Fragmentos da Ditadura: “Não troco um só trabalhador brasileiro por cem desses grã-finos arrumadinhos.” João Goulart

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Às vésperas do golpe civil-militar de 1964, no mês de fevereiro daquele fatídico ano, o governo João Goulart divulga o “Boletim Quinzenal da Secretaria de Imprensa da Presidência da República”, um dos últimos documentos publicados naquela gestão e  cujo valor histórico transcende aquele momento e permite ao leitor trazer para os tempos atuais temas, visões, pautas nacionais e reflexões que persistem no debate contemporâneo, numa demonstração de que o golpe e a ditadura não só não conseguiram resolver grandes problemas nacionais que afligiam milhões de brasileiros e brasileiras como também legou ao longo processo de redemocratização ainda inconcluso heranças econômicas e sociais cuja superação permanecem como um grande desafio para as gerações presentes.

 

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Dois parágrafos da página 5 da referida publicação refletem a visão do Governo João Goulart e em certa medida, as razões do golpe de 1964:

Não se pode compreender, na verdade, que uma indústria progrida, num mercado de 75 milhões de pessoas, onde mais de 42 milhões não podem absorver os produtos fabricados pela indústria nacional. Não se pode compreender também que num país onde mais de 40 milhões de pessoas tem mais de 18 anos de idade, apenas 15 milhões sejam chamados a participar das grandes decisões nacionais.

Democracia verdadeira é aquela que fala pela voz de todos os cidadãos. A verdadeira democracia assegura a todos os cidadãos, maiores de 18 anos, direitos de decidir sobre os destinos da nação. Se eles podem ir para as fábricas, se eles podem viver com um salário-mínimo abaixo de suas necessidades, se podem adoecer sem hospitais, se suas famílias podem sofrer sem ter remédios, se podem trabalhar de sol a sol, podem também participar da vida econômica, política e social do país.” (grifo nosso).

 

O documento fala ainda sobre as “Campanhas de terrorismo ideológico contra o Governo“, “Minoria privilegiada conspira contra a emancipação do Povo“, “Reforma tributária“, “Governo reconhece Confederação dos Trabalhadores do Campo“, “Petrobrás“, dentre outros temas. Veja abaixo o documento na íntegra e que faz parte do acervo DOPS-PR.

 

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