Comissão da Memória e Verdade da UFPR, criada por iniciativa do reitor Zaki Akel Sobrinho, realizou na última sexta-feira, 14, sua primeira audiência pública, marcada por uma homenagem ao professor José Rodrigues Vieira Neto, por ocasião do centenário de seu nascimento.
Vieira Neto, morto em 1973, professor de Direito da UFPR, teve uma destacada militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), de cuja seção paranaense foi secretário-geral. Eleito deputado estadual constituinte em 1946, perdeu o mandato um ano depois, quando o PCB foi posto na ilegalidade. Já como professor universitário, teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar em 8 de junho de 1964. No mesmo ano, em 22 de setembro, foi aposentado compulsoriamente pela UFPR.
Prestaram depoimentos sobre Vieira Neto sua filha, a antropóloga Cecília Maria Vieira Helm; os advogados René Ariel Dotti, Antonio Acir Breda, Eduardo Rocha Virmond.
Cecília Helm contou os percalços que a família passou quando Vieira Neto foi perseguido pelos militares e aposentando compulsoriamente na UFPR. “Foi tempos de penúria para a nossa família. Lembro-me também que a Cúria Metropolitana queria que Vieira Neto fosse reprovado e suas notas rebaixadas no curso de Direito. Meu pai também não participou da cerimônia de formatura em 1964”.
Rocha Virmond, advogado que trabalhou no escritório de Vieira Neto lembra que na UPFR professores evitavam conversas com ele pela proximidade que tinha com o catedrático. “Tinha professor que andava rápido para não falar comigo. Também no Dops muita coisa se falou, mas nada foi provado”.
O jurista Antônio Acir Breda detalhou uma ficha no Dops de Vieira Neto Onde constava como suas armas um estilingue e dois pacotes de bolas de gude. “São verdadeiro absurdos. Temos que contar a história desta época terrível.
A Comissão da Memória e Verdade tem o objetivo de investigar os casos de violações de direitos humanos que atingiram professores, servidores e estudantes da UFPR, durante o regime militar (1964-1985). O reitor Zaki Akel Sobrinho destacou a importância da Comissão: “Lançar a luz da verdade é nosso principal objetivo, para que possamos reescrever a história baseada em memórias corretas sobre fatos que foram distorcidos”. Na mesma direção falou o diretor do Setor de Ciências Jurídicas, professor Ricardo Marcelo Fonseca.
A audiência foi iniciada com uma manifestação da professora Vera Karam de Chueiri, integrante da Comissão da Memória e Verdade da UFPR. A Comissão tem ainda como membros os professores Pedro Bodê de Moraes, Nizan Pereira, Eduardo Salamuni, Adriano Codato, Maria Odette de Pauli Bettega e José Antonio Peres Gediel.
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