DOI-Codi no Rio tinha salas de tortura “caixinha de música” e “boate”

O imóvel de dois andares onde ainda hoje funciona o PIC (Pelotão de Investigações Criminais), que durante o regime militar — entre os anos de 1969 e 1985– abrigou o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), no 1º Batalhão de Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, possuía salas preparadas especialmente para que os presos políticos da época fossem torturados.

Parlamentares federais da Comissão da Verdade e representantes do Ministério Público visitam o prédio onde funcionava o DOI-Codi

Parlamentares federais da Comissão da Verdade e representantes do Ministério Público visitam o prédio onde funcionava o DOI-Codi

Em uma delas, conhecida como “geladeira” ou “caixinha de música”, o detento ficava isolado em um ambiente de baixíssima temperatura, e era obrigado a escutar um barulho que se assemelhava ao som emitido por uma turbina de avião. O relato é de Cid Benjamin, que ficou preso no DOI-Codi durante quase dois meses em 1970, e hoje trabalha no setor de comunicação da Comissão da Verdade do Rio.

Já a última sala à direita do corredor principal do prédio era conhecida como “boate” ou “sala roxa” em função de um jogo de luzes que davam ao ambiente um “tom macabro”. Lá, de acordo com Álvaro Caldas, membro da Comissão da Verdade, centenas de pessoas foram torturadas.

“Podem ter mudado um pouco da configuração arquitetônica, mas tudo continua lá. Eu reconheci o local. O corredor principal, as celas que estavam à minha direita, as salas de tortura, inclusive a chamada sala roxa, continuam lá”, disse. “Eu reconheci o local onde eu fui preso e torturado.”

Em sessão das comissões Nacional e Estadual da Verdade no Rio, o advogado José Carlos Tórtima (à direita) acusa o major Walter Jacarandá de tê-lo torturado durante a ditadura militar (1964 – 1985). “Nunca é tarde, major, para o senhor se conciliar com essa sociedade ultrajada por essas barbaridades que pessoas como o senhor cometeram”, afirmou Tórtima. O militar admitiu ter participado de sessões de tortura no DOI-Codi, no Rio. Foram ouvidos seis ex-presos políticos que foram presos e torturados nas dependências do DOI-Codi, localizado na rua Barão de Mesquita, na Tijuca. A audiência pública tratou da morte, no mesmo local, de Mário Alves, líder do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), em 1970 Thiago Vilela/CNV

Caldas visitou o prédio do antigo DOI-Codi na manhã desta segunda-feira (23), acompanhado de políticos e membros das esferas federal e estadual da Comissão da Verdade. Segundo o senador João Capiberibe (PSB-AP), presidente da subcomissão da Verdade e Justiça no Senado, a visita fez com que a comissão “se aproximasse” das Forças Armadas.

Capiberibe disse ainda que os trabalhos da Comissão da Verdade serão “fundamentais” no sentido de fomentar o debate acerca do “reconhecimento pelo Exército da memória da ditadura”.

De acordo com o relato de Benjamin, o primeiro andar do DOI-Codi tinha cinco celas –entre as quais as salas de tortura– destinadas aos presos que eram submetidos ao regime de solitária. Os espaços de tortura ficavam à direita.

O segundo andar, por sua vez, era onde ficavam as celas coletivas. “Mandavam pra lá os presos que já tinham participado de interrogatório ou os casos menos importantes”, lembrou Benjamin.
“Reconciliação”

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), vice-presidente da subcomissão de Verdade e Justiça, afirmou ao fim da visita que a atividade de hoje foi o “início da verdadeira reconciliação nacional”, pois “não se pode virar uma página que não foi lida”.

“Saímos daqui com o sentimento de missão cumprida. Visitamos o espaço que foi um dos principais centros de tortura da ditadura militar. E saímos conscientes de que esse é o início da verdadeira reconciliação nacional”, disse. “Nenhum dos países que passou por períodos tortuosos e de estado de exceção conseguiu se reconciliar sem antes buscar a verdade.”

Antes de entrar no 1º Batalhão de Polícia do Exército, Rodrigues se envolveu em uma confusão com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP), parlamentar que se diz contrário à Comissão da Verdade, e que tentou acompanhar, em vão, a visita ao prédio do DOI-Codi.

Capiberibe lembrou que, logo após a formação da Comissão a Verdade, o Exército se negou a dar informações sobre o período da ditadura militar. O senador afirmou que o comandante-geral do Exército e o ministro da Defesa, Celso Amorim, serão chamados em breve para um debate mais aprofundado sobre a atuação dos militares após o Golpe de 1964.

“O fato de nos negar informação histórica mostra que existe um tabu. E que cabe a nós rompermos esse tabu dentro do Exército. Vamos procurar o comandante do Exército para temos uma discussão sobre o reconhecimento pelo Exército, e não apenas pela sociedade, de que nós vivemos uma página cruel de repressão e violência”, declarou.

“Vivi nove anos no exílio, e o que se sabia sobre o Brasil? Era a terra do Pelé e das mulatas. Hoje a democracia colocou o Brasil na agenda global, na agenda da economia, na agenda social e na agenda de mudanças”, disse Capiberibe. “A democracia vale a pena.”

Fonte- UOL

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Exército veta Luiza Erundina na visita ao Doi-Codi do Rio

 Os senadores da subcomissão da Verdade, Memória e Justiça da Comissão de Direitos Humanos do Senado João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) não vão mais visitar o Doi-Codi do Rio, um centro de tortura na ditadura. A visita estava prevista para a próxima sexta-feira, em acordo com o Ministério da Defesa e o Comando do Exército. Diversas barreiras vem sendo colocadas à visita, e a mais recente foi o veto à deputada Luiza Erundina (PSB-SP). O Ministério da Defesa informou que esse assunto será objeto de tratativas nesta tcrimes-na-ditaduraerça e quarta e que aposta numa solução que resolva o impasse.

Desde que foi combinada a diligência, no início de setembro, os assessores parlamentares do Exército vêm negociando com os senadores como vai se dar a visita. Presidente da subcomissão da Memória, Capiberibe afirmou que foram colocadas muitas objeções por parte dos militares. Um dos assessores parlamentares do Exército comunicou ao gabinete de Capiberibe que estava vetada a ida de Erundina ao Doi-Codi.

Desde o início, os militares queriam restringir a visita aos dois senadores e a representantes da Comissão da Verdade do Rio, que já foi impedida de visitar o prédio há algumas semanas. Capiberibe vai enviar um oficio ao ministro da Defesa agradecendo o convite e comunicando o cancelamento da visita. Amanhã, quarta-feira, os senadores vão colocar em votação requerimento de autoria de Randolfe que aprova visita de um grupo ao Doi-Codi.

— E ali vamos colocar os nomes que desejarmos, sem interferências do Exército, inclusive da deputada Luiza Erundina — disse Capiberibe.

Randolfe disse que, desde o início, os militares demonstravam receio com a visita

— Os militares vinham tratando essa visita como uma coisa do outro mundo. Havia um cerco dos militares. Não vejo como algo extraordinário, mas uma diligência qualquer, como a qualquer órgão público. Ouvimos dos militares que não poderíamos criar constrangimento às Forças Armadas. E esperamos é que as Forças Armadas não causem constrangimento à democracia com esses vetos e impondo tantas limitações — disse Randolfe Rodrigues.

Os militares informaram que não há qualquer restrição ou óbice ao nome de Erundina e que foi feito um pacto para que a comitiva não se estendesse a outros nomes porque abriria demais o grupo. Os militares argumentam que podem até marcar uma nova visitação ao Doi-Codi incluindo o nome de Erundina no grupo.

Luiza Erundina considerou o veto a seu nome inaceitável e um desrespeito ao seu mandato e ao voto popular. A deputada atribui o impedimento de integrar a comitiva ao Comando do Exército. Erundina associa a resistência a seu nome ao fato de ser autora de um projeto que prevê punição para agentes do Estado do período da ditadura.

— A impressão que temos é que as liberdades democráticas não estão em vigência. Meu mandato popular está sendo limitado e desrespeitado por uma autoridade que nem outro Poder é. Não vou aceitar essa restrição a meu nome e o episódio mostra a dificuldade de se chegar à verdade dos fatos daquele período do país, quando vivemos uma dura ditadura — disse Luíza Erundina.

O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous, afirmou que “infelizmente os ventos da democracia não sopraram no Exército brasileiro”, em nota nesta terça-feira.

Para Damous, vetar a presença de parlamentares por motivos político-ideológico “mostra uma nostalgia dos tempos ditatoriais”. “Nenhum quartel do Exército é propriedade privada dos militares mas sim do povo brasileiro que, com os seus impostos, constrói esse país”, afirmou.

Wadih espera que o senado aprove o requerimento onde se solicita a visita e nomeie a comissão de parlamentares para proceder a entrada nas dependências do antigo Doi-Codi.

Fonte- O Globo

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MPF/GO e Comissão Nacional da Verdade investigam desaparecimento de corpos de militantes

Operação limpeza em 1980 sumiu com restos mortais de marcio beck machado - desaparecido - ficha dops - frente, enterrados clandestinamente numa fazenda em Rio Verde em 1973; médico que afirma ter atuado como legista foi ouvido pelo MPF e a CNV

A Comissão Nacional da Verdade e o Ministério Público Federal em Goiás investigam a operação limpeza realizada em 1980 para desaparecer com os corpos dos militantes do Movimento de Libertação Popular (Molipo), Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck, assassinados numa operação militar em 17 de maio de 1973 e enterrados em uma cova clandestina no município de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, no interior da fazenda em que os dois estavam escondidos desde o início daquele mês.

Os corpos foram enterrados no interior da fazenda no mesmo dia em que ocorreu o assassinato. Em 1980, quando familiares de Maria Augusta e jornalistas promoviam investigações para localizar os corpos em Rio Verde, os restos mortais foram desenterrados da propriedade rural e levados para outro local, desconhecido, por uma equipe federal.

O trabalho foi apressado e alguns dentes e pequenos fragmentos de ossos ficaram no local e foram encontrados e entregues para perícia em 1980, bem como alguns dos cartuchos de projéteis de arma de fogo encontrados na fazenda. O material está sendo procurado nos arquivos da Justiça Estadual de Goiás, mas ainda não foi localizado.

Depoimentos – Na segunda-feira, 16 de setembro, integrantes do GT Graves Violações de Direitos Humanos da CNV e o procurador da República Wilson Rocha Assis, da Procuradoria da República em Rio Verde, ouviram o caseiro Eurípedes João da Silva, de 62 anos, que participou do enterro de 1973.

Silva, Margarida Alair Cabral Faria e Pedro Bonifácio de Faria, filha e genro de Sebastião Cabral, dono da propriedade, também ouvidos pelo MPF e pela CNV. Os três confirmaram que o caseiro, o dono da fazenda e mais duas pessoas foram obrigados pelo coronel da PM Epaminondas Nascimento, que exercia a função de delegado em Rio Verde, a enterrar os corpos de Maria Augusta e Beck dentro da fazenda.

“Durante um mês meu sogro teve que dormir na delegacia e durante dois anos ele ficou afastado da propriedade. Não podia vir aqui”, contou Pedro. “Na inocência, a gente achava que era para proteger ele. Diziam que os terroristas poderiam voltar, mas, com o tempo, percebemos que era uma forma de seguir seus passos”, disse Margarida.

Cabral e a família sofreram com os prejuízos causados pela “interdição” da fazenda e por uma investigação pelo crime de ocultação de cadáver, que lhe custou muitas terras para pagar os honorários advocatícios. “Ele perdeu um terço das terras para pagar advogados”, contou o neto Pedro Bonifácio de Faria Filho. “Além disso diziam que a fazenda era assombrada. A gente tinha medo de vir aqui”, contou Ana Maria Cabral Faria, também neta de Cabral.

Eurípedes não esquece a cena que viu, no fim da tarde de 17 de maio de 1973. Ele recebeu ordens para retirar os corpos de Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck de dentro do casebre em que eles moravam e foram mortos.

Lembrança – “O rapaz estava na cozinha e ela em cima da cama. Os tiros atingiram somente a parte de cima dos corpos. Havia muito sangue. O dela entrava no colchão e formou uma poça embaixo da cama”, afirmou. Segundo Eurípedes, sua esposa ficou traumatizada com o evento e foi internada. “A mulher acabou”, disse ele. “A gente peleja para esquecer, mas lembra”, afirma o caseiro, que levou a CNV e o MPF até a área onde ficava a casa e, dois quilômetros mais a frente, ao local do primeiro sepultamento do casal.

Margarida contou que “Neusa” e “Raimundo”, como Maria Augusta e Márcio eram conhecidos na fazenda, se afeiçoaram muito de seu filho mais velho, que os dois eram pessoas muito boas e que, apesar de terem se oferecido para serem meieiros na fazenda, era nítido que eram da cidade e que não tinham intimidade com a roça.

“Tudo o que queremos é poder dizer aos pais e aos parentes deles que nosso pai foi obrigado a fazer o que fez, que ele também foi prejudicado”, contou Margarida. Segundo a filha do dono da fazenda, sua mãe acendeu velas num colchete (porteira) da fazenda, mas foi recriminada pelos envolvidos no crime.

Pesquisadores do grupo de trabalho Graves Violações de Direitos Humanos da CNV localizaram no Arquivo Nacional um documento do Serviço Nacional de Informações (SNI) que dá informações sobre a busca dos familiares e jornalistas pelos corpos de Maria Augusta e Márcio e demonstra “preocupação” com a descoberta do paradeiro dos corpos e com o resultado das denúncias feitas por eles sobre o enterro clandestino e a operação limpeza.

O documento menciona que o SNI temia que autoridades e policiais militares que tinham conhecimento do enterro e da operação limpeza poderiam passar informações para a imprensa e para a Justiça, caso os jornalistas insistissem na busca por informações.

Na manhã dessa terça-feira, 17 de setembro, a CNV e o MPF ouviram o médico cardiologista Vicente Guerra, que entre 1970 e 1996 integrou o corpo médico da Polícia Militar de Goiás. Apesar de seu nome ser mencionado no documento do SNI como o de uma das pessoas que sabiam do local de sepultamento, Guerra nega ter participado do enterro, em 1973, e da operação limpeza, em 1980.

O médico afirma que foi levado à fazenda para analisar a cena do crime, de manhã, cerca de 6 horas após o que classificou de “barbárie”. Segundo ele, militares à paisana, provavelmente do Exército, comandaram o trabalho pericial e exigiam rapidez do médico, que afirma ter encontrado o corpo de Beck do lado de fora da casa e o de Maria Augusta ao lado da cama.

Segundo Guerra, houve um cerco a casa e foi usado armamento pesado pelas forças da repressão e um obus derrubou uma das paredes do casebre. Ele afirma ter sido intimado a ir ao local ver os corpos, acompanhado de um fotógrafo da cidade, cujo nome não se recorda, e elaborar um laudo.

De acordo com o médico, ele chamou um sargento para acompanha-lo. O ex-capitão médico afirma que Maria Augusta estava armada e que ela fez uma atadura no braço direito ferido e teria continuado a atirar com a mão esquerda. O médico afirma que a causa mortis foi hemorragia aguda causada por lesões perfuro-contusas de arma de fogo.

O médico da PM afirma que também esteve em Xambioá, palco da Guerrilha do Araguaia, em janeiro de 1973, onde atuou como médico nas comunidades locais a convite do Exército.

Fonte- Comissão Nacional da Verdade

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Comissão da Verdade, senadores e deputados farão visita ao prédio do DOI-Codi

Uma comitiva de senadores e deputados federais, acompanhada de representantes da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão da Verdade do Rio, fará uma visita na próxima sexta-feira, dia 20, às 10h, ao prédio em que funcionou o DOI-Codi, no interior do I Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca.

Uma primeira tentativa de visitar o local no dia 21 de agosto foi frustrada pelo Exército. Posteriormente, numa reunião de senadores com o ministro da Defesa, Celso Amorim, e o comandante do Exército, general Enzo Peri, foi dada a permissão para a visita num outro dia.

O DOI-Codi foi o principal centro de torturas e assassinatos de presos políticos na ditadura militar brasileira e a visita às suas dependências é o primeiro passo de uma campanha para o tombamento de seu prédio e sua transformação num centro de memória – tal como foi feito em locais simbólicos da repressão política em Buenos Aires, Santiago, Montevidéu e, também, São Paulo, com o Dops.doi codi rj

Fonte- Comissão da Verdade do Rio de Janeiro

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Comissão da Verdade tem acesso a dados do Ministério do Trabalho sobre perseguição de sindicalistas durante a ditadura

O Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade (CNV) iniciou, na última semana, o reconhecimento de arquivos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para o grupo, o acervo do MTE é importante para o entendimento da história do trabalho e do sindicalismo brasileiros e aos quais sindicalistas e historiadores reivindicam acesso há anos.
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Diversos historiadores já tiveram acesso aos depósitos, onde encontraram documentos que remontam à então Divisão de Segurança e Informações e que tratam de violações aos direitos trabalhistas e sindicais cometidas na ditadura, como cassações de dirigentes sindicais e intervenções em sindicatos por motivos políticos e repressão a greves legítimas.

Equipes do Arquivo Nacional localizaram estes arquivos e comprovaram sua existência em relatórios. A partir de então, a coordenadora do GT, Rosa Cardoso, e o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, iniciaram diálogo e as portas do MTE foram abertas à CNV.

O ministério designou uma equipe para auxiliar a CNV e determinou a transferência dos documentos ao Arquivo Nacional, o que representa um ganho inestimável não apenas para as investigações da CNV, mas também para historiadores, sociólogos e demais pesquisadores do trabalho e do sindicalismo brasileiros.

O primeiro reconhecimento destes arquivos aos pesquisadores da CNV ocorreu nos últimos dias 29 e 30 de agosto e, apenas na primeira visita, já foram encontradas informações sobre cassações de sindicalistas, intervenções em sindicatos, repressão a greves e indícios da atuação da Divisão de Segurança e Informação (DSI) do MTE e de Assessorias de Segurança e Informação (ASIs).


O MTE também forneceu à CNV acesso aos processos e à base de dados da Comissão de Anistia do MTE para dirigentes sindicais perseguidos. Estes processos são uma fonte valiosa para o entendimento da perseguição e repressão política a trabalhadores e sindicalistas durante a ditadura.

O acesso à documentação do MTE era uma das prioridades do coletivo sindical de apoio ao Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, da CNV, que reúne representantes de 10 centrais sindicais que apoiam o GT e de diversas entidades sindicais de memória operária e de trabalhadores anistiados, perseguidos e ex-presos.

O Ministério do Trabalho está comprometido em realizar a limpeza do material encontrado e a identificação sumária de seu conteúdo, o que é prioritário para a CNV. A medida é fundamental para que o acervo seja levado ao Arquivo Nacional o mais rápido possível.


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Comissões da Verdade se multiplicam sem avançar investigações

A Prefeitura de São Paulo decidiu criar sua própria Comissão da Verdade para apurar violações aos direitos humanos durante a ditadura militar (1964-85). Será mais uma entre as quase cem comissões que já funcionam no país –ao menos 75 grupos atuam em 21 Estados, segundo a Comissão Nacional da Verdade.
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Em muitos desses comitês, porém, seus próprios integrantes reconhecem a dificuldade para esclarecer crimes.

Seja por baixos orçamentos, falta de dedicação exclusiva de seus membros ou limitações impostas ao trabalho, os grupos que se espalham pelo país se notabilizam por reciclar assuntos já conhecidos, sem de fato contribuir com esclarecimentos sobre o período.

São comissões em funcionamento em Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais, universidades e até institutos ambientais. Em muitos casos, o objetivo assumido é um só: ganhar os holofotes.
Editoria de Arte/Folhapress

“Há um deficit de informações no país sobre a ditadura. As comissões se movem, muitas vezes, só para agitar o tema”, afirma Gilney Viana, coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.

“Não é só o caráter de investigação, existe também o debate educativo sobre a ditadura, especialmente para as novas gerações”, concorda o vereador Gilberto Natalini, presidente da comissão municipal de São Paulo.

Para Wadih Damous, que preside a comissão estadual do, o trabalho não consiste apenas em revelar fatos novos, “mas sistematizar tudo aquilo que já se sabe”. “Possivelmente alguns episódios não vamos conseguir esclarecer”, reconhece.

Damous destaca entre os feitos da comissão do Rio o depoimento do coronel reformado Walter da Costa Jacarandá, mês passado, em que o militar admitiu ter participado de sessões de tortura.

Para historiadores, como o professor Carlos Fico (UFRJ), esses locais não têm conseguido avançar em termos de solucionar casos do período, apontar responsabilidades por mortes e localizar desaparecidos políticos. “Até agora, todos os fatos que vieram a público já eram conhecidos pela historiografia. Esperavam-se fatos novos”, disse.

Em alguns casos, entidades têm criado comissões temáticas, como a da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, a dos indígenas ou a dos jornalistas.

Apesar das dificuldades, Fico afirma ser positivo o surgimento de comitês com foco delimitado. “Mesmo que essas comissões locais não tenham desempenho muito visível, e não temos visto resultado dessas comissões, elas poderão, quem sabe, trazer resultados mais específicos.”

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Pinochet também espionou o Brasil durante a ditadura de parceiros militares

O ditador chileno Augusto Pinochet, que chegou ao poder há 40 anos com amplo apoio brasileiro, obteve por meio de espionagem informações estratégicas dos arquivos de Brasília. Um documento de circulação “ultrassecreta” do Conselho de Segurança Nacional brasileiro – colegiado ligado ao Palácio do Planalto e responsável pelos assuntos mais sepinochetnsíveis do País – foi parar nas mãos do próprio Pinochet, em meados de 1975. A prova da “bisbilhotice” do regime militar do Chile contra aditadura brasileira está em telegramas chilenos secretos e recentemente liberados, aos quais o jornal O Estado de São Paulo teve acesso.

O embaixador do Chile em Brasília após o golpe de 1973, Hernán Cubillos Leiva, conseguiu uma cópia do relatório “Conceito Estratégico Nacional”, que detalhava os princípios de segurança interna e externa do regime militar brasileiro. O documento está hoje no Arquivo Nacional de Brasília. Nos despachos a Santiago, Cubillos não explica como conseguiu chegar ao dossiê “ultrassecreto”, a classificação mais restrita dentro do Estado brasileiro, dizendo apenas que o roubo da informação foi produto de suas “gestões”.

“Rogo fazer chegar uma cópia ao sr. presidente da República”, escreveu o embaixador no Brasil ao final de seu telegramas à chancelaria. A resposta de Santiago à embaixada em Brasília veio coberta de elogios ao feito de Cubillos. O documento brasileiro tinha sido lido “com atenção” nos círculos do poder chileno, escreveu a chancelaria. Mas havia um problema: faltavam algumas páginas. Consultado, Cubillos respondeu que não conseguiria obter a parte perdida.

O caso de espionagem ocorreu num momento de ampla cooperação entre Chile e Brasil, como reconhecia o embaixador chileno. Em um outro telegrama secreto enviado a Santiago na mesma época, Cubillos relata como diplomatas brasileiros ajudavam chilenos em organizações internacionais e louvava as relações entre os militares dos dois lados.

“O Brasil apoiou praticamente todas as candidaturas chilenas apresentadas em organismos internacionais, tanto regionais quanto mundiais. Do mesmo modo, o Brasil apoiou e colaborou com o Chile para fazer frente à agressão internacional de que (fomos) vítima (após o golpe)”, escreveu o diplomata em Brasília, em junho de 1975.

“Também é de interesse destacar o excelente plano das relações (…) entre as Forças Armadas dos dois países, que teve como resultado o significativo intercâmbio de visitas e experiências, além do apoio institucional que nos têm brindado.”

No fim de novembro daquele ano, seria realizada em Santiago a primeira reunião do Plano Condor, a macabra aliança entre países do Cone Sul para internacionalizar a repressão a opositores políticos nos anos de chumbo.

Fonte – Correio do Brasil

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Quarenta anos depois, de volta ao exílio no Chile

Manhã de 11 de setembro. Raul Ellwanger, 25 anos, acorda antes do horário normal. Uma greve de caminhoneiros provoca a escassez de alimentos, e quem não chegar cedo à fila do armazém corre o risco de ficar sem comida. Ao voltar para casa, na avenida Eliodoro Yañez, em Santiago, Ellwanger ouve pelo rádio as primeiras informações s

General Pinochet desfila após golpe que matou presidente Allende / Foto: AFP / CP

General Pinochet desfila após golpe que matou presidente Allende / Foto: AFP / CP

obre o golpe que estava em curso. Horas depois, enquanto descongelava a carne chinesa que havia sido comprada para o almoço, vê pela janela da cozinha os caças Hawker Hunter sobrevoarem o Palácio de La Moneda.

Naquela manhã de 1973 teve início uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina. Sob comando do general Augusto Pinochet, o regime durou até 1990 e provocou a morte ou o desaparecimento de cerca de 50 mil pessoas – embora não haja consenso sobre os números. O início da ditadura fez com que milhares de exilados políticos que viviam em solo chileno tivessem de procurar abrigo novamente.

Quarenta anos após o golpe, Ellwanger e um grupo de 15 ex-exilados irão pisar nas ruas de Santiago novamente. Eles embarcam na próxima semana com o objetivo de fazer um agradecimento pela acolhida que receberam durante o governo do socialista Salvador Allende, eleito presidente em 1970. A iniciativa é promovida pelo Comitê Carlos de Ré.

A agenda do grupo em Santiago inclui visitas ao Museo Nacional de La Memoria e a lugares históricos, como o Estádio Nacional, transformado em campo de concentração após o golpe, e o Palácio de La Moneda, sede do governo, que foi bombardeado na manhã de 11 de setembro de 1973. Uma das principais atividades ocorre no dia 9, na Alameda O’Higgins, local onde o poeta cachoeirense Nilton Rosa da Silva foi morto com um tiro na cabeça durante uma manifestação, em junho de 1973. Ele e outras vítimas serão homenageadas.

No dia 11, Ellwanger fará uma apresentação musical na Villa Grimaldi, espaço que também foi utilizado como centro de tortura pelos militares chilenos. O tom não será de revanche, mas de agradecimento. “Queremos manifestar a gratidão com que fomos recebidos e salvos pelos chilenos. Muitas pessoas que hoje são importantes, entre cientistas, artistas, políticos e professores, salvaram-se por causa disso”, justifica o músico, que coordena a excursão.

Assim como muitos conterrâneos, que tiveram que deixar o Brasil após o Ato Institucional nº 5 e o recrudescimento da ditadura militar, o músico gaúcho Raul Ellwanger procurou abrigo no Chile. “Foi como um renascimento”, recorda. Calcula-se que mais de 5 mil brasileiros tenham tomado o mesmo rumo – entre eles intelectuais como Paulo Freire, Ferreira Gullar e Fernando Henrique Cardoso.

Com documento “mais falso do que nota de mil”, Raul Ellwanger, militante da organização VAR-Palmares, chegou ao Chile no final de 1970. Naquele ano, o cerco do regime militar ao grupo ao qual ele pertencia havia aumentado. “Em janeiro, caiu a Dilma (Rousseff, atual presidente da República, que integrava a mesma organização). Em agosto, o Carlos Araújo (ex-marido de Dilma). Aí são presos mais ou menos 40”, recorda o músico. Ellwanger, por sua vez, fora condenado à prisão por envolvimento com grupos clandestinos, com base na Lei de Segurança Nacional.

Governado por um socialista democraticamente eleito, Salvador Allende, o Chile representava uma esperança de acolhimento. “Era o único país em que podíamos entrar sem passaporte”, confirma o músico. Em pouco tempo, ele recebeu uma bolsa de estudos na Universidad de Concepción – cidade localizada 500 km ao sul de Santiago –, assistência médica e um lugar para morar. No semestre seguinte, Ellwanger transferiu-se para o Instituto Pedagógico, em Santiago. Viveu na Capital chilena até 1973.

Ao contrário do exilado que nem sequer desfaz as malas, já pensando no dia da volta, o músico tratou de adaptar-se ao novo país. “Pensei: vou ficar vários anos aqui”, lembra. Para permanecer, necessitava de autorização expedida pelo Ministério do Interior do Chile. Raul guarda até hoje o último “documento de radicación”, que ele obteve na sede do ministério no Palácio de La Moneda. O que chama a atenção é a data: 10 de setembro de 1973 – um dia antes do golpe que forçaria o músico a procurar um novo abrigo.

No Chile, Ellwanger viveu com o também gaúcho Roberto Metzger – ao filho dele, dedicou a música O Pequeno Exilado, gravada por Elis Regina. O sustento vinha do trabalho como tradutor em português, francês e espanhol para a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. A atividade política continuava, assim como a música. Como Santiago abrigava exilados de várias nacionalidades, ele passou a ter contato com culturas desconhecidas até então – que influenciariam futuras composições. “As rodas de violão eram um festival latino-americano”, define. “O privilégio que tive foi chegar até a informação de que existiam aquelas músicas. Foi uma descoberta.”

Poucas semanas antes do golpe, Ellwanger viu o general Augusto Pinochet tomar posse como novo comandante do Exército chileno. Ante disso, o Tancazo, como ficou conhecida uma das insurreições de militares contra o presidente Allende já parecia anunciar que a experiência de um governo socialista estava ameaçada. Com a consumação do golpe e a morte de Allende – que cometeu suicídio –, o músico procurou abrigo na casa de amigos. “Imediatamente tem o toque de queda: a ordem é atirar em que andar na rua”, conta. Depois, ele saberia que o amigo Metzger fora preso e levado ao Estádio Nacional, e que a casa onde viviam havia sido saqueada pelos militares. (Mais tarde, Metzger embarcaria para Portugal.)

Chilenos favoráveis ao golpe passaram a denunciar brasileiros que viviam no exílio. Ellwanger escondeu-se na casa de amigos. “Eu saía no porta-malas de um carro. Numa esquina que ninguém via, eu parava e me mandava”, detalha.

A solução foi cruzar a fronteira mais uma vez. Desta vez, Ellwanger foi parar na Argentina. Chegou a tempo de assistir a posse de Juan Domingo Perón como presidente, no dia 12 de outubro de 1973. Voltou ao Brasil apenas em 1977, após a prescrição da pena pela qual havia sido acusado. Deu continuidade à carreira como músico e gravou dez álbuns. Entre suas músicas mais conhecidas estão Pialo de Sangue e Cigana Tirana. Ellwanger teve composições gravadas por Mercedes Sosa, Beth Carvalho e Elis Regina, entre outros. Aos 65 anos, ele vive em Porto Alegre.

Fonte- Correio do Povo

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Lançamento Regional do Fórum Mundial de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul

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Leia abaixo a a manifestação  de Chris Rondon em representação das 47 entidades que compõe o Comitê Organizador do Sul, incluindo o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiçal, por ocasião do lançamento regional do Fórum Mundial dos DDHH nesta segunda-feira (02/09), no Palácio Piratini, em Porto Alegre.

 

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CARTA DO COMITÊ DE MOBILIZAÇÃO RS PARA O FÓRUM MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS

A ideia de realização de um Fórum Social Mundial de Direitos Humanos, evento que reunirá no mesmo espaço, sociedade civil, movimentos sociais e instituições públicas, surge num momento muito importante.

Muitos de nós, se não todos e todas, fizemos parte ou coro junto às reivindicações populares por melhorias na qualidade e nas condições de vida de brasileiros e brasileiras. Nestes episódios, ficou bastante nítido que o atendimento a esta complexa demanda exige que a democracia brasileira incorpore urgentemente novos valores, onde a marca a ser estabelecida é a cumplicidade entre as decisões de Estado e as necessidades do povo. O desenvolvimento econômico e social, perseguido à exaustão pelos governantes e forças produtivas, precisa estar combinado com inadiáveis avanços na prestação de serviços públicos, que são direitos de todas as pessoas, especialmente nas áreas da saúde e educação, pois as marcas das desigualdades sociais acumuladas ao longo de nossa história levarão ainda algum tempo para terem seus efeitos neutralizados.

Sendo assim, o fato deste fórum ser realizado em nosso país abre espaço para discussão a respeito da nossa própria realidade, além da participação expressiva das nossas organizações.

O comitê de mobilização do Rio Grande do Sul iniciou sua organização no dia 12 de agosto. Desde então realizou reuniões todas as segundas feiras, congregando mais de 40 entidades, instituições e organizações da sociedade civil, representando uma grande diversidade de frentes em que atuamos. Para nós, este ato sinaliza o “início” do processo do Fórum Mundial dos Direitos Humanos.Acreditamos que a partir desta data já estamos em “fórum” e a articulação das grandes conferências, das mesas redondas, dos grupos de trabalho, serão etapas que culminarão em Brasília, mas que lá também não devem se encerrar.

Temos imensa expectativa com a realização deste Fórum. Compartilhamos a ideia de que a pauta dos Direitos Humanos tem ocupado cada vez mais espaços e relevância, mas nem sempre com notícias boas. A esse respeito, lamentamos o fato de que boa parte de nossas energias ainda tenham que ser dirigidas ao acolhimento de vítimas de violência e violações, sem que tenhamos meios e muitas vezes canais adequados para somar esforços junto às instituições. A qualificação dos canais entre a ação da sociedade civil e poder público deve ser assumida como compromisso tangível, e nesse sentido, apontamos como caminho a valorização da Educação em – e para! – Direitos Humanos, meio pelo qual poderemos enfrentar corporações, preconceitos e tantos entraves conservadores que estigmatizam nossas temáticas, intimidam denúncias e mutilam memórias individuais e coletivas, às vezes pela violência física, às vezes pela simbólica.

Acreditamos que o Fórum Mundial dos Direitos Humanos é um espaço fecundo para discussão e reflexão, abarcando diferentes pontos de vista e, ao mesmo tempo, capaz de projetar uma agenda de cooperação. Um dos objetivos do nosso comitê, portanto, é a organização de espaços de diálogo e de encontro entre diferentes manifestações dirigidas à defesa dos Direitos Humanos.

Em nosso comitê, há aqueles e aquelas que lutam pelas liberdades religiosas, lado a lado com aqueles quem lutam pela prevalência de um estado laico; há quem trabalhe pelo direito à cidadania LGBTe há quem atue no atendimento às mulheres vítimas de violência; há quem atue pela valorização das entidades assistenciais junto às pessoas com deficiência e há também o poder público e suas instituições, como o CONADE e a FADERS. Nosso comitê é marcado pela diversidade, pois nele também há imensa preocupação com as populações em situação de rua, assim como também há quem atue pela integração do contingente imigrante, pois é visível o aumento de populações com estas características. No Rio Grande do Sul, a perspectiva desenvolvimentista também requer atenção, pois dela deriva também uma nova onda migratória, gerando novas demandas, além de um aumento significativo na pressão sobre os serviços públicos.

Também revelamos aqui neste ato, total sintonia com as pautas reivindicatórias das comunidadesquilombolas e indígenas, pois num país onde ainda viceja a desigualdade, são nestas temáticas que percebemos, muitas vezes, os efeitos reversos do tão almejado crescimento econômico. A posse da terra, tanto quanto a preservação de suas manifestações culturais, ainda requer maior atenção, bem como mecanismos institucionais dotados de poder e participação para que estas reivindicações sejam devidamente processadas. A mesma realidade, nesse sentido, também é compartilhada pela juventude negra, a mais discriminada e vitimizada entre os do “andar de baixo”.

As lutas mais atuais das organizações representadas no nosso comitê estão irmanadas com o conceito de “Memória, Verdade e Justiça”, que por sua vez não deve ser compreendido apenas como resgate de um passado “apagado”, mas especialmente pelo que isso significa no presente. A impunidade antiga estimula a violência estatal atual. A ocultação da verdade recria a cegueira social. O esquecimento da violência desarma a população ante o arbítrio contemporâneo.

A truculência das PM, a criminalização dos movimentos sociais, o famigerado “sistema” penitenciário, a tortura velada nas investigações,a cumplicidade corporativa das forças policias, e a leniência judicial, também se mantêm como heranças perversas que trazemos do regime de 1964 e se mostram de modo cruel na vida cotidiana como intolerância, preconceitos de raça, de gênero, de classe, de opção política, de bairro e orientação sexual.

Entre a tirania e a democracia, nossa “Justiça de Transição” segue incompleta, acobertando com a legalidade de hoje as perversidades de ontem, o que acaba por contaminar as esferas sociais com seu legado de dor, vergonha e medo. É preciso julgar, reparar e não repetir.

Nossa declaração segue como ilustração dos nossos desafios, e estes desafios não são novos, e dado que não são novos, precisam ter contrapartidas renovadas, permeadas pela democracia,  pela valorização e não criminalização das nossas lutas.

 

Porto Alegre, 02 de setembro de 2013

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Fonte: COMITÊ CARLOS DE RÉ

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Carta de Curitiba à presidenta Dilma

Carta de Curitiba à presidenta Dilma Rousseff, sobre os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade: As comissões da verdade, bem como as entidades, instituições e comitês que lutam pelo resgate histórico da verdade, memória e justiça de nosso país, reunidas em Curitiba nos dia 15 e 17 de agosto, aponta diversos itens sobre a atuação da Comissão. Clique na imagem para ler o texto na íntegra .

Carta de Curitiba - agosto 2013-R

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