Num ato de “descomemoração” do golpe militar de 1964, um grupo de militantes, formado principalmente por
estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), derrubou no início da tarde da terça-feira (1º) o busto do ex-reitor Flávio Suplicy de Lacerda, repetindo o que havia sido feito em maio de 1968. No cargo de ministro da Educação do primeiro governo militar, Suplicy tentou implantar a cobrança de mensalidade no ensino superior do país. O insucesso da medida é considerado uma das únicas derrotas da ditadura ao longo de seus 21 anos.
A ação foi comandada pelo Levante Popular da Juventude e outros grupos estudantis, que jogaram tinta vermelha, colaram faixas e, por fim, derrubaram o busto. Depois, no fim da tarde, arrastaram a imagem da reitoria até a Rua XV de Novembro, da mesma forma que ocorreu em 1968.
Um grupo de militantes derrubou nesta terça-feira o busto do ex-reitor da UFPR Flávio Suplicy de Lacerda, ligado ao regime militar, e arrastou a imagem da reitoria até a Rua XV de Novembro
Segundo Alexandre Boing, estudante de História da UFPR e um dos participantes do movimento, o objetivo do ato é deixar uma marca no presente e, assim, fazer com que a sociedade brasileira lide de outra maneira com o passado. “Um agente da ditadura, que agia por dentro da reitoria da UFPR e do MEC, não merece uma homenagem, mas deve estar num museu com o devido esclarecimento de que foi a pessoa que acreditava na necessidade de privatização do ensino”, afirma o jovem.
Na chefia do Ministério da Educação entre 1964 e 1966, Suplicy foi o responsável por costurar com os EUA os acordos chamados de MEC-Usaid, que promoveram uma série de reformas no sistema educacional brasileiro. A ideia central era que a educação deveria ser um pressuposto para o desenvolvimento econômico. Uma das medidas previa a implantação do ensino pago nas universidades, que começaria pelos calouros de 1968 da UFPR. Os veteranos, porém, comandaram um boicote e 93% dos novos alunos pediu isenção do pagamento. Diante da insistência da União em cobrar a mensalidade, os estudantes tomaram a reitoria e derrubaram o busto de Suplicy. As ações resultaram no recuo do governo e o ensino superior continuou gratuito.
A intenção do Levante Popular da Juventude é ficar de posse do busto até que as comissões da verdade do Paraná e da UFPR definam o que fazer com a peça. O grupo defende que ela seja colocada num museu com a identificação de que retrata um “agente da ditadura”.
Procurado por telefone, o atual reitor da UFPR, Zaki Akel, não foi encontrado para comentar o assunto.
Fonte- Gazeta do Povo
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