Câmara abre debate sobre perseguição política durante a ditadura militar

A Câmara de Curitiba sediou, na tarde da segunda-feira (7), a abertura da terceira audiência pública da Comissão Estadual da Verdade (CEV/PR), criada em 2013 pelo governo do Estado. Os trabalhos foram conduzidos pelo coordenador da Comissão da Verdade, professor Pedro Bodê. O presidente do Legislativo, Paulo Salamuni (PV), falou sobre a importância de se abrir as portas da audienciacamaramunicipalCasa para este trabalho. “Para nós, representantes do povo de Curitiba, esta Casa é sinônimo de liberdade. É o limpa trilho de um estado de direito. É muito significativo dizer que nós somos os guardiães da democracia. Nunca mais permitiremos que equívocos cometidos, como os da ditadura militar, voltem a acontecer”, enfatizou.

Para a secretária de estado de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Maria Tereza Gomes, o momento pelo qual passa o Brasil é ao mesmo tempo histórico e emblemático. “O trabalho da comissão tem sido realizado com muito brilhantismo e dedicação. Lamentamos atos do passado, em especial da ditadura. Mas nossa preocupação é também com o presente, para que as violências não se perpetuem”, ponderou Maria Tereza.

Conhecer e ouvir os relatos das vítimas da ditadura militar é a principal motivação para existência da comissão, segundo Glenda Mezarobba, da Comissão Nacional da Verdade. “A razão destas comissões é dar voz às vítimas. Conseguir reconstruir o que aconteceu naquele período a partir do relato daquelas pessoas. É um dever ouvir quem testemunhou e sobreviveu a este período”, pontuou.

Segundo Milton Alves, do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, o colegiado representa um esforço nacional e simbólico pelas ações cometidas durante o regime totalitário. “A comissão enfrenta uma resistência grande de alguns setores conservadores, mas é preciso seguir para resgatar a memória e fortalecer a democracia. Por isso, é importante o parlamento ter essa postura de abertura. A comissão precisa deixar um legado para o Brasil”.

Para o procurador-geral do Ministério Público do Paraná, Gilberto Giacoia, é dever do MP se envolver neste assunto, já que esta é uma prerrogativa constitucional do ministério. “O envolvimento do MP está na sua gênese. Queremos afirmar que pretendemos o aperfeiçoamento democrático, crescimento humano e enxergar pelo retrovisor da nossa história um tempo que não queremos que volte jamais. Queremos tornar nosso país mais justo, ético e comprometido com as políticas de direitos humanos”, enfatizou.

O presidente da Comissão da Verdade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Paraná), Daniel Godoy, comentou que os trabalhos da comissão revelam um momento de tristeza, mas também de esperança quanto a um futuro com menos violência. “Estes relatos são tristes porque lembramos de muitos que sofreram e lutaram, mas não estão mais aqui, porque foram torturados e mortos por um regime edil. A ditadura não foi apenas militar, mas também uma ditadura civil”, enfatizou.

Para Godoy, “o Estado tem o dever de pedir desculpas a estas pessoas. Mas temos a esperança de que estes fatos não irão se repetir. Para isso, é preciso conhecer estas histórias e incentivar as gerações futuras a buscar pelo resgate da condição humana”, finalizou.

Maria Olímpia Carneiro Mochel

A primeira sessão da comissão, intitulada “Maria Olímpia Carneiro Mochel”, contou com os depoimentos de Francisco Luiz de França, para quem “a perseguição não foi exclusiva das ditaduras” e do ex-senador Francisco Leite Chaves.

Wilson Previdi, ex-perseguido político e amigo pessoal de Maria Olímpia Carneiro Mochel, primeira vereadora na Câmara Municipal de Curitiba, falou sobre a trajetória da amiga, eleita em 1947 pelo Partido Social Trabalhista (PST). “Ela quebrou um tabu existente desde o descobrimento do Brasil. Um preconceito que dizia que o dever da mulher era cuidar da casa, da comida e da cama”.

Para Previdi, a atuação de Maria Olímpia foi importante para a derrubada de muitos preconceitos existentes. “Ainda há muito que conquistar, não só para mulheres, mas para sociedade brasileira e mundial, a fim de extinguir a exploração do homem pelo homem. Quem se elege revolucionista e progressista, como foi o caso da Maria Olímpia, está lutando pelo ideal de igualdade, fraternidade e liberdade”, finalizou.

Participação

Estiveram presentes na sessão os vereadores Chico do Uberaba (PMN), Jorge Bernardi (PDT), Pedro Paulo e Professora Josete (PT). Participaram ainda do evento a jornalista Maigue Gueths, do Grupo de Trabalho pela Verdade do Sindicato dos Jornalistas do Paraná, Norton Nohama, da assessoria da Reitoria da UFPR, Maria Aparecida Blanco de Lima, desembargadora do Tribunal de Justiça do Paraná, Vera Chueiri, da Comissão da Verdade da UFPR e do Pastor Fux.

Programação

DIA 08/10/2013 – Terça-feira

Tema: MOVIMENTO ESTUDANTIL, O LEGADO DE UMA GERAÇÃO – Comissão da Verdade da UFPR
14h / 17h – Sessão: Teresa Urban
Orador: Milton Ivan Heller
Depoentes:
1. Judite Trindade
2. Luis Alberto Manfredini
18h / 21h – Sessão: Antônio Três Reis
Orador: Maria do Socorro
Depoentes:
1. Carlos Frederico Marés de Souza Filho
2. Stenio Salles Jacob

DIA 09/10/2013 – Quarta-feira

Tema: OS ARTÍFICES DA
REDEMOCRATIZAÇÃO: MOVIMENTOS SOCIAIS, SINDICATOS E PARTIDOS POLÍTICOS – Comissão da Verdade da OAB/PR e GT pela Verdade do Sindicato dos Jornalistas do Paraná
14h / 17h – Sessão: Manoel Jacinto Correia
Orador: Laercio Sotto Maior
Depoentes:
1. Claudio Benito Antunes Ribeiro
2. Cyro Viegas de Oliveira
18h / 21h – Sessão: Noel Nascimento
Orador: Olympio de Sá Sotto Maior Neto
Depoentes:
1. Cláudio Ribeiro
2. Luiz Eduardo Greenhalg

Sessão extraordinária

Depoente: Mário Expedito Ostrovski,militar à época da ditadura militar, acusado por Isabel Fávero como um dos responsáveis pelas torturas sofridas durante o período em que permaneceu presa.
Local: Auditório Mário Lobo,
Palácio das Araucárias, rua Jacy Loureiro de Campos, s/n, Centro Cívico, Curitiba/PR.
Horário: 9 horas, de quarta-feira, dia 9 de outubro de 2013.

Fonte- Câmara Municipal de Curitiba

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