A Comissão Estadual da Verdade desembarcou na segunda-feira,5, em Apucarana, onde pretende tomar pelo menos 20 depoimentos de familiares e vítimas da ditadura militar. Os trabalhos começaram ontem e devem se estender por esta terça-feira. De acordo com o coordenador da comissão, Pedro Bodê, a estimativa é de que “mais de 100 pessoas” foram alvo de prisões políticas durante o regime que durou de 1964 e 1985, mas o número pode ser maior. “A cada audiência e a cada chamada que fazemos aparecem mais pessoas que foram presas ou torturadas”, declarou.
Ele justificou a escolha da cidade para receber a reunião da comissão pela relevância que o município teve no período: “Apucarana é muito importante e representativa não só na região, mas no Paraná como um todo. Em Apucarana há nomes fundamentais, como o de Antonio Três Rios de Oliveira”, pontuou.
Bodê explicou que a comissão está investigando histórias de presos políticos, mas não tem intenção de criar animosidades. “É contar a história da maneira como ela aconteceu.”
Neide Azevedo Lima, membro da comissão que também está participando dos depoimentos, justificou a escolha lembrando que Apucarana foi um dos lugares do Paraná onde mais ocorreram problemas com a repressão na época da ditadura. Ela disse ter acompanhado a história de Antônio Três Reis de Oliveira, estudante da cidade que foi assassinado pelos militares no começo dos anos 1970, em São Paulo. “Tive uma surpresa muito grande quando eu li na Folha de S.Paulo que o tenente-coronel Maurício Lopes Lima, hoje com 76 anos, declarou publicamente que metralhou Oliveira”, declarou. “Eu levei um choque muito grande porque não achava que ninguém do Exército faria uma declaração tão pesada”, completou.
O prefeito Beto Preto(PT), que teve o pai preso em outubro de 1975, afirmou que “Apucarana, na época da ditadura, era uma cidade diferente”. Ele lembrou que o bispo Dom Romeu Alberti abrigou padres ligados a movimentos sociais, o que chamou a atenção dos militares.
Além disso, 10 moradores de Apucarana foram presos na Operação Marumbi, em 1975, ofensiva do regime contra o Partido Comunista Brasileiro (PCB). O fato de a cidade abrigar uma Companhia, depois transformada Batalhão do Exército, contribuiu para que a repressão aos opositores do regime passasse por ali.
Fonte- Jornal de Londrina/Fábio Silveira
Siga-nos!