Técnicos do órgão da Prefeitura iniciaram o trabalho na semana passada, ao recolherem livros com registros de óbitos nos cemitérios de Perus, na zona oeste, e da Vila Formosa, na zona leste. Deputados da Comissão Nacional da Verdade acreditam que os dois locais receberam corpos de presos políticos jamais encontrados pelos seus familiares. Em Perus, uma vala clandestina com restos mortais de presos políticos foi descoberta em abril de 1990.
“O trabalho consiste em digitalizar todos os livros manuscritos com referências ao sepultamento, como idade, cor da pele, características físicas. E disponibilizar esses dados para serem cruzados com outras informações de familiares e da Comissão da Verdade. Corríamos o risco de ver toda essa documentação desaparecer em poucos anos”, afirmou Afonso Luz, diretor do Arquivo Histórico.
A primeira tarefa do trabalho, segundo Luz, será restaurar os livros de sepultados. “Precisamos restituir a fibra do papel, encontrar linhas de grafia que foram rasgadas. Depois tudo será passado para um papel japonês, super fino, antes da digitalização”, acrescentou. A Comissão da Verdade acredita que cerca de 180 presos políticos na capital paulista foram enterrados com nomes falsos ou como indigentes no período do regime.
A ofensiva nos arquivos de sepultados no período da ditadura militar é a maior aposta de parlamentares e parentes de desaparecidos políticos na tentativa de encontrar as vítimas da repressão. “Nós vamos abrir esses dados para consulta de qualquer interessado. Esses dados nunca foram colocados ao público”, disse Luz.
Paralelo ao trabalho do Arquivo Histórico, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos também estuda criar uma comissão da verdade municipal, vinculada à gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Na Câmara Municipal já existe um colegiado desse tipo, criado pelo vereador Gilberto Natalini (PV), da oposição ao governo do PT.
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