Dezenas de militantes fizeram um escracho na frente do prédio onde trabalha o advogado Mario Espedito Ostrovski, nesta sexta-feira, 28, em Foz do Iguaçu. Escracho é uma denúncia e revelação do local de moradia e trabalho onde os torturadores que continuam soltos e sem julgamento de suas ações durante a ditadura militar.
Os jovens fizeram o manifesto, organizado com apoio do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), em frente ao Edifício Metrópole, onde Ostrovski possui escritório de advocacia. Eles colaram uma faixa gigante e vários cartazes na fachada do prédio, localizado na Travessa Cristiano Weirich, no centro. Verdade, memória e justiça foram as principais palavras de ordem.
O presidente do CDHMP, Aluízio Palmar, contou o motivo do escracho público. Durante audiência da Comissão da Verdade realizada aqui na cidade, duas pessoas denunciaram o Mario Espedito Ostrovski como torturador, entre elas a professora Isabel Fávero.
“Fizemos então essa denúncia em forma de protestos para expor para todas as pessoas que essa pessoa, membro da Ordem dos Advogados do Brasil, hoje uma pessoa ‘doce’, na verdade é um torturador que cometeu crimes no 34º Batalhão de Infantaria do Exército. E como todo criminoso deve ser julgado”, relatou.
Eis algumas das mensagens levadas para as ruas: “O Brasil é o único país da América Latina que não julgou criminalmente quem torturou e matou durante a ditadura”, “pela abertura dos arquivos da ditadura”, “tortura nunca mais”, “para que não se esqueçam, para que nunca mais aconteça”, “por nossos mortos um minuto de silêncio e uma vida inteira de combate”.
Depoimento Isabel – Isabel foi presa e torturada. À Comissão da Verdade disse que recebeu choque elétrico nos mamilos, genitálias, e extremidades do corpo. Estava grávida de 2 meses e, dada violência sofrida, sofreu um abordo. Além das violências físicas, sofreu violência verbal e psicológica. Não recebeu nenhum tipo de assistência.
Sangrou durante dias, sem a possibilidade de fazer qualquer tipo de higiene. A situação além de dores, provocou mal cheiro, o que irritava os militares, que motivados pela irritação agrediam mais Isabel. Era chamada de vagabunda, vadia, nojenta, e culpada pelo que o marido estava sofrendo.
Seu marido André também foi preso e torturado. Ameaçado de morte (terror), espancado. Os dois ficavam separados o que aumentava o desespero de ambos, pois apenas tinham acesso aos gritos e gemidos um do outro. Isabel relata que Lacaito carregava uma corrente com uma caveira pendurada na ponta, onde os nós delas representavam a morte de comunistas. Parte dos soldados não aprovavam o que estava acontecendo. Contudo, estavam coagidos pelo poder instituído.
Análise – O reitor da Unila (Universidade Federal da Integração Latino Americana), cientista social, Helgio Trindade, também estava presente na manifestação. Ele classificou o protesto como uma repulsa às torturas e um estímulo à memóriaa. Na opinião dele, o problema tem origem na anistia política em 1979 no Brasil, que no fundo um pacto entre “vencidos e vencedores”.
“A tendência é que muitos fatos políticos importantes sejam esquecidos no Brasil. Em outros países, como Uruguai, Chile e Argentina, o julgamento de torturadores, inclusive com prisão reavivo mais, geraram museus, memorais. Atos simbólicos para tortura nunca mais voltar”, analisou.
Agressão – O estudante Allan Camargo fez outra denúncia contra o advogado, envolvendo uma agressão física ocorrida na manhã desta sexta-feira, 28, na Avenida Brasil. A queixa foi registrada num boletim de ocorrência na 6ª Subdivisão Policial (SDP).
“Enquanto colávamos um cartaz na Avenida Brasil, uma senhora chegou e perguntou o que era. Eu expliquei que se tratava de uma denúncia contra torturadores. Então ela arrancou o cartaz da minha mão e me agrediu com um soco no rosto. Nisso um senhor me segurou pelo braço e roubou os cartazes. Posteriormente fiquei se tratava da filha do Espedito e do próprio Espedito”, narrou.
Fonte- Megafone
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