Exumação desmente informações oficiais sobre morte de Arnaldo Cardoso Rocha, da ALN

Funcionários do cemitério Parque da Colina retiram tampa da sepultura de Arnaldo Cardoso Rocha. Foto: André Vilaron - CNV

Funcionários do cemitério Parque da Colina retiram tampa da sepultura de Arnaldo Cardoso Rocha. Foto: André Vilaron – CNV

Exumação desmente informações oficiais sobre morte de Arnaldo Cardoso Rocha, da ALN

Peritos concluíram que o corpo não passou por autópsia e que havia mais projéteis na vítima que o indicado no documento de 1973

Foram exumados na manhã de ontem em Belo Horizonte os restos mortais do militante político Arnaldo Cardoso Rocha, morto pouco antes de completar 24 anos de idade, em 15 de março de 1973, por uma equipe do Doi-Codi de São Paulo, um dos principais organismos do aparato de repressão.

Arnaldo foi morto com mais dois companheiros da ALN, Francisco Emanuel Penteado, de 20 anos, e Francisco Seiko Okama, de 26 anos. A versão oficial divulgada pela polícia na época é que eles resistiram à prisão ao serem abordados pela polícia na rua Caquito, na Penha, e que dois deles morreram no local. Entretanto, testemunhos colhidos nos anos 80 apontam que, pelo menos dois deles, Arnaldo e Seiko, feridos a bala, foram colocados num carro e levados para o Doi-Codi, onde foram ainda torturados e morreram.

A exumação foi realizada por peritos do Centro de Medicina Legal da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), coordenados pelo fisiologista Marco Aurélio Guimarães, com a participação de Alexandre Pavan, da Polícia Federal, por ordem da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos a pedido da viúva de Arnaldo, Iara Xavier Pereira, mãe do filho do militante assassinado.

A diligência, a pedido de Iara, foi acompanhada pela Comissão Nacional da Verdade, que enviou o assessor André Vilaron, e pelo Ministério Público Federal, representado pelo procurador da República Sergio Suiama. Também compareceram a exumação integrantes do Comitê pela Verdade, Memória e Justiça de Minas Gerais e o deputado federal Nilmário Miranda.

OBJETIVO – O objetivo da exumação é obter mais detalhes que possam esclarecer as circunstâncias da morte de Arnaldo. O laudo necroscópico original, assinado pelos médicos Isaac Abramovitc e Orlando Brandão, atesta a versão da repressão e informa que o corpo de Arnaldo tem sete perfurações de bala. Um dos disparos transfixou a mão de Arnaldo, o que caracteriza um gesto de autodefesa muito comum quando os atiradores estão próximos da vítima, o que pode indicar execução.

Na época da morte não houve uma necrópsia independente. No dia seguinte da morte de Arnaldo, logo que soube da morte do filho pelo noticiário, João de Deus Rocha foi a São Paulo e exigiu a entrega do corpo. Este foi entregue em um caixão vincado, lacrado, apenas com uma abertura para ver o rosto (o que de fato se confirmou ontem, na exumação). Agentes do Exército acompanharam o caixão até Belo Horizonte, pois havia determinação expressa de que o caixão fosse enterrado sem ser aberto.

REVELAÇÕES – Ontem, enfim, o caixão de Arnaldo foi aberto. O corpo do militante foi coberto por água, que tomava todo o sepulcro. Esta água escorreu por frestas entre os túmulos de Arnaldo e de sua irmã, sepultada acima dele. A grande quantidade de água beneficiou a preservação do corpo.

A equipe de antropologia forense recolheu ao menos cinco projéteis do corpo de Arnaldo ontem, o que desmonta parte do laudo de exame necroscópico, que fala apenas na existência de um projétil no corpo da vítima, e que este teria sido retirado. Na exumação, ontem, também se constatou que realmente não foi feita a autópsia do corpo, o que coloca em questão os laudos necroscópicos oficiais feitos à época.

A diligência foi concluída à tarde quando técnicos extraíram amostras de DNA do pai e da mãe de Arnaldo, João de Deus Rocha (antigo líder do PCB) e Annette Cardoso Rocha, ambos nonagenários, e de uma de suas irmãs, Maria Letícia Rocha Pimenta.

Os restos mortais de Arnaldo seguiram para os trabalhos de perícia e exames de laboratório, como o exame de DNA, trabalhos que serão coordenados pela equipe da antropologia forense da USP-Ribeirão, vinculada a projeto da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), com apoio da Polícia Federal.

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FONTE:

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação

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