Argentino acusado de ser torturador durante ditadura militar embarca de volta ao país natal

O argentino Claudio Vallejos, 54 anos — um dos principais torturadores da ditadura

Argentino Claudio Vallejos, 54 anos, era procurado da Interpol Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS

Argentino Claudio Vallejos, 54 anos, era procurado da Interpol Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS

militar de seu país e procurado da Interpol, a Polícia Internacional — embarcou para a Argentina, no Aeroporto Internacional Hercílio Luz, em Florianópolis, na madrugada desta quinta-feira. Ele foi acompanhado de agentes da Interpol.
Vallejos estava vivendo de forma clandestina no Oeste catarinense e agora, poderá ser julgado pelos crimes de tortura, homicídio, sequestro qualificado e desaparecimento forçado de pessoas, que cometeu entre 1976 e 1983, os anos de chumbo da Argentina.

Ao entregar um dos principais torturadores da ditadura militar argentina de volta às origens, a Justiça brasileira está colaborando com a tentativa do país vizinho em esclarecer um caso envolto em mistério de quase quatro décadas.

O mais emblemático deles vem do início da ditadura e envolve um brasileiro, então um célebre artista. Pianista de Vinícius de Moraes e Toquinho, Francisco Tenório Cerqueira Júnior, o Tenorinho, estava em Buenos Aires para uma turnê de shows com os companheiros, quando desapareceu misteriosamente em 1976. Nunca mais foi encontrado. Dez anos depois, em entrevista à revista Senhor, Vallejos admitiu ter participado da prisão do artista: era o motorista do carro do grupo que o sequestrou e, seis dias depois, o matou.

El Gordo, como ficou conhecido na época, também foi condenado no Brasil, onde buscou refúgio como foragido há 26 anos. Desde 4 de janeiro de 2012, estava preso por dois crimes de estelionato, nas cidades de Abelardo Luz e Quilombo – ambas no Oeste catarinense. Após se envolver em brigas no presídio de Xanxerê, ele foi levado para Lages, onde seguia detido até ontem à noite.

A entrega de Vallejos ao governo argentino foi um pedido do próprio país vizinho. Como ele estava preso no Brasil, a extradição precisou passar pela análise do Supremo Tribunal Federal (STF). O processo, que chegou a 301 páginas, levou quatro meses para ser estudado pela segunda turma do STF, até ser concedido, em 18 de setembro de 2012.

Seis meses depois, em 20 de março, o juiz da 1ª Vara Criminal de Lages, Geraldo Correa Bastos, liberou Vallejos para a extradição.

Quem é

Foragido da justiça argentina, Claudio Vallejos chegou ao Brasil em 1986.

No mesmo ano, admitiu à revista Senhor a participação na morte do pianista Tenorinho e outros civis durante a ditadura militar argentina. À época, ele integrava um grupo de tarefas da Escola de Mecânica da Marinha (Esma), onde conviveu com oficiais do porte do então tenente Alfredo Astiz, o Anjo Loiro, um dos mais temidos agentes da ditadura argentina, e o capitão de corveta Jorge Eduardo El Tigre Acosta.

À época dos anos de chumbo da Argentina, era militar do Exército argentino e atuava na Escola de Mecânica da Armada Argentina (ESMA), conhecido centro clandestino de detenção durante a ditadura.

Em 4 de julho de 1976, mesmo ano em que entrou para a marinha, Vallejos foi um dos motoristas que conduziram à Igreja de São Patrício, em Buenos Aires, um grupo de militares que assassinaram cinco sacerdotes palotinos. Seu envolvimento foi corroborado pelo testemunho do cabo da marinha argentina Miguel Balbi, em 1985.

Esteve preso desde janeiro de 2012 em SC, por crimes de estelionato no Oeste. Vallejos apresentava-se como jornalista e aplicava golpes envolvendo a venda de anúncios publicitários nunca publicados.

O sumiço de Tenorinho

O desaparecimento do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior, o Tenorinho (foto), 35 anos, é mistério. Em 18 de março de 1976, foi levado por quatro homens que o abordaram em Buenos Aires.

Tenorinho estava na capital argentina para acompanhar Vinícius de Moraes e Toquinho. Ele havia saído do hotel para comprar cigarro e um remédio.

Em entrevistas dadas uma década depois, El Gordo disse que Tenorinho foi sequestrado por ter cabelo comprido e barba, um protótipo de esquerdistas.

Fonte- Diário Catarinense

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