Comissão Nacional da Verdade assina quatro termos de cooperação no Paraná

A Comissão Nacional da Verdade assinou , durante a audiência pública em Curitiba, quatro termos de cooperação com instituições e entidades locais para auxiliar os trabalhos da Comissão. No evento também foi anunciada a composição da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Paraná, que terá sete professores da UFPR no colegiado.

Os membros da CNV presentes a audiência, Paulo Sérgio Pinheiro e José Carlos Dias, assinaram cooperações com a Comissão da Verdade da UFPR, com a Comissão da Verdade da OAB-PR, com o Ministério Público do Estado do Paraná e com o Serviço de Paz e Justiça (Serpaj) do Brasil.

“Fico emocionado em ver a mobilização que a Comissão Nacional da Verdade está gerando. É a magia da CNV. Ao assinarmos quatro termos de cooperação com a sociedade civil provamos que a Comissão Nacional da Verdade está cumprindo seu trabalho de sensibilizar a sociedade”, afirmou o membro da CNV José Carlos Dias, ex-advogado de presos políticos.

À tarde, durante a audiência, o público recebeu com uma salva de palmas a notícia de que a Assembleia Legislativa do Paraná havia aprovado, sem emendas, projeto de lei do executivo, que cria a Comissão Estadual da Verdade. Com a medida, o Estado é o sétimo a ter uma comissão da verdade. Já há congêneres da Comissão Nacional em São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Alagoas, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Além de acompanhar a assinatura dos convênios, o público teve a oportunidade de ouvir pela manhã os depoimentos de quatro ex-integrantes do movimento estudantil paranaense. Ex-alunos da UFPR e da antiga Universidade Católica (atual PUC), eles contaram episódios da repressão, como a prisão de estudantes no episódio conhecido como Chácara do Alemão, o cerco à UFPR, a prisão de mais de 40 paranaenses no Congresso da Une em Ibiúna, prisões ilegais, tortura e as pesadas condenações estabelecidas pela Justiça Militar.

“Fui condenado a quatro anos de prisão por participar de uma reunião”, contou Vitório Sorotiuk, preso quando participou do Congresso da Une, em Ibiúna. Ele relatou também que tomou posse no DCE da UFPR no palco do teatro da reitoria. “Era uma peça e, no meio dela, foi feito o anúncio solene. Eu estava com prisão preventiva decretada e a reitoria me impedia de tomar posse formalmente”, disse.

Esta foi a sétima audiência pública da Comissão Nacional da Verdade pelo país e a primeira realizada na região sul. Além da UFPR, participou da organização do evento a sociedade civil, por intermédio do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, que congrega representantes de mais de 40 organizações.

Ele contou que seu último julgamento de presos políticos foi no Paraná. A abertura já começava e os advogados acreditavam que os militantes que defendiam, presos por editar um jornal oposicionista em Foz do Iguaçú, seriam absolvidos. Dias combinou com os réus que se houvesse a absolvição todos se levantariam e cantariam o Hino Nacional. “Foi assim que encerrei minha atividade de advogado de presos políticos: cantando o Hino Nacional no Paraná”, relembrou, emocionado.

EMOÇÃO E PESQUISAS – A Guerra de Porecatu, série de conflitos entre posseiros contra latifundiários e a polícia, o massacre de Medianeira, que contou com a colaboração de agentes argentinos, em 1974, numa espécie de operação pré-Condor, e a Operação Marumbi, realizada para desarticular o PCB no Paraná foram os temas abordados à tarde.

O professor Angelo Priori, da Universidade Estadual de Maringá, apresentou dados da pesquisa que resultou no livro “O Levante dos Posseiros”, que conta a história da Guerra de Porecatu, levante de camponeses ocorrido entre 1942 e 1952 contra a opressão de latifundiários que contrataram jagunços e policiais para humilhar, torturar ou matar posseiros para expulsar as famílias de suas terras.

O período está dentro das atribuições da Comissão e, segundo Paulo Sérgio Pinheiro, o caso deve receber a atenção como exemplo de grave violação de direitos humanos ocorrido no período democrático que antecedeu o golpe de 1964. Segundo levantamento de Priori, dez camponeses foram mortos no período mais acirrado do conflito, sendo 5 deles com características de execução em 10 de outubro de 1950. Depois do Priori, outro professor da UEM, Reginaldo Benedito Dias, apresentou informações sobre a história da Ação Popular (AP) no Paraná.

O professor Júlio César Manso Vieira, contou como, aos 14 anos, subiu numa cerca do QG da PM do Paraná, de onde viu o pai e outros presos políticos detidos na Operação Marumbi em um estado deplorável. “A imagem era aquela do imaginário do que seria um campo de concentração. Todos estavam muito magros, não podiam utilizar próteses dentárias, seguravam as calças com as mãos, todos alinhados, perfilados. Eu não vi meu pai ser torturado. Eu vi o que a tortura fez com o meu pai”, contou. O irmão de Júlio, Ildeu Manso Vieira Júnior, foi preso com o pai quando tinha 17 anos e testemunhou as torturas sofridas pelo integrante do PCB. Emocionado, ele teve dificuldades para concluir seu relato.

O jornalista Roberto Elias Salomão fez uma apresentação sobre o Massacre de Medianeira, baseada na obra “Onde Foi Que Vocês Enterraram Nossos Mortos?”, de Aluizio Palmar, que conta como os militantes da Vanguarda Popular Revolucionária exilados na Argentina foram atraídos de volta ao país pelas falsas promessas de um agente infiltrado. O massacre ocorreu com a colaboração de agentes argentinos, num arremedo do que viria a ser a Operação Condor, oficialmente implantada em 1975.

Paulo Sérgio Pinheiro afirmou que todas as reivindicações da sociedade civil paranaense sobre a apuração do massacre de Medianeira devem ser atendidas pela Comissão da Verdade (o comitê local pede a continuidade das buscas pelos corpos). Ele também defendeu a inclusão do caso do Massacre de Porecatu no relatório.

Fonte- Comissão da Verdade

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