelo D. Torelly é pesquisador visitante na Universidade de Oxford (Inglaterra). Coordenador-Geral de Memória Histórica da Comissão da Anistia (2007-2013). Autor da obra Justiça de Transição e Estado Constitucional de Direito (Belo Horizonte: Fórum, 2012).

*** Egmar José de Oliveira é advogado e presidente da Comissão da Verdade da OABGO. Conselheiro (2004-2013) e vice-presidente (2008-2013) da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

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Há 50 anos, Jango defendia reformas em comício na Central do Brasil

discursojangoHá exatamente 50 anos, um episódio que teve importância no golpe de 64 aconteceu no Brasil. No dia 13 de março de 1964, o então presidente João Goulart realizou comício na Central do Brasil, região central do Rio de Janeiro, para defender as reformas de base propostas por seu governo. Cerca de 200 mil pessoas acompanharam o discurso que foi encerrado com as seguintes palavras: “Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributárias, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”.

À época, um grupo de sindicalistas comunistas e trabalhistas tomou a frente da organização do evento. Entre eles, estavam  o deputado Hércules Corrêa, que foi fundador e dirigente do CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) e Paulo Mello Bastos, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Transportes Marítimos, Fluviais e Aéreos. Bastos também era secretário político do CGT.

O Comício

Cerca de 200 mil pessoas se reuniram na Central do Brasil para ouvir o discurso de Jango em defesa das reformas de base (Arquivo Nacional / Correio da Manhã)

O evento, que estava sendo anunciado pelo governo desde janeiro de 1964, reuniu cerca de 200 mil pessoas e foi transmitido ao vivo por rádio e TV para todo o país. Por volta das 14h daquele dia 13 de março, cerca de 5 mil pessoas já se concentravam para o comício do presidente João Goulart na Praça Cristiano Ottoni, Rio de Janeiro, nas imediações da Central do Brasil e do Ministério da Guerra.

Antes de seguir para o palanque, João Goulart assinou, no Palácio das Laranjeiras, o decreto da Supra (Superintendência de Reforma Agrária) – que autorizava a desapropriação de áreas ao longo das ferrovias, das rodovias, das zonas de irrigação e dos açudes – e o decreto que encampava as refinarias particulares de petróleo.

O comício teve início às 18h. Jango subiu ao palanque às 19h45 e começou seu discurso exatamente às 20h46 após a fala do então presidente da UNE, José Serra, do governador de Pernambuco na época, Miguel Arraes, e do deputado Leonel Brizola. Tendo ao seu lado direito a esposa Maria Thereza, Jango falou de improviso durante pouco mais de uma hora. Ele fazia algumas pausas no discurso para passar um lenço no rosto. Eram nesses momentos em que o ministro da Casa Civil, Darcy Ribeiro, aproveitava para sussurrar observações e orientações como, por exemplo, “fale mais devagar, presidente”.

Em seu discurso, Jango falou sobre a mensagem que seria encaminhada ao Congresso e explicou os decretos que havia assinado. Confira trechos do discurso

Jango defende as reformas de base na Central do Brasil no dia 13 de março de 1964 (Arquivo Nacional / Correio da Manhã)

Encampação das refinarias

Mas estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do povo brasileiro, em nome destas 150 ou 200 mil pessoas que aqui estão, caloroso apelo ao Congresso Nacional para que venha ao encontro das reinvindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os anseios da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente para melhores dias. Mas também, trabalhadores, quero referir-me a um outro ato que acabo de assinar, interpretando os sentimentos nacionalistas destes país.

Acabei de assinar, antes de dirigir-me para esta grande festa cívica, o decreto de encampação de todas as refinarias particulares.
A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas, e Destilaria Rio Grandense passam a pertencer ao povo, passam a pertencer ao patrimônio nacional.
Procurei, trabalhadores, depois de estudos cuidadosos elaborados por órgãos técnicos, depois de estudos profundos, procurei ser fiel ao espírito da Lei n. 2.004, lei que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que também continua imortal em nossa alma e nosso espírito.

Decreto da Supra

O que se pretende com o decreto que considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeiam eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odioso e intolerável.

Não é justo que o benefício de uma estrada, de um açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos especuladores de terra, quese apoderaram das margens das estradas e dos açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou 70 bilhões de dinheiro do povo, não deve beneficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor de suas propriedades, mas sim o povo.

Não o podemos fazer, por enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países do mundo civilizado: pagar a desapropriação de terras abandonadas em títulos de dívida pública e a longo prazo. Reforma agrária com pagamento prévio do latifundio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária. É negócio agrário, que interessa apenas ao latifundiário, radicalmente oposto aos interesses do povo brasileiro. Por isso o decreto da Supra não é a reforma agrária.

Sem reforma constitucional, trabalhadores, não há reforma agrária. Sem emendar a Constituição, que tem acima de dela o povo e os interesses da Nação, que a ela cabe assegurar, poderemos ter leis agrárias honestas e bem-intencionadas, mas nenhuma delas capaz de modificações estruturais profundas.

Mensagem ao Congresso

Na mensagem que enviei à consideração do Congresso Nacional, estão igualmente consignadas duas outras reformas que o povo brasileiro reclama, porque é exigência do nosso desenvolvimento e da nossa democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a todos os brasileiros maiores de 18 anos ajudar a decidir dos seus destinos, que permita a todos os brasileiros que lutam pelo engrandecimento do país a influir nos destinos gloriosos do Brasil. Nesta reforma, pugnamos pelo princípio democrático, princípio democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também elegível.
Também está consignada na mensagem ao Congresso a reforma universitária, reclamada pelos estudantes brasileiros. Pelos universitários, classe que sempre tem estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares nacionalistas.

Comício fazia parte de nova estratégia

Após tentar implementar sem sucesso as reformas por meio de um acordo entre o seu partido Partido Trabalhistra Brasileiro (PTB) e o Partido Social Democrático (PSD), de Juscelino Kubitschek – de quem foi vice-presidente – Jango decidiu se aliar às esquerdas em uma estratégia de mobilização popular que teria início com o comício da Central no dia 13. Três dias antes do comício, o PSD havia rompido formalmente com o governo.

A nova estratégia consistia na mobilização popular por meio de uma série de comícios que seriam realizados em diferentes regiões do país e que culminariam em uma greve geral no dia 1º de maio, como forma de pressionar o Congresso pela aprovação do projeto de reformas anunciado durante o comício e encaminhado formalmente ao Legislativo dois dias depois.

Para isso, Jango contava com as forças que apoiavam as reformas; o CGT o PCB (Partido Comunista Brasileiro e a Frente de Mobilização Popular (FMP), formando a Frente Única de Mobilização.

Fonte : EBC Edição: Edgard Matsuki

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Caravana no Recife anistia jovens mortos na ditadura

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Caravana no Recife anistia jovens mortos na ditadura

 

Ao participarem de manifestações populares em 1º de abril de 1964, os estudantes Jonas José de Albuquerque Barros e Ivan da Rocha Aguiar foram mortos pela polícia

Recife, 10/3/14 – Nesta segunda-feira (10), o Brasil quitou uma dívida com seu passado. Foram homenageados na capital pernambucana 29 pernambucanos perseguidos políticos, entre eles familiares de Miguel Arraes, governador deposto pelo regime militar. Também foram anistiados dois jovens assassinados em 1964, durante o primeiro dia do Regime Militar.

Ao participar de manifestações populares realizadas no dia 1º de abril de 1964, em Recife (PE), os jovens Jonas José de Albuquerque Barros e Ivan da Rocha Aguiar tentaram evitar o golpe militar. Mesmo rendidos e desarmados, eles foram assassinados a tiros por policiais.

Homenagens

Entre os homenageados estavam David Capistrano da Costa – nome de destaque na saúde pública no Brasil – e Dom Helder Câmara, símbolo da resistência ao regime militar em Pernambuco.

Juntamente com seus familiares, Mariana, Carmen e Maurício, Ana Arraes ressaltou a impossibilidade de reparação total ao sofrimento por que passou sua família. “Ninguém pode reparar o irreparável. A reparação do perseguido é a vida”, expressou Ana.

A homenagem abriu a 78ª Caravana da Anistia, que integra o Congresso Internacional 50 Anos do Golpe e a agenda da Justiça de Transição no Brasil. O evento começou nesta segunda (10) e prossegue até sexta (14) na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

Anistia política é a retratação do Estado como reparação por crimes cometidos em virtude de atos de exceção praticados por agentes públicos.  Para ver seus direitos reconhecidos, a vítima deve solicitar na justiça a anistia, que pode incluir reparação econômica.

Leia também: Congresso internacional em Recife irá debater os 50 anos do golpe militar

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