Escrevo o artigo dessa semana na minha coluna do Blog Meandros da Política, por que vejo a necessidade de se fazer justiça e os devidos reconhecimentos históricos aos que de fato foram de fato os artífices da democracia e que atuaram com papel de destaque na preparação, na organização, na convocação e no desenvolvimento em si do histórico comício da campanha pelas “Diretas JÁ”, que aconteceu em Curitiba no dia 12 de Janeiro de 1984.
Nessa data histórica, no palco montado na boca maldita e sob a voz condutora, do radialista e advogado Claudio Ribeiro: Que Bradou alto e em bom tom: “Diretas Já!” acontecia na cidade de Curitiba o primeiro comício oficial da campanha nacional que pedia eleições diretas no País. De Fato o comício impulsionou nacionalmente a campanha. Extraoficialmente tivemos reuniões e agitações em outros lugares antes do comício das diretas em Curitiba, mas como agenda oficial dos partidos políticos que estavam imbuídos da ideia da abertura política imediata com a volta das eleições livres e diretas, foi aqui a primeira iniciativa.
Isso se reveste de importância histórica para nossa cidade, considerada provinciana e conservadora. Afinal o evento da luta pelas diretas começar aqui, e com força popular demonstrou que o golpe civil militar que dominou o Brasil durante o período de 1964 até 1985, quando tivemos a eleição indireta de Tancredo neves e de José Sarney no colégio Eleitoral.
Nomes da política paranaense foram decisivos para construir o sentimento político de que se em Curitiba tínhamos condições de ir para rua levantar a bandeira de que os Curitibanos homens e mulheres queriam votar para presidente, seria sinal que em outros lugares a aceitação política seria facilitada.
O processo como um todo não foi o comício em si. Existiu toda uma preparação, uma organização, uma logística que envolveu inúmeras pessoas para que o comício se realizasse, para que os personagens principais que nacionalmente construíam a viabilidade do voto diretos dos brasileiros pudesse novamente representar o que os indivíduos verdadeiramente queriam.
Entre os interlocutores precisamos fazer justiça com algumas pessoas e movimentos, por exemplo, os movimentos populares eram coordenados e organizados pelo Partido dos Trabalhadores – PT, Partido Democrático Trabalhista – PDT, Os Partidos Comunista do Brasil – PCdoB e do Partido Comunista Brasileiro – PCB que saiam das entranhas Movimento democrático brasileiro – MDB, onde se hospedaram para sobreviver politicamente e é claro o próprio Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB. Além é claro dos movimentos sociais organizados, das Centrais sindicais recém-criadas como a Central Única dos Trabalhadores do Paraná e seus sindicatos, da juventude e de suas entidades estudantis universitárias como UPE, DCE´S, Centros Acadêmicos e também União Paranaense dos Estudantes Secundaristas e suas, entidades municipais de Estudantis com os seus Grêmios estudantis, que vinham de um processo de reorganização e ainda não haviam sido novamente legalizados, mas que na prática nunca deixaram de existir.
Também do ponto vista dos personagens políticas políticos é necessário que façamos justiça aos interlocutores paranaenses como dissemos acima, pois hoje depois de 30 anos desse evento histórico na capital paranaense, ainda alguns políticos fazem referências a quem apresentou o comício das diretas, falam somente do dito locutor oficial das “Diretas Já” em Curitiba, como sendo somente Osmar Santos, famoso locutor esportivo e funcionário de uma grande emissora de televisão. E segundo consta ele teria vindo somente com a função exclusiva de apresentar o então Governador de São Paulo, Franco Montoro, que era uma das mais expressivas lideranças nacionais da campanha das eleições Diretas.
Mas o fato é que não reverencia historicamente a quem deve, segundo depoimentos de pessoas que participaram do comício, e do próprio personagem que todos reconhecem como quem foi de fato o locutor oficial comício das diretas em Curitiba que foi o radialista, advogado, poeta, Claudio Ribeiro, com sua potente voz relativamente rouca e pausada, que encantava a todos no comício com sua narrativa particular e enfática, bradando alto: “Diretas Já!”. Como descreve o próprio Claudio Ribeiro: “Romanelli como secretario do PMDB me fez o convite/intimação para ser o apresentador. O comício, realizado em 12 de janeiro de 1984 na capital paranaense, reuniu cerca de quarenta mil pessoas, sendo chamado de Campanha das Diretas Já. Na época, a maior emissora do Brasil, a TV Globo, não percebendo a importância e as consequências daquele momento histórico, omitiu o fato de que se tratava de um comício pelas eleições diretas. A partir de Curitiba, todos os comícios que assolariam as principais cidades do Brasil, quando recebiam a cobertura da Globo, ouviam a multidão gritar – O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo! –
O movimento, logo assimilado pelo povo brasileiro de norte a sul, foi atraindo mais e mais pessoas às ruas e aos comícios. Durante quatro meses, milhares de pessoas foram às ruas, pedindo para votar para presidente e pelo fim da ditadura que começou a morrer quando bradei na Boca Maldita aqui em Curitiba, ecoando para todo o Brasil: Diretas Já!”
Claudio Ribeiro é, na minha singela opinião, um dos grandes responsáveis pela empolgação das pessoas no comício, pelas palavras de ordem, pelas apresentações das atrações que animaram o evento e pela empolgação impar como apresentou os líderes políticos que discursaram nesse que foi o primeiro comício oficial da campanha por eleições diretas, livres e democráticas em nossa capital.
Tivemos a oportunidade de ouvir as histórias sobre a realização do comício, da organização, da logística do comício em si, do Próprio Claudio Ribeiro, que foi um dos convidados para oitiva pública, durante a realização da Audiência Pública Conjunta da Comissão Estadual da Verdade do Paraná, da Comissão Estadual da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil e da Comissão Da Verdade da Universidade Federal do Paraná, na mesa que coordenamos sob o título de Artífices da democracia.
Para a nós soa estranho que esses movimentos sociais e esses personagens políticos não tenham lugar na história, pois foram fundamentais para que o comício tivesse o sucesso que teve e para que os personagens políticos tivessem o reconhecimento histórico que tiveram. Pois é fundamental que destaquemos que Ulisses Guimarães era de fato o artífice principal, por que capitaneava no Brasil inteiro a iniciativa pela organização dos atos públicos, das reuniões, das assembleias e comício em nome das Diretas, não era sem motivo que ele era nacionalmente conhecido como “Senhor Diretas”.
Igualmente também cabe destacar o papel político jogado pelos ocupantes dos cargos maiores do estado naquele período, José Richa, como governador do Estado e o também reconhecido prefeito de Curitiba Mauricio Fruet, o amigo da esquina como era carinhosamente chamado, o então prefeito há época, ambos pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB. E claro que se os nomes maiores da cidade e do Estado estavam a serviço da construção do movimento a essa grande iniciativa de união nacional em torno de uma proposta que devolveria ao país a tão sonhada democracia, eles também estariam atuando como facilitadores da construção espirito da proposta em todo Paraná e em toda a capital paranaense, para que os ventos soprassem favoráveis ao desenvolvimento do projeto das Eleições Diretas, para que o movimento tivesse como teve aceitação popular na cidade e no Estado. E a prova mais cabal desse apoio que para à época o comício das Diretas levou mais de 40 mil pessoas a Boca Maldita. O que serviu para impulsionar de fato a campanha em outros locais do País.
Aqui durante o comício, Ulisses Guimarães falou citando Caetano Veloso Caetano Veloso: “O que Curitiba aprova, o resto do país delira”, demonstrando a certeza de que como o comício aqui havia sido um sucesso, a campanha pelas “Diretas Já” explodiria como um rastilho de pólvora pelo restante dos Pais.
Há trinta anos, e dois dias exatamente acontecia esse histórico comício em Curitiba e de fato seria o primeiro comício oficial de muitos outros que empolgaram no Brasil inteiro, homens, mulheres, jovens, estudantes, donas de casa, trabalhadoras e trabalhadores, camponeses, índios, enfim todos que vestiram a camisa da campanha cívica pelo direito ao voto, pelo direito a liberdade de expressão, pelo direito a democracia e a participação social na política do Brasil. Infelizmente o objetivo foi alcançado em sua plenitude, mas com certeza as multidões que mobilização o país, foram uma pá de cal nas pretensões políticas de setores conservadores da sociedade civil, militares e políticos sem representatividade de continuar a governar o país por decretos e por um colégio eleitoral ilegítimo.
Parabéns a todos os bravos lutadores que estiveram presentes no histórico comício pela volta das eleições livres, democráticas e soberanas no País, na passagem dos 30 anos de sua realização. Viva A democracia, Viva a participação popular!
Marcio Kieller
Membro da Comissão Estadual da Verdade,Vice Presidente da CUT/Pr e Mestre em sociologia pela UFPR
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