O dia 21 de maio de 2015 foi escolhido para o lançamento do site do projeto “Memória, Verdade e Justiça no Tocantins”, do Centro de Direitos Humanos de Palmas.
Não foi uma data escolhida por acaso.
Segundo documentos oficiais, no dia 21 de maio de 1972, o lavrador Lourival de Moura Paulino teria cometido suicídio na cadeia de Xambioá – TO, usando para isso as cordas de uma rede que seu filho levou até ele.
Seria essa a história contada ao longo dos anos, envelhecida nas caixas-arquivos do fórum e perpetuada para algum futuro desconhecido, não fosse a revelação de alguns fatos importantes:
– Esse “suicídio” ocorreu durante a ditadura-civil militar, enquanto acontecia no norte de Goiás o episódio conhecido como “Guerrilha do Araguaia”
– Lourival de Moura Paulino era amigo do Guerrilheiro Osvaldão, e foi preso por suspeita de subversão, dia 18 de maio de 1972;
– O processo que relata seu suposto suicídio tem pouco menos que 10 páginas, e foi aberto dia 26 de maio de 1972, 5 dias após sua morte, e oito dias após sua prisão.
– Até hoje o corpo de Lourival de Moura Paulino nunca foi encontrado.
Lourival foi um camponês do Araguaia. São assim popularmente chamados todos aqueles e aquelas que sofreram as piores atrocidades nas mãos do exército brasileiro, durante a Guerrilha.
Ele foi o primeiro camponês a ser assassinado devido à Guerrilha do Araguaia, massacre violento que o Exército brasileiro cometeu a mando do Governo no bico do papagaio.
“Segundo depoimento de Júlio, que na época, aos 17 anos, foi contratado como mateiro pelo Exército, Lourival foi torturado por duas noites seguidas pelo delegado Carlos Marra e por soldados do Exército. Júlio conta que, ao chegar à delegacia, no dia 21/05 pela manhã, “(…) A imagem era assustadora. O corpo de Lourival estava suspenso, a meio metro do chão, amarrado pelo pescoço a uma viga de madeira do teto e vestido apenas com a cueca. Os olhos esbugalhados, pareciam pintados de vermelho. Do lado esquerdo do rosto, o barqueiro tinha um inchaço roxo, do tamanho de uma laranja. A barriga apresentava marcas avermelhadas e longas, que Júlio adivinhou ter sido feitas por pauladas com o cabo de vassoura que viu jogado no canto da cela. (…) As mãos do morto estavam amarradas para trás.(…)”.*
Para muitas pessoas, o estado do Tocantins não vivenciou os absurdos da ditadura. Ou, quando muito fatos relacionadas à guerrilha do Araguaia.
Mas em nosso estado, assim como em todo o país, vivenciamos variadas situações envolvendo militantes, camponeses, militares e policiais civis, durante a ditadura.
O site do projeto “Memória, Verdade e Justiça no Tocantins” tenta trazer à tona parte dessa história, pois só conhecendo a fundo tais barbaridades, podemos nos conscientizar para que elas não aconteçam.
Ditadura civil-militar. Repressão e Resistência que também fazem parte da nossa história.
Divulguem, compartilhem, ajudem a complementar esse espaço de memória e democracia!
Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.
*Fonte: O nome da morte, livro do jornalista Klester Cavalcanti.
http://www.mvjtocantins.com.br/
Centro de Direitos Humanos de Palmas CDHP
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