A Universidade Federal do Rio de Janeiro, em conjunto com a CNV e Comissão da Memória e da Verdade da UFRJ realizam no próximo dia 12 de maio a reintegração simbolica do estudante Jaime Leis Santiago, afastado pelo Regime Militar.
Antes do ato será proferida aula magna pelo prof. Pedro Abreu Dallari e apresentado informes da Comissão da universidade.
Saiba mais sobre Jaime Leis Santiago:
Fonte: ADUFPR – Seção Sindical
Pressionado pelas prisões políticas que ocorriam à sua volta, Jaime Santiago teve de abandonar o curso de História da universidade, em 1971. Ele militava na Organização Revolucionária Marxista Política Operária
Para sobreviver à perseguição, ele também saiu do Rio
Samantha Su. Estagiária e Redação
Jaime Santiago precisou abandonar o curso de História da UFRJ. Militante da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (ORM-Polop), ele teve sua casa invadida pelos agentes da repressão, ao final daquele ano. Um amigo, com quem dividia a casa, acabou preso. Eram os efeitos do decreto-lei nº 477 (de 1969), conhecido como o Ato Institucional nº 5 das universidades. A legislação previa a punição de professores, alunos e funcionários considerados culpados de subversão ao regime. Pressionado, Jaime resolveu, junto à Polop, sair do Rio de Janeiro para viver na clandestinidade.
Agora, o espanhol, no Brasil desde os sete anos de idade, representa o primeiro caso que a Comissão da Memória e Verdade da UFRJ (CMV-UFRJ) assumiu para implementar a política de reparação aos atingidos pela ditadura dentro da instituição. A CMV-UFRJ busca o reingresso do ex-aluno no mesmo curso de História.
Em 2003, Jaime chegou a procurar o Departamento de História do IFCS para tentar retomar a matrícula, mas não foi aceito. Segundo ele, a parte mais dolorosa da recusa não é condizente com o próprio curso: “O meu pedido foi negado porque não fui preso ou processado na época. Mas nós aprendemos na faculdade que a História não é só documental; ela é humana. Eu tinha como provar que fui perseguido, muita gente do curso me conhecia, inclusive professores da instituição, mas eu nem tive a chance de ser ouvido.” Com o passar dos anos, não quis mais voltar para a universidade. O novo estímulo veio só depois da criação da Comissão da Verdade da UFRJ, em 2013, quando foi convidado a dar um depoimento. Ali, a CMV assumiu a responsabilidade de ajudá-lo.
Jaime relembra que a reparação é simbólica: o tempo que perdeu por conta da ditadura não voltará nunca mais. Mesmo ainda não convencido a voltar às salas de aula, o ex-militante está otimista: “Eu me desiludi com o PT e com a militância sindical, principalmente da CUT, mas acho que ainda posso contribuir. Fico refletindo que gostaria de entrar em contato com a juventude para tomar fôlego e rejuvenescer politicamente”, afirma, enquanto aguarda o término do processo de reingresso, ainda sem prazo.
História do ex-militante
Jaime Santiago, após deixar a UFRJ, ganhou uma nova identidade: Luis Carlos Rodrigues Filho. Transferiu-se para Belo Horizonte, onde militou junto à célula operária. Foi em Minas Gerais que conheceu sua atual mulher, Carminda Batista Ferreira. Ela era metalúrgica e também fazia parte da Polop. Apesar da militância conjunta, só em 1977 contou a ela seu nome verdadeiro. Os dois voltaram para o Rio de Janeiro e se casaram. Em 1978, Jaime saiu da clandestinidade.
Em terras cariocas, trabalhou em diversas empresas. Mas não saiu da militância política: Jaime esteve presente nos congressos de fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e no processo de criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Tornou-se presidente da CUT-RJ na gestão 1990/1991 e Secretário Geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM- CUT), de 1991 a 1994.
Quando já tinha tempo de contribuição suficiente para se aposentar, seu pedido foi negado no INSS, por conta da incompatibilidade dos nomes durante a vida clandestina. Para solucionar o problema, em 2006 pediu anistia ao Ministério da Justiça, o que ocorreu em 2011.
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